Situações desesperadas, nos levam a medidas desesperadas, certo? Pelo menos era isso que eu dizia para mim, tentando me convencer que não tinha o luxo de recusar qualquer oferta de emprego que fosse.
Explicando minha situação em partes, eu era um recém-formado, desempregado e entrando em um pré-estado de desespero. Havia sido demitido a algumas semanas, estava vivendo de bicos mas queria algo fixo, apesar de não ser muita coisa o que ganhava antes, era o suficiente para a minha suposta independência, mas mais do que o salário, eu amava trabalhar no estúdio no qual eu era estagiário, não estava esperando que logo ao fim da minha especialização em maquiagem, em vez de um emprego definitivo, ganharia um pé na bunda e apenas um "não é pessoal, amamos ter trabalhado com você".
Sempre gostei de ter algo para fazer, sempre mergulhei de cabeça em tudo, desde uma coisa simples, como fazer a limpeza semanal de casa, ao meus trabalhos mais complicados, onde era necessário horas para maquiar apenas um modelo. Por isso que agora, sem nada para fazer, eu apenas me encontrava perambulando de meias e pijama pelo meu apartamento — que foi um presente dos meus pais por ter completado a faculdade — com uma xícara de café em uma das mãos e o notebook aberto, enviando meu currículo aos estúdios com vagas, na esperança de um deles realmente ver as fotos do meu trabalho.
Ray, meu melhor amigo de longa data, gostava de jogar na minha cara o quão "filhinho de papai" eu poderia ser, e que por mais que eu lutasse para quebrar esse estereótipo, eu nunca conseguiria, então no dia que perguntei por que — há uma semana atrás, para ser mais específico — ele apontou para minha situação e disse que eu não precisaria estar correndo tanto atrás de um emprego, já que era apenas necessário uma ligação e eu teria minhas contas do mês pagas. Era exatamente por isso que eu estava correndo tanto atrás de um trabalho, não queria ficar correndo para o colo dos meus pais sempre que precisasse, eles tinham uma boa condição, eu tinha apenas um apartamento e uma faculdade completa, e toda vez que dizia isso a Ray, ele me chamava de idiota por não aproveitar da minha situação financeira.
— Sabe que não precisa prestar esse papel, não sabe? Cara, você tem dinheiro! Esquece isso… — o cacheado fala se apoiando no balcão que dividia a cozinha da sala — O cara é um babaca.
— Eu não sabia que era ele quando aceitei a proposta… E já falamos sobre isso, Ray — digo enquanto termino de arrumar alguns pincéis dentro da maleta — Meus pais tem dinheiro, eu só tenho isso aqui.
O garoto me encara com aquele seus olhos julgadores, e dou de ombros terminando de arrumar minhas coisas. Ele se aproxima da mesa onde eu estava, enquanto puxa uma das cadeiras para se sentar, rouba um gole de café da minha xícara.
— Devia ser menos… — ele se detém ali, procurando a palavra certa para dizer, levanto os olhos para encará-lo e com um sorriso travesso completo sua frase.
— Independente?
— Orgulhoso — retrucou cruzando os braços, logo em seguida encostou suas costas no apoio da cadeira.
— Eu só vou maquiá-lo para um um simples vídeo, Ray! Não é como se eu tivesse me tornado o maquiador particular dele! — respondo bufando e vou até a sala buscar o resto dos pincéis e maquiagens.
Posso vê-lo revirar os olhos para mim. Ele estava assim desde que contei o que e em quem iria fazer. Era uma longa história, que nem mesmo eu sabia como ela aconteceu, mas em partes a culpa era minha. Minha por ter me apegado àquilo tudo, e dele por ter me deixado fazer isso.
— Tanto faz, só que dessa vez não vou ficar recolhendo os pedaços do seu coração por causa do babaca Iero — ele diz tomando posse do meu café.
Fico quieto enquanto coloco as maquiagens no lugar, eu sabia para o que eu estava indo, fazer um bom trabalho visual para um clipe, como o maquiador que eu era, sem especulações, ou qualquer outra coisa. O que aconteceu antes, era uma memória, assim como eu, apenas mais uma memória na vida do homem de olhos verdes âmbar, que em pouco tempo deixou aquele estúdio de pernas pro ar e meus sentimentos também, será que ao menos ele se lembra de mim?
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In our Faces •One Shot•
Fanfiction"Gerard se sentia apenas uma memória na vida do homem de personalidade pertinente, tão sonhador que estava disposto a largar tudo para sempre recomeçar." Frank sonhava alto, queria o topo das paradas e sua arte divulgada para todos aqueles que quise...