Passamos um tempo nos olhando, até que eu vejo surgir um sorriso nos lábios dela.
Viviane: Conta comigo. - Eu sorri.
Sou assim, nunca fui de fugir de problemas, bato de frente. Sou advogada para isso.
No início a conversa surgiu tímida, mas eu contei minha história para ela, não toda, mas contei das minhas batalhas e que sempre fui independente.
Ela me contou que namora o Mota, o homem de confiança do irmão. E que não foi criada pela mãe, que está sempre onde o pai está.
Contou também sobre a rixa com a Carol.
Viviane: Ela é uma puta interesseira.
_ Para mim ela é uma boa amiga.
Viviane: Deve ser porque acha que tu não apresenta riscos, falando nisso, ela sabe que tu tá com meu irmão?
_ Não sou de explanar meus relacionamentos por aí Vivi. - Ela riu.
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Continuamos selecionando algumas roupas, enquanto me contava que o irmão deu essa loja para ela, já que não queria fazer faculdade, a loja era maravilhosa, várias marcas boas e looks lindos.
Viviane: Vinicius e o Victor foram os únicos que fizeram faculdade. Depois que meu pai caiu, ele pegou a responsabilidade para si, lembro que foi bem complicado na época. Me criou como um pai. Já o Vitor só pensa em gastar, ele está pouco se fodendo para essas Maria Band que aparecem. - Confidenciou mais um pouco da sua história.
_ Vítor?
Viviane: O irmão do meio, aquele que saiu com a Carol no dia do pagode.
_ A sim.
Viviane: O Vini assumiu o lugar do papai no comando também, ainda bem que ele é mais cabeça sabe. Tu como advogada dele deve saber disso, é mais centrado, não é emocionado. Ele fala que quando o papai ganhar liberdade que vai entregar tudo e vai sumir dessa vida.
Já havia separado um monte de roupas, sapatos também porque não estou morta.
A conversa estava cada vez mais animada quando nos sentamos.
Vinícius chegou com algumas sacolas e dois refrigerantes.
Nos olhou espantando, provavelmente não entendendo o porquê os risos.
Vinícius: Qual foi?
Viviane: Nada, estamos colocando o papo em dia.
Vinícius: E essas sacolas aí. Eu lembro de rasgar uma blusa e uma saia. E uma calcinha também.
Viviane: Vai dar uma de pão duro agora?
_ Lindo, eu gostei das roupas e vou levar, e já que me estressou hoje, você vai pagar.
Fui até ele e peguei as sacolas, vi que tinha vários lanches e já comecei atacando. Enquanto ele entregava o cartão pra Vivi, nem sei quanto deu a compra e não estava nem aí pra isso, ouvi ela falar.
Viviane: Eu gosto dela, vê se não faz merda. - Ele sorriu e olhou pra mim.
Gosto dela também, é bem protetora com quem ama.
Ficamos lá conversando sobre coisas atuais e do passado, nem vi a hora passar.
_ Tenho que ir. Amanhã ainda trabalho.
Vinícius: Ué, mas você não vai pro escritório só na terça?
_ Sim, amanhã é o meu trabalho de verdade.
Vinícius: Onde?
_ Higienópolis, amanhã eu trabalho em casa de família.
Eles me olharam espantados, e tive que contar porquê trabalho em casa de família e mesmo terminando a faculdade e estagiando na área ainda não sai de lá.
Viviane: Porra Vini, casa com ela.
Eu ri do seu comentário. Muito boba.
Normalmente as pessoas distorcem a cara mostrando desgosto com essa minha realidade, mas quem tem que aceitar sou eu.
Vinícius: Dorme lá em casa, te levo de manhã.
_ Vinícius...
Vinícius: Só dormir só.
Eu fiquei séria, não quero que ele se iluda que essa história vá se prolongar. Também não quero me iludir com isso.
Ele recolheu as sacolas dos lanches e jogou no lixo, depois pegou as minhas sacolas de compras e colocou no porta malas do carro. Uma moto apareceu logo atrás.
Viviane: Amor.
Mota: Fala vida.
Se beijaram, eu acertei quando disse que eles tinham muito amor envolvido.
Mota: E aí irmão. - Fez um toque com o Vinícius. - Cunhada.
Dei um aceno de cabeça, e meu coração gelou. Acho que essa história está indo longe demais, preciso frear urgente.
Mota: Tá resolvido. Pará na quarta.
Vinícius: Suave irmão, tô indo pro condomínio descansar. Amanhã conversamos.
Mota: Não vai ficar na favela?
Vinícius: Não, tô indo pro apartamento.
Mota: Tendeu. Bora vida.
Viviane: Vamos. - Ela subiu na moto junto com ele.
Vinícius: Vamos. – Me chamou entrando no carro e eu entrei junto.
_ Vinícius, acho melhor me levar para casa.
Vinícius: Porque? Vamos pro meu apartamento lá em Perdizes mais perto do teu trabalho.
_ Não tem necessidade, é longe daqui. Eu já estou acostumada a pegar trem de manhã.
Vinícius: Bora bruxinha, te levo sem problemas.
Não tinha como fugir, estava ficando sem argumentos para escapar sendo educada. Ele foi gentil comigo, mesmo me tirando do trabalho.
Fui seria a viagem inteira. Não trocamos uma palavra.
...
Assim que chegamos no prédio vi a grandeza, fiquei impressionada.
Não entendi, ele com um apartamento desse vivendo em favela.
_ Muito bonita sua casa.
Vinícius: É bonito, mas eu prefiro a minha favela, lugar onde eu cresci. E meus irmãos também.
Estava admirando o apartamento. Todo decorado nos mínimos detalhes.
Eu subi com uma sacola apenas para eu poder me trocar de manhã.
Vou ter que sair escondida e fugir para ele entender que não estou afim de me relacionar com ninguém.
_ Onde posso tomar um banho, preciso dormir cedo.
Vinícius: Vem, vou te mostrar meu quarto.
_ Não Vinícius, me leva para um quarto de hóspedes.
Vinícius: Porque? Eu sei que tu precisa dormir, não vai rolar nada não. Só vamos dormir.
Eu acenei com a cabeça. Sei que estou sendo uma cadela, mas preciso me afastar.
Entrei no banheiro e tranquei a porta. Tomei meu banho tranquila e depois coloquei uma nova blusa dele e uma cueca, ele ficou me olhando não falando nada.
Fui até a cama puxei as cobertas e me deitei.