A cidade que nunca dorme

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19 anos depois...

–Connor, você vai se atrasar se não sair em 5 minutos! —A voz de uma mulher berrou com autoridade no andar debaixo da casa. Da mansão. A mansão dos Mclains. Um orgulho patriota de Manhattan.

Todo o ambiente era cercado de um luxo encantador. O mármore branco predominava maior parte da casa, assim como diversas obras de artes. E a mulher parada aos pés da escada, era deslumbrante. Ornamenta por joias e um semblante intimidador.

Desculpe-me, precisava finalizar detalhes em meu projeto. — Connor Mclain era dono de uma beleza única. Seus olhos acinzentados eram uma raridade da genética. A pele pálida e os cabelos pretos como Ônix ressaltavam ainda mais a formosura do rapaz. Por debaixo de toda aquela beleza, escondia-se um jovem de uma calma e equilíbrio inabalável. Uma prepotência afiada e mortal. Ele era um prodígio de sua geração. –Onde está meu pai, Naomi? — Ele ocultou em seu semblante neutro a decepção de uma resposta que já esperava.

–Seu pai não poderá vim, Connor, ele tentou o máximo que pode, mas está em uma palestra muito importante, essa convenção trará grandes benefícios a nossa família. — A madrasta tão cautelosamente apoiou a mão no ombro do rapaz, aliviando a tristeza que ela sabia existir. Uma relação conturbada. –Mas se serve de consolo, estarei a todo momento ao seu lado. Além do mais, fiz questão de chamar Alisson para nos acompanhar.

Alisson Aldobrandini. Uma garota extremamente egocêntrica e mimada. Crescida em uma das famílias mais bem sucedidas e com origens italianas. Também conhecida como a ex namorada de Connor Mclain. O olhar do jovem foi de total reprovação, mas era aristocrata demais para desfazer o convite. Por tantas vezes ele se perguntou como sustentou aquele namoro. A farsa de um casal perfeito.

–Você não deveria ter feito isso sem me consultar. E por favor, tire da cabeça essa ideia de tentar me juntar com Alisson novamente... — O rapaz saiu andando apressadamente, sem esperar que sua madrasta o seguisse.

–Connor, apesar do vexame que você fez Alisson pagar terminado com ela na véspera do aniversário de namoro de vocês, ela está disposta a te perdoar. E deveria saber que ela é uma garota exemplar, de bom gosto e de berço. Vocês formariam uma família magnífica, juntariam nossas casas e trariam glória para nossos nomes. — Ele parou, olhando para Naomi com um olhar acusatório e reprovador. Connor era ambicioso, mas não se importava com dinheiro. Conhecimento era seu objetivo, mas principalmente, ser o melhor. Para agradar um pai que tão raramente encontrava.

                            ❈

–Eu não tinha dúvidas que o primeiro lugar séria seu, Concon. Sua inteligência sempre foi e sempre será a qualidade que mais admiro. Fora outros dotes... — Malícia brilhou nos seus olhos azuis. Alisson era, em todos os requisitos, a típica garota americana. Seus cabelos longos e loiros causavam inveja em muitas garotas, ela era linda. Havia nela uma classe e elegância sem igual.

–Obrigado, Alisson... —  Um certo distanciamento se fazia presente na voz de Connor. Mesmo vencendo o primeiro lugar em uma feira internacional de jovens empreendedores. Ele não estava feliz. Era apenas mais um título para sua coleção. Algo gritava no peito de Connor. Como se estivesse incompleto. Algo lhe faltava e duvidava que qualquer dinheiro do mundo pudesse completar esse vazio existencial. –Eu preciso ir ao banheiro, se importa de acompanhar Naomi até o carro?

–Sério que você está me perguntando isso? — Ela sorriu com um breve deboche –Naomi é como uma mãe para mim, fora que é uma ótima conselheira. Sem contar que é a que mais torce para nosso retorno depois de mim... — Alisson se aproximou de Connor como uma predadora. Bela e fatal. –A não ser que precise de ajuda no banheiro, para algo mais particular, apenas para relembrar os velhos tempos...

–Apenas amigos, Alisson, não se esqueça! — Ele se afastou daquele par de unhas pontiagudas calmamente. –Não demoro encontrar vocês.

Já farto de todo aquele teatro, Connor se distanciou para pôr a cabeça no lugar. Ele não sabia por quanto tempo mais aguentaria aquilo. Aquele não era seu mundo. Mesmo sendo criado daquela forma, nunca se sentiu igual aos demais. Dinheiro e fama nunca lhe encheram os olhos. Tudo que queria naquele momento era se tornar o melhor, mais esperto e nomeado jovem empreendedor. Fazer com que seu pai sentir orgulho.
Já dentro do banheiro vazio, Connor aproximou-se da pia e com as mãos em forma de concha, encheu-las de água e levou ao rosto. Paz. Ele daria tudo por um momento de paz...
Encarando seu reflexo no espelho, o jovem sentiu seu pulso queimar por debaixo da blusa, como se um pedaço de brasa viva estivesse sendo fixada alí. Ele arqueou de dor, desabotoando a manga rapidamente. Seu pulso brilhava em um clarão vermelho e a dor aumentava ainda mãos. Estava insuportável. De joelhos no chão o rapaz abafou um grito, se levantou ao tomar fôlego e tentou neutralizar a ardência com água gelada da torneira. De nada adiantou.
Aos poucos a dor foi se afastando e no pulso que queimava uma coruja preta como carvão foi tatuada. Ele tinha outras tatuagens, mas nenhuma foi feita daquela forma tão surreal e inacreditável. Certamente um delírio de seu cérebro exausto. Pensou ele por meros segundos. Se não fosse pela dor que ainda estava ali, ele não acreditaria. Não havia explicação óbvia para o que acabou de acontecer. Não. Ele não podia está enlouquecendo. Após abotoar a manga da blusa, ele saiu em rapidamente daquele banheiro, decidindo não comentar nada do que aconteceu. Reafirmando para si mesmo que estava delirando. Foram meses incansáveis se dedicando ao seu projeto, certamente sua mente estava exausta.

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Sobre os prédios altos de Nova Iorque, dois seres de áureas incandescentes conversavam. A mulher de cabelos negros e o homem de cabelos loiros como o sol encaravam a cidade que brilhava lá embaixo, acelerada e sem descanso.

–O que você está planejando, irmã? Vi a forma que marcou aquele garoto mais cedo. Há meses você está circulando essa cidade, se misturando entre os mundanos. Você não faz nada por acaso... Achei que fosse participativo em suas jogadas, mas pelo que me parece está criando seu próprio jogo. — O jovem não era humano. Aquela beleza não tinha um único traço mortal. Seus músculos pareciam ser esculpidos detalhadamente, e aquele sorriso acusatório era uma flecha certeira.

–Não tenho obrigação de falar cada passo meu, Apolo. Apenas saiba que sua profecia está prestes a se cumprir, devemos preparar as legiões e preparar os outros. Em breve a guerra baterá em nossa porta!

Legados - A escolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora