Capítulo 1

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Colin podia sentir suas pálpebras se fechando. Pouco importava que tivesse tomado um monte de café naquela manhã, parecia impossível passar por uma daquelas horríveis reuniões de orçamento sem cair no sono. Era uma espécie de teste de vontade perverso e impossível que a Companhia tinha inventado para torturar os chefes de departamento. Durante três horas — se fosse otimista — a cada mês, todos eles ficavam presos em uma sala de conferências mal iluminada e eram forçados a ouvi o homem mais chato da face da terra falando sobre relatórios trimestrais, dividendos, e todas as outras modalidades de tédio.

Ele lutou para manter a cabeça erguida, os olhos abertos. Mas foi inútil. Nunca havia estado tão entediado em toda sua vida. Até as aulas do seu antigo professor de história — que era tão velho quanto a própria história e mal conseguia falar mais alto que um sussurro sem dar a impressão de que estava prestes a enfartar — pareciam o ápice da diversão em comparação.

Talvez se ele parasse de lutar, talvez se cedesse por apenas alguns segundos...

Algo pontudo cutucou Colin na coxa e ele despertou com um sobressalto, pulando no assento. Todos os olhos se voltaram para ele, incluindo os de Otto Tremblay, o analista-chefe financeiro.

— Algum problema, senhor Dobyne?

— Hm, não — disse Colin, sentindo o rosto esquentar de vergonha. Ele estendeu a mão para os papéis a sua frente e começou a folheá-los. — Desculpe. Por favor, prossiga.

Tremblay olhou como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, mas em vez de repreender Colin por sua falta de profissionalismo, voltou para seu gráfico e continuou seu plano maligno de entediar as vítimas até a morte.

Quando a atenção se desviou dele, Colin virou-se para encarar a mulher ao seu lado. Eva Ivashkova estava olhando para Tremblay como se nunca tivesse ouvido falar nada mais fascinante do que a percentagem crescente de fundos da Companhia sendo desviados para os serviços de zeladoria.

Lentamente, seus olhos deslizaram para o lado e encontraram os de Colin. Ela piscou.

Aos vinte e sete anos, Ivashkova não era a chefe de departamento mais jovem da história da empresa. Essa honra pertencia ao próprio Colin, que tinha sido promovido a chefe do Jurídico com a tenra idade de vinte e seis, quatro anos atrás. Ela era, no entanto, a mais jovem chefe que o Departamento de Relações Públicas daquela empresa já tinha visto. Colin supunha que todo o tempo que ela passara fofocando na escola havia lhe dado uma certa vantagem quando se tratava de lidar com pessoas.

Ela só ocupava o cargo durante os últimos seis meses, e além destas e algumas outras reuniões esporádicas, Colin ainda não tinha trabalhado diretamente com ela. Quando soube da sua promoção, ele tinha ficado apreensivo. Lembrou-se de como ela era aos dezessete anos — irresponsável, festeira e mimada — e imaginou que chegaria na reunião com um vestido curto de festa, uma garrafa de bebida na mão, um cigarro entre os lábios perfeitamente vermelhos e exigindo desagradavelmente que todos se curvassem às suas vontades.

Mas surpreendentemente, ela não tinha. Eva tinha aparecido para sua primeira reunião, tomado seu assento, e ouvido obediente e impassivelmente durante todo o tempo. Depois, ele até a viu rir com Gerard Blake, o diretor de marketing. Nas semanas seguintes, Colin pressionou os outros chefes de departamento para saber as impressões que tinham dela, esperando ouvir que ela tinha sido terrivelmente rude ou insubordinada em algum momento.

Em vez disso, todos eles disseram muito do mesmo: ela era um pouco atrevida, mas inteligente, e fazia bem seu trabalho. Contra todas as possibilidades, Ivashkova parecia ser bastante popular entre seus colegas.

Um ronco alto do outro lado da mesa interrompeu a relativa calma da sala. A cabeça de Greta McKinley, do RH, pendia para frente e baba brilhava no canto da sua boca.

Tremblay suspirou.

— Tudo bem, vamos fazer uma pausa de cinco minutos para um café.

Quebrando o TédioWhere stories live. Discover now