Capítulo 1 - Déjà Vu

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_ Algo muito estranho aconteceu esta noite... Eu tive um sonho muito real.- fica em silêncio.

_ Gostaria de compartilhá-lo?

_Sim... estou pensando... Parecia tão real. Eu estava em um estacionamento e vi uma van cinza, com um farol traseiro quebrado – ri meio nervoso – parecia uma cena de filme sabe? Um cara com uma máscara preta tira uma mulher desacordada da van. E ele a leva para o prédio abandonado. Eu vi, eu lembro da cara dela!

_O sonho parece ter te impressionado. O que esse sonho significa para você?

_ Sinceramente, eu não tenho ideia Cláudio.

_ Na próxima sessão poderemos falar sobre ele se quiser. Nossa sessão de hoje está chegando ao fim...

_ Tá bem.

A sessão chegou ao fim. João desceu as escadas meio zonzo. "Droga, deveria ter contado sobre o sonho no início da sessão".

O rapaz fazia psicoterapia havia alguns anos. A depressão tinha roubado-lhe toda a centelha de vida que possuía até ter encontrado, por acaso, o psicólogo Cláudio Fontana. Hoje em dia, João sentia-se melhor. Trabalhava como vendedor de calçados e estudava psicologia. Tudo corria bem.

Ao cair da noite, o rapaz chegou a faculdade. Foi direto à biblioteca, queria pegar alguns livros sobre psicanálise. Curtia muito estar na faculdade, mesmo que pagá-la significasse gastar todo seu salário de vendedor. Sentia orgulho do patamar em que se encontrava, já que há alguns anos, era apenas um cara desempregado, que nada mais fazia a não ser sentir pena de si mesmo.

Após o final da última aula, saiu conversando com dois colegas da sala, mas logo se despediram e, de repente, um déjà vu: a van do sonho. "Até o farol quebrado! Que loucura! Devo estar vendo filmes demais..."

Balançou a cabeça, como que querendo despertar de um sonho ruim e foi para sua casa, imerso em seus pensamentos. "Preciso dormir mais cedo...descansar ao máximo para o estágio amanhã." Mal chegou em casa e correu para o chuveiro. Durante o banho ainda lembrou do sonho, que parecia-se a esta altura, com uma daquelas músicas que não saem da cabeça.

"Minha nossa! Qual o significado disso?! Já tive sonhos tão piores do que este..."

Enquanto se enxugava, recordou-se de uma fase horrível de sua infância em que sonhava com corpos sem vida jogados nos mais variados lugares. Seus pais acreditavam que o que lhe causava este problema eram os filmes violentos aos quais assistia. A proibição a esses tipos de filme pareceu solucionar o problema, levando João a gostar, até hoje, de animações.

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