A NOTÍCIA correra a cidade; o vigário, o farmacêutico da casa, o mé-dico, todos mandaram saber se era verdadeira. O agente do correio que a lera nas folhas, trouxe em mão própria ao Rubião uma carta que viera na mala para ele; podia ser do finado, conquanto a letra do sobrescrito fosse outra.
-Então afinal o homem espichou a canela? disse ele, enquanto Rubião abria a carta, corria à assinatura e liaBrás Cubas. Era um simples bilhete:
O meu pobre amigo Quincas Borba faleceu ontem em minha casa, onde apareceu há tempos esfrangalhado e sórdidofrutos da doença. Antes de morrer pediu-me que lhe escrevesse, que lhe desse particularmente esta notícia, e muitos agradecimentos; que o resto se faria, segundo as praxes do foro.
Os agradecimentos fizeram empalidecer o professor; mas as praxes do foro
restituíram-lhe o sangue. Rubião fechou a carta sem dizer nada; o agente falou de uma cousa e outra, depois saiu. Rubião ordenou a um escravo que levasse o cachorro de presente à comadre Angélica, dizendo-lhe que, como gostava de bichos, lá ia mais um; que o tratasse bem, porque ele estava acostumado a isso; finalmente que o nome do cachorro era o mesmo que o do dono, agora morto, Quincas Borba.
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Quincas Borba
RomanceQuincas Borba trata da vida de Rubião, amigo e enfermeiro particular do filósofo Quincas Borba - personagem descrito em obra anterior de Machado, Memórias póstumas de Brás Cubas -, de quem herda toda a fortuna. Ao trocar a vida provinciana pelo bulí...