prólogo

212 36 8
                                    

▪▪▪

"A pior parte de ter agorafobia é que, embora você tenha um desejo irrefutável de sair, de ir para qualquer lugar, é que seus pés não deixam você fazê-lo. Em hipótese alguma. Eu sequer me lembro, Loki, de quando foi a última vez que vi algo do lado de fora. Então, talvez seja fácil imaginar porque a realidade virtual, verdadeiramente, abre algumas trocentas portas para alguns trocentos mundos."

Olho para o homem a minha frente e solto o fôlego, vendo-o remexer-se em sua cadeira com cuidado enquanto me esforço para ficar um pouco quieto.

"Você ensaiou isso, não ensaiou?" Loki olha pra mim com uma das suas sombrancelhas erguidas e com seus braços cruzados no peito.

Murcho um pouco. Droga.

"Foi tão óbvio?"

"É, foi. Você disse a mesma coisa na nossa primeira consulta. E na segunda. E na terceira."

"É que eu achei que você não tava ouvindo. Mas, aproveitando a oportunidade de você precisar manter sigilo sobre tudo que eu falo, eu tenho um problema real dessa vez."

"Sua fobia é um problema real, Louis."

"Shh, shh, shh. É melhor que isso, Loki."

"Meu nome é Tom."

"Que seja."

"Qual o problema?"

"Eu estou apaixonado."

"E...?"

"Às vezes eu me pergunto porque a Charlotte insiste tanto que eu fale com você." Reviro os olhos, ficando com as pernas cruzadas em cima da poltrona. Imagino alguém assinando sua carta de demissão — é meu prazer mundano. "O problema, Loki, é que ele está prestes a morrer. E, aparentemente, eu posso salvá-lo."

"E como você planeja salvá-lo?"

"Jogando." 

O homem de olhos verdes me encara. Ele sempre tem essa expressão esquisita de como se pudesse ver através dos neurônios do meu cérebro — o que é muito assustador, de verdade.

Abaixo as pernas, puxando uma bolinha de papel da lixeira.

"Foi uma frase de impacto ótima, não foi?" Respiro fundo. Ok. Lá vai. Acho que consigo fazer isso. "Então, a única parte ruim disso tudo é que eu também preciso sair de casa. E, segundo boatos, você pode me ajudar com isso."

Loki me dá, pelo menos, o prazer de parecer surpreso. É quase divertido, mesmo por cima de todo pânico que estou sentindo. Quero que me deixe tentar.

"E para onde, exatamente, você planeja ir?"

Ele me olha quase como se fosse um desafio. Eu também me olho quase como de fosse um desafio. Fazem quase oito anos que eu não saio de casa. O que é sem dúvidas um péssimo sinal para o que estou prestes a dizer. Me faz quase querer dar dois passos para trás antes que eu me lembre da voz de Harry contra a minha orelha. E do seu rosto. E de como ele realmente precisa de mim agora.

Jogo a bolinha de papel na testa de Loki quando falo:

"Para o outro lado do país."

Game Over | L. S. Onde histórias criam vida. Descubra agora