Prólogo

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Tinum, Yucatán – México - 1917.

Enquanto percorria a trilha de mafumeiras altas, Samuel Cliff se deliciava com as maravilhas naturais do antigo sítio arqueológico de Chichen Itza. A trilha o levava diretamente a floresta de pedras, recheadas de histórias que lhe aguçavam a curiosidade.

Ele estava ansioso e se sentindo aventureiro, havia visitado as pirâmides naquele dia mais cedo, mas não conseguiu aproveitar os monumentos, uma vez que a quantidade de turistas que ali transitavam, não lhe permitira ter uma experiência completa como precisava.

Em sua mochila, ele carregava alguns materiais de trabalho. Precisava extrair algumas lascas de pedra para sua pesquisa e registrar os desenhos arcaicos e rebuscados deixados pelos antigos Maias. A lua cheia e brilhante, lhe fornecia luz o suficiente para guiar seu caminho, além do fato de que a guarda mais próxima ficava a vinte quilômetros dos monumentos, com um monitoramento fraco deste, ele poderia aproveitar o que aquele lugar tinha a oferecer, concluir sua pesquisa e se tornar reconhecido em Havard.

Ele se aproximou lentamente por entre a floresta e vislumbrou as construções de pedras, ainda mais belas sob o luar. Caminhou de forma cautelosa e aproveitou para se embrenhar entre a Floresta de Mil Colunas, ocultando sua presença, até finalmente chegar ao lado sul e caminhar para o Templo Dos Guerreiros, o foco de suas pesquisas.

Sam observou os degraus de pedras estreitos, sem ainda poder avistar o topo, começou a subir um por um da forma mais rápida que conseguia, já que a subida era íngreme e um pouco vertiginosa. E foi só quando chegou na metade da escadaria é que percebeu uma parca iluminação vindo do topo do templo, algumas vozes faziam se ouvir, todas falando um idioma rebuscado e que Sam, não compreendia.

Ele recuou alguns degraus e cogitou continuar subindo e correr o risco de ser visto ou voltar na outra noite e tentar novamente a sorte. Sua decisão foi tomada, ao ouvir um rufar de tambores e as vozes se exaltando ainda mais. As palavras de tão estranhas e bruscas, lhe causaram arrepios. Sam resolveu não correr o risco de atrair atenção para si, sabia que algumas poucas tribos ainda sobreviviam entre as florestas do México, mas não tinha certeza qual o nível de hostilidade poderia encontrar, ao interromper alguma celebração deles, principalmente em uma noite de lua cheia.

Sam se virou para começar a descida da forma mais ágil possível, mas uma pedra solta entre os degraus, oculta para escuridão da noite, fez com que ele escorregasse e despencasse vários degraus a baixo. Seu grito se fez ser ouvido e uma dor pungente nas costas lhe deixou sem ar. Quando chegou ao chão, tentou se mover, mas parecia que tinha algo quebrado em seu corpo. Tentou tatear os bolsos e procurar por sua lanterna, para ter alguma visão do que o cercava.

Mas antes mesmo de conseguir encontrar o objeto, duas sombras altas lhe nublaram a vista do céu estrelado. Os rostos cobertos por máscaras, todas detalhadas com nariz muito grande, uma espécie de coroa vermelha na cabeça e apenas dois buracos para os olhos.

— Quem são vocês? — Sam não obteve resposta, pelo contrário continuou sendo observado.

Até que mãos fortes lhe agarram os braços e o levantaram sem muito esforço e começaram a subir as escadas. A dor de Sam se intensificou, lesionado ele não poderia ser removido assim de qualquer jeito, mas os homens pareciam não se importar com isso. Ao se aproximarem da subida, Sam percebeu que suas peles eram cor de avelã, os braços e pernas muito fortes e desnudos. No sexo, apenas uma tanga de tecido desgastado, ocultava seus membros.

Descalços, eles levaram Sam sem muito esforço para o topo do templo, onde vários rostos lhe encaravam, alguns pintados com uma tinta vermelha e outros com máscaras como de seus captores. Aquela altura, Sam estava tonto pela dor e confuso com a quantidade de olhos escuros que lhe fitavam. Os homens que lhe carregavam, começaram a falar uns com os outros, em uma língua que Sam percebeu que realmente não era espanhol, embora parecesse uma mistura do idioma com algum outro linguajar nativo.

Em seu torpor de dor e incerteza, Sam foi deixado sob o chão de pedra, ao levantar a cabeça, percebeu que estava ao lado da estátua do topo do templo, a Chac Mool, uma figura de pedra reclinada, apoiando-se sobre seus cotovelos, com um disco sobre seu estômago. Sam tentou se mexer novamente e levantar, mas a dor ainda era pungente e agora ele se via cercado por pessoas estranhas, homens e mulheres semi nus lhe encarando, todos pareciam iguais.

Estátua Chac Mool (foto retirada do Google)

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Estátua Chac Mool (foto retirada do Google)

Mas entre o grupo um homem mais baixo e gorducho se aproximou, sua máscara era diferente das outras, tinha mais adornos e cores. O homem se aproximou, seria o líder da tribo? Em seu choque, Sam percebeu que foi entregue ao líder uma espécie lança, sua ponta tinha superfície preta e afiada, rústica e parecida com uma faca. Antes mesmo que ele conseguisse gritar e implorar por sua vida, sentiu a dor lacerante lhe queimar o estômago e inundado pela algia, pelo sangue que escorreria de sua barriga e por suas tripas expostas, caindo como um animal abatido no chão. Sam fez uma última prece, para um Deus diferente, do qual ele claramente estava sendo servido.


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