— CAPÍTULO SEIS —
O embarque na plataforma nove e meia
O último mês de Harry na casa dos Dursley não foi nada divertido. É verdade que Duda agora estava
tão apavorado com Harry que não queria nem ficar no mesmo aposento com ele, e tia Petúnia e tio Válter
não trancaram Harry no armário nem o obrigaram a fazer nada, tampouco gritaram com ele – na verdade,
sequer falaram com ele. Meio aterrorizados, meio furiosos, agiam como se a cadeira em que Harry se
sentasse estivesse vazia. Embora isso fosse sob muitos aspectos um progresso, tornou-se um tanto
deprimente depois de algum tempo.
Harry ficava em seu quarto, com a nova coruja por companhia. Decidira chamá-la Edwiges, um nome
que encontrara na História da magia. Seus livros de escola eram muito interessantes. Deitava-se na cama
e lia até tarde da noite. Edwiges voava para dentro e para fora da janela, quando queria. Era uma sorte
que tia Petúnia não aparecesse mais para passar o aspirador de pó, porque Edwiges não parava de trazer
ratos mortos para o quarto. Toda noite, antes de se deitar para dormir, Harry riscava mais um dia no
pedaço de papel que pregara na parede, para contar os dias que faltavam até primeiro de setembro.
No último dia de agosto ele achou melhor falar com os tios sobre a ida à estação no dia seguinte, por
isso desceu à sala de estar onde eles estavam assistindo a um programa de auditório na televisão.
Pigarreou para avisar que estava ali e Duda deu um berro e saiu correndo da sala.
– Hum... tio Válter?
Tio Válter resmungou para indicar que estava escutando.
– Hum... preciso estar amanhã na estação para... embarcar para Hogwarts.
Tio Válter resmungou outra vez.
– Será que o senhor podia me dar uma carona?
Resmungo. Harry supôs que quisesse dizer sim.
– Muito obrigado.
E já ia voltando para cima quando tio Válter falou de verdade:
– Que modo engraçado de ir para a escola de magia, de trem. Os tapetes mágicos furaram todos?
Harry não respondeu.
– Onde fica essa escola afinal?
– Não sei – disse Harry pensando nisso pela primeira vez. Tirou do bolso o bilhete de passagem que
Hagrid lhe dera. – Vou tomar o trem na plataforma nove e meia às onze horas – leu.
A tia e o tio arregalaram os olhos.
– Plataforma o quê?
– Nove e meia.
– Não diga bobagens – repreendeu tio Válter. – Não existe plataforma nove e meia.
– Está no meu bilhete.
– Loucos – disse tio Válter – de pedra, todos eles. Você vai ver. É só esperar. Está bem, levaremos
você até a estação. De qualquer maneira tínhamos de ir a Londres amanhã ou nem me daria o trabalho.
– Por que o senhor vai a Londres? – perguntou Harry, tentando manter a conversa cordial.
– Vamos levar Duda ao hospital – rosnou tio Válter. – Precisamos mandar cortar aquele rabo vermelho
antes de mandá-lo para Smeltings.
Harry acordou às cinco horas na manhã seguinte e estava demasiado excitado e nervoso para voltar a
dormir. Levantou-se e vestiu o jeans porque não queria entrar na estação com as vestes de bruxo –
mudaria de roupa no trem. Verificou novamente a lista de Hogwarts para se certificar de que tinha tudo de
que precisava, viu se Edwiges estava bem trancada na gaiola e então ficou andando pelo quarto à espera
que os Dursley se levantassem. Duas horas mais tarde, a mala enorme e pesada de Harry fora colocada
no carro dos Dursley. Tia Petúnia convencera Duda a se sentar ao lado do primo e eles partiram.
Chegaram à estação de King’s Cross às 10:30. Tio Válter jogou a mala de Harry num carrinho e
empurrou-o até a estação para ele. Harry achou o gesto curiosamente bondoso até tio Válter parar diante
das plataformas com um sorriso maldoso.
– Bom, aqui estamos, moleque. Plataforma nove, plataforma dez. A sua plataforma devia estar aí no
meio, mas parece que ainda não a construíram, não é mesmo?
Ele tinha razão, é claro. Havia um grande número nove de plástico no alto de uma plataforma e um
grande número dez no alto da plataforma seguinte, mas no meio, não havia nada.
– Tenha um bom período letivo – disse tio Válter com um sorriso ainda mais maldoso. E foi-se embora
sem dizer mais nada. Harry se virou e viu o carro dos Dursley partir. Os três estavam rindo. Harry sentiu
a boca seca. Que diabo iria fazer? Estava começando a atrair uma porção de olhares curiosos por causa
de Edwiges. Teria que perguntar a alguém.
Parou um guarda que ia passando, mas não mencionou a plataforma nove e meia. O guarda nunca
ouvira falar em Hogwarts e quando Harry não soube lhe dizer em que parte do país a escola ficava, ele
começou a mostrar aborrecimento, como se Harry estivesse se fazendo de burro de propósito.
Desesperado, Harry perguntou pelo trem que partia às onze horas, mas o guarda disse que não havia
nenhum. Ao fim, o guarda se afastou, resmungando contra pessoas que o faziam perder tempo. Harry
tentou por tudo no mundo não entrar em pânico. Pelo grande relógio em cima do quadro que anunciava os
trens que chegavam, só lhe restavam mais dez minutos para embarcar no trem de Hogwarts e ele não tinha
ideia de como ia fazer isso; estava perdido no meio da estação com uma mala que mal podia levantar, o
bolso cheio de dinheiro de bruxo e uma corujona.
Hagrid devia ter esquecido de lhe dizer alguma coisa que tinha de fazer, como bater no terceiro tijolo à
esquerda para entrar no Beco Diagonal. Perguntou-se se deveria tirar a varinha da mala e começar a
bater no coletor de bilhetes entre as plataformas nove e dez.
Naquele instante um grupo de pessoas passou às suas costas e ele entreouviu algumas palavras que
diziam.
– ... cheio de trouxas, é claro...
Harry deu meia-volta. Era uma mulher gorda que falava com quatro meninos, todos de cabelos cor de
fogo. Cada um deles estava empurrando à frente uma mala como a de Harry – e levavam uma coruja. O
coração aos saltos, Harry os seguiu empurrando o carrinho. Eles pararam e ele também, bem próximo
para ouvir o que diziam.
– Agora, qual é o número da plataforma? – perguntou a mãe dos meninos.
– Nove e meia – ouviu-se a voz fina de uma menininha, também de cabelos ruivos que estava
segurando a mão da mulher. – Mamãe, não posso ir...
– Você ainda não tem idade, Gina, agora fique quieta. Está bem, Percy, você vai primeiro.
O que parecia o menino mais velho marchou em direção às plataformas nove e dez. Harry observou-o, tomando o cuidado de não piscar para não perder nada – mas assim que o menino chegou à linha
divisória entre as duas plataformas, um grande grupo de turistas invadiu a plataforma à frente dele e
quando a última mochila acabou de passar, o menino havia desaparecido.
– Fred, você agora – mandou a mulher gorda.
– Eu não sou Fred, sou Jorge – retrucou o menino. – Francamente, mulher, você diz que é nossa mãe?
Não consegue ver que sou o Jorge?
– Desculpe, Jorge, querido.
– É brincadeira, eu sou o Fred – disse o menino, e foi. O irmão gêmeo gritou para ele se apressar, e ele
deve ter atendido, porque um segundo depois, sumiu, mas como fizera aquilo?
Agora o terceiro irmão estava se encaminhando rapidamente para a barreira – estava quase lá – e,
então, de repente, não estava mais em parte alguma.
E foi só.
– Com licença – dirigiu-se Harry à mulher gorda.
– Olá, querido. É a primeira vez que vai a Hogwarts? O Rony é novo também.
Ela apontou o último filho, o mais moço. Era alto, magro e desengonçado, com sardas, mãos e pés
grandes e um nariz comprido.
– É – respondeu Harry. – A coisa é... a coisa é que não sei como...
– Como chegar à plataforma? – disse ela com bondade, e Harry concordou com a cabeça.
– Não se preocupe. Basta caminhar diretamente para a barreira entre as plataformas nove e dez. Não
pare e não tenha medo de bater nela, isto é muito importante. Melhor fazer isso meio correndo se estiver
nervoso. Vá, vá antes de Rony.
– Hum... OK.
E Harry virou o carrinho e encarou a barreira. Parecia muito sólida.
Ele começou a andar em direção a ela. As pessoas a caminho das plataformas nove e dez o
empurravam. Harry apressou o passo. Ia bater direto no coletor de bilhetes e então ia se complicar –
curvando-se para o carrinho ele desatou a correr – a barreira estava cada vez mais próxima – não
poderia parar – o carrinho estava descontrolado – ele estava a um passo de distância – fechou os olhos
se preparando para a colisão...
E ela não aconteceu... ele continuou correndo... abriu os olhos.
Uma locomotiva vermelha a vapor estava parada à plataforma apinhada de gente. Um letreiro no alto
informava Expresso de Hogwarts, 11 horas. Harry olhou para trás e viu um arco de ferro forjado no
lugar onde estivera o coletor de bilhetes, com os dizeres Plataforma nove e meia. Conseguira.
A fumaça da locomotiva se dispersava sobre as cabeças das pessoas que conversavam, enquanto gatos
de todas as cores trançavam por entre as pernas delas. Corujas piavam umas para as outras, descontentes,
sobrepondo-se à balbúrdia e ao barulho das malas pesadas que eram arrastadas.
Os primeiros vagões já estavam cheios de estudantes, uns debruçados às janelas conversando com as
famílias, outros brigando por causa dos lugares. Harry empurrou o carrinho pela plataforma procurando
um lugar vago. Passou por um garoto de rosto redondo que estava dizendo:
– Vó, perdi meu sapo outra vez.
– Ah, Neville – ele ouviu a senhora suspirar.
Um garoto com cabelos rastafári estava cercado por um pequeno grupo de meninos.
– Deixe a gente espiar, Lino, vamos.
O menino levantou a tampa de uma caixa que carregava nos braços e as pessoas em volta deram gritos
e berros quando uma coisa dentro da caixa esticou para fora uma perna comprida e peluda.
Harry continuou andando pela aglomeração até que encontrou um compartimento vago no final do trem.
Primeiro pôs Edwiges para dentro e começou a empurrar e a forçar com a mala em direção à porta do
trem. Tentou erguê-la pelos degraus acima mas mal conseguiu suspender uma ponta e duas vezes deixou-a cair dolorosamente em cima do pé.
– Quer uma ajuda? – Era um dos gêmeos ruivos que ele seguira para atravessar a barreira.
– Por favor – Harry ofegou.
– Ei, Fred! Vem dar uma ajuda aqui!
Com a ajuda dos gêmeos, a mala de Harry finalmente foi colocada a um canto do compartimento.
– Obrigado – disse Harry, afastando os cabelos suados dos olhos.
– Que é isso? – perguntou de repente um dos gêmeos apontando para a cicatriz de Harry.
– Caramba – disse o outro gêmeo. – Você é...?
– Ele é – disse o outro gêmeo. – Não é? – acrescentou para Harry.
– O quê? – indagou Harry.
– Harry Potter – disseram os gêmeos em coro.
– Ah, ele – disse Harry. – Quero dizer, é, sou.
Os dois garotos olharam boquiabertos e Harry sentiu que estava corando. Então, para seu alívio,
ouviram uma voz pela porta aberta do trem.
– Fred? Jorge? Vocês estão aí?
– Estamos indo, mamãe.
Dando uma última espiada em Harry, os gêmeos saltaram para fora do trem.
Harry sentou-se à janela onde, meio escondido, podia observar a família de cabelos ruivos na
plataforma e ouvir o que diziam. A mãe tinha acabado de puxar o lenço.
– Rony, você está com uma coisa no nariz.
O menino mais novo tentou fugir, mas ela o agarrou e começou a limpar a ponta do nariz dele.
– Mamãe, sai para lá. – Desvencilhou-se.
– Aaaah, o Roniquinho está com uma coisa no nariz? – caçoou um dos gêmeos.
– Cale a boca – disse Rony.
– Onde está o Percy? – perguntou a mãe.
– Está vindo aí.
O garoto mais velho vinha vindo. Já vestira as vestes largas e pretas de Hogwarts e Harry reparou que
tinha um distintivo de prata reluzente com a letra M.
– Não posso demorar, mãe – falou ele. – Estou lá na frente, os monitores têm dois vagões separados...
– Ah, você é monitor, Percy – perguntou um dos gêmeos, com ar de grande surpresa. – Devia ter
avisado, não fazíamos ideia.
– Espere aí, acho que me lembro de ter ouvido ele dizer alguma coisa – disse o outro gêmeo. – Uma
vez...
– Ou duas...
– Um minuto...
– O verão todo.
– Ah, calem a boca – disse Percy, o monitor.
– Afinal por que foi que o Percy ganhou vestes novas? – disse um dos gêmeos.
– Porque é monitor – disse a mãe com carinho. – Está bem, querido, tenha um bom ano letivo... mande-
me uma coruja quando chegar.
Ela beijou Percy no rosto e ele foi embora. Então virou-se para os gêmeos.
– Agora, vocês dois: este ano, se comportem. Se receber mais uma coruja dizendo que vocês... vocês
explodiram um banheiro ou...
– Explodiram um banheiro? Nunca explodimos um banheiro.
– Mas é uma grande ideia, obrigado, mamãe.
– Não tem graça. E cuidem do Rony.
– Não se preocupe, Roniquinho está seguro com a gente.– Cale a boca – mandou Rony outra vez. Já era quase tão alto quanto os gêmeos e seu nariz continuava
vermelho onde a mãe o esfregara.
– Ei, mãe, adivinha? Adivinha quem acabamos de encontrar no trem?
Harry recuou o corpo rápido para que eles não o vissem olhando.
– Sabe aquele menino de cabelos pretos que estava perto da gente na estação? Sabe quem ele é?
– Quem?
– Harry Potter!
Harry ouviu a voz da garotinha.
– Ah, mamãe, posso subir no trem para ver ele, mamãe, ah, por favor...
– Você já o viu, Gina, e o coitado não é um bicho de zoológico para você ficar olhando. É ele mesmo,
Fred? Como é que você sabe?
– Perguntei a ele. Vi a cicatriz. Está lá mesmo, parece um raio.
– Coitadinho. Não admira que estivesse sozinho. Foi tão educado quando me perguntou como entrar na
plataforma.
– Deixa para lá, você acha que ele se lembra como era o Você-Sabe-Quem?
De repente a mãe ficou muito séria.
– Proíbo-lhe de perguntar a ele, Fred. Não, não se atreva. Como se ele precisasse de alguém para lhe
lembrar uma coisa dessas no primeiro dia de escola.
– Está bem, não precisa ficar nervosa.
Ouviu-se um apito.
– Depressa! – disse a mãe, e os três garotos subiram no trem. Debruçaram-se na janela para a mãe lhes
dar um beijo de despedida e a irmãzinha começou a chorar.
– Não chore, Gina, vamos lhe mandar um monte de corujas.
– Vamos lhe mandar uma tampa de vaso de Hogwarts.
– Jorge!
– Estou só brincando, mamãe.
O trem começou a andar. Harry viu a mãe dos garotos acenando e a irmã, meio risonha, meio chorosa,
correndo para acompanhar o trem até ele ganhar velocidade e ela ficar para trás acenando.
Harry observou a menina e a mãe desaparecerem quando o trem fez a curva. As casas passaram num
relâmpago pela janela. Harry sentiu uma grande excitação. Não sabia aonde estava indo mas tinha de ser
melhor do que o lugar que estava deixando para trás.
A porta da cabine se abriu e o ruivinho mais moço entrou.
– Tem alguém sentado aqui? – perguntou, apontando para o assento em frente ao de Harry. – O resto do
trem está cheio.
Harry respondeu que não, com um aceno de cabeça, e o garoto se sentou. Olhou para Harry e em
seguida olhou depressa para fora, fingindo que não tinha olhado. Harry reparou que ele ainda tinha uma
mancha preta no nariz.
– Oi, Rony.
Os gêmeos estavam de volta.
– Escuta aqui, vamos para o meio do trem. Lino Jordan trouxe uma tarântula gigante.
– Certo – resmungou Rony.
– Harry – disse o outro gêmeo –, nós já nos apresentamos? Fred e Jorge Weasley. E este é o Rony,
nosso irmão. Vejo vocês mais tarde, então.
– Tchau – disseram Harry e Rony. Os gêmeos fecharam a porta da cabine ao passar.
– Você é Harry Potter mesmo? – Rony deixou escapar.
Harry confirmou com a cabeça.
– Ah, bom, pensei que fosse uma brincadeira do Fred e do Jorge. E você tem mesmo... sabe...Apontou para a testa de Harry.
Harry afastou a franja para mostrar a cicatriz em forma de raio. Rony olhou.
– Então foi aí que Você-Sabe-Quem...?
– Foi, mas não me lembro.
– De nada? – perguntou Rony, ansioso.
– Bom... lembro de muita luz verde, mas nada mais.
– Uau. – Ele ficou parado uns minutos olhando para Harry, depois, como se de repente tivesse se dado
conta do que estava fazendo, olhou depressa para fora da janela outra vez.
– Todos na sua família são bruxos? – perguntou Harry, que achava Rony tão interessante quanto Rony o
achava.
– Hum... são, acho que sim. Acho que mamãe tem um primo em segundo grau que é contador, mas
ninguém nunca fala nele.
– Então você já deve saber muitas mágicas.
Os Weasley aparentemente eram uma dessas antigas famílias de bruxos de que o menino pálido no
Beco Diagonal falara.
– Ouvi dizer que você foi viver com os trouxas. Como é que eles são?
– Horríveis... bom, nem todos. Mas minha tia e meu tio e meu primo são, eu gostaria de ter tido três
irmãos bruxos.
– Cinco. – Por alguma razão, ele pareceu triste. – Sou o sexto de minha família a ir para Hogwarts.
Pode-se dizer que tenho de fazer justiça ao nosso nome. Gui e Carlinhos já terminaram a escola. Gui foi
chefe dos monitores e Carlinhos foi capitão do time de quadribol. Agora Percy é monitor. Fred e Jorge
fazem muita bagunça, mas tiram notas muito boas e todo mundo acha que eles são realmente engraçados.
Todos esperam que eu me saia tão bem quanto os outros, mas, se eu me sair bem, não será nada de mais,
porque eles fizeram isso primeiro. E também não se ganha nada novo quando se tem cinco irmãos. Uso as
vestes velhas de Gui, a varinha velha de Carlinhos e o rato velho de Percy.
Rony meteu a mão no bolso interno do paletó e tirou um rato cinzento e gordo que estava dormindo.
– O nome dele é Perebas e ele é inútil, quase nunca acorda. Percy ganhou uma coruja de meu pai por
ter sido escolhido monitor, mas eles não podiam ter... quero dizer, em vez disso ganhei Perebas.
As orelhas de Rony ficaram vermelhas. Parecia estar achando que falara demais, porque voltou a olhar
para fora pela janela.
Harry não achava nada de mais que alguém não tivesse dinheiro para comprar uma coruja. Afinal, ele
nunca tivera dinheiro algum na vida até um mês atrás, e disse isso ao Rony, e disse também o que sentira
quando usava as roupas velhas de Duda e jamais ganhara um presente de aniversário decente. Isto
pareceu animar Rony um pouco.
– ... e até Rúbeo me contar, eu não sabia o que era ser bruxo nem quem eram meus pais nem o
Voldemort.
Rony ficou pasmo.
– Que foi?
– Você disse o nome do Você-Sabe-Quem! – exclamou Rony parecendo ao mesmo tempo chocado e
impressionado. – Eu achava que de todas as pessoas você...
– Não estou tentando ser corajoso nem nada dizendo o nome dele. É que nunca soube que não se podia
dizer. Está vendo o que quero dizer? Tenho muito o que aprender... aposto – acrescentou, pondo pela
primeira vez em palavras algo que o andava preocupando muito ultimamente. – Aposto que vou ser o pior
da classe.
– Não vai ser, não. Tem uma porção de gente que vem de famílias de trouxas e aprende bem depressa.
Enquanto conversavam, o trem saiu de Londres. Agora corriam por campos cheios de vacas e
carneiros. Ficaram calados por um tempo, contemplando os campos e as estradinhas passarem numlampejo.
Por volta do meio-dia e meia ouviram um grande barulho no corredor e uma mulher toda sorrisos e
covinhas abriu a porta e perguntou:
– Querem alguma coisa do carrinho, queridos?
Harry, que não tomara café da manhã, ergueu-se de um salto, mas as orelhas de Rony ficaram
vermelhas outra vez e ele murmurou que trouxera sanduíches. Harry foi até o corredor.
Nunca tivera dinheiro para doces na casa dos Dursley e agora que seus bolsos retiniam com moedas de
ouro e prata, estava disposto a comprar quantas barrinhas de chocolate pudesse carregar – mas a mulher
não tinha barrinhas. Tinha feijõezinhos de todos os sabores, balas de goma, chicles de bola, sapos de
chocolate, tortinhas de abóbora, bolos de caldeirão, varinhas de alcaçuz e várias outras coisas estranhas
que Harry nunca vira na vida. Não querendo perder nada, ele comprou uma de cada e pagou à mulher
onze sicles de prata e sete nuques.
Rony arregalou os olhos quando Harry trouxe tudo para a cabine e despejou no assento vazio.
– Que fome, hein?
– Morrendo de fome – respondeu Harry, dando uma grande dentada na tortinha de abóbora.
Rony tirara um embrulho encaroçado e abriu-o. Havia quatro sanduíches dentro. Abriu um e disse:
– Ela sempre se esquece de que não gosto de carne enlatada.
– Troco com você por um desses – propôs Harry, oferecendo um pastelão de carne. – Tome...
– Você não vai querer isso, é muito seco. Ela não tem muito tempo – acrescentou depressa. – Você
sabe, somos cinco.
– Tome, coma um pastelão – disse Harry, que nunca tivera nada para dividir com alguém antes, aliás,
nem ninguém com quem dividir. Era uma sensação gostosa, sentar-se ali com Rony, acabar com todas as
tortas e bolos de Harry (os sanduíches ficaram esquecidos).
– Que é isso? – perguntou Harry a Rony, mostrando um pacote de sapos de chocolate. – Eles não são
sapos de verdade, são? – Estava começando a achar que nada o surpreenderia.
– Não. Mas vê qual é a figurinha, está me faltando a Agripa.
– O quê?
– Claro que você não sabe, os sapos de chocolate têm figurinhas dentro, sabe, para colecionar, bruxas
e bruxos famosos. Tenho umas quinhentas, mas não tenho a Agripa nem o Ptolomeu.
Harry abriu o sapo de chocolate e puxou a figurinha. Era a cara de um homem. Usava óculos de meia-
lua, tinha um nariz comprido e torto, cabelos esvoaçantes cor de prata, barba e bigode. Sob o retrato
havia o nome Alvo Dumbledore.
– Então este é Dumbledore! – exclamou Harry.
– Não me diga que nunca ouviu falar de Dumbledore! Quer me dar um sapo? Quem sabe eu tiro a
Agripa. Obrigado.
Harry virou o verso da figurinha e leu:
Alvo Dumbledore, atualmente diretor de Hogwarts. Considerado por muitos o maior bruxo dos
tempos modernos. Dumbledore é particularmente famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo
das Trevas, em 1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de dragão e por desenvolver um
trabalho em alquimia em parceria com Nicolau Flamel. O Professor Dumbledore gosta de música
de câmara e boliche.
Harry virou de novo o cartão e viu, para seu espanto, que o rosto de Dumbledore havia desaparecido.
– Ele desapareceu!
– Ora, você não pode esperar que ele fique aí o dia todo. Depois ele volta. Não, tirei a Morgana outra
vez e já tenho umas seis... você quer? Pode começar a colecionar.Os olhos de Rony se desviaram para a pilha de sapos de chocolate que continuavam fechados.
– Sirva-se – disse Harry. – Mas, sabe, no mundo dos trouxas, as pessoas ficam paradas nas fotos.
– Ficam? O quê, eles não se mexem? – Rony parecia surpreso. – Que coisa esquisita!
Harry arregalou os olhos quando Dumbledore voltou para a figurinha e lhe deu um sorrisinho. Rony
estava mais interessado em comer os sapos do que em olhar os bruxos e bruxas famosos, mas Harry não
conseguia despregar os olhos deles. Logo não tinha só Dumbledore e Morgana, como também Hengisto
de Woodcroft, Alberico Grunnion, Circe, Paracelso e Merlim. Por fim ele despregou os olhos da druída
Cliodna que estava coçando o nariz, para abrir o saquinho de feijõezinhos de todos os sabores.
– Você vai ter que tomar cuidado com essas aí – alertou Rony. – Quando dizem todos os sabores eles
querem dizer todos os sabores. Sabe, todos os sabores comuns como chocolate, hortelã e laranja, mas
também espinafre, fígado e bucho. Jorge achou que sentiu gosto de bicho-papão uma vez.
Rony apanhou uma balinha verde, examinou-a atentamente e mordeu uma ponta.
– Eca! Está vendo? Couve-de-bruxelas.
Eles se divertiram comendo as balas. Harry tirou torrada, coco, feijão cozido, morango, caril, capim,
café, sardinha e chegou a reunir coragem para morder a ponta de uma bala cinzenta meio gozada que
Rony não queria pegar, e que era pimenta.
Os campos que passavam agora pela janela estavam ficando mais silvestres. As plantações tinham
desaparecido. Agora havia matas, rios serpeantes e morros verde-escuros.
Ouviram uma batida à porta da cabine e o menino de rosto redondo, por quem Harry passara na
plataforma nove e meia, entrou. Parecia choroso.
– Desculpem, mas vocês viram um sapo?
Quando os dois sacudiram a cabeça, ele chorou.
– Perdi ele! Está sempre fugindo de mim!
– Ele vai aparecer – consolou Harry.
– Vai – disse o menino, infeliz. – Se você vir ele...
E saiu.
– Não sei por que ele está tão chateado – disse Rony. – Se eu tivesse trazido um sapo ia querer perder
ele o mais depressa que pudesse. Mas trouxe Perebas, por isso nem posso falar nada.
O rato continuava a tirar sua soneca no colo de Rony.
– Ele podia estar morto e ninguém ia saber a diferença – disse Rony, desgostoso. – Tentei mudar a cor
dele para amarelo para deixar ele mais interessante, mas o feitiço não deu certo. Vou-lhe mostrar. Olhe...
Remexeu na mala e tirou uma varinha muito gasta. Estava lascada em alguns pontos e havia uma coisa
branca brilhando na ponta.
– O pelo do unicórnio está quase saindo. Em todo o caso...
Tinha acabado de erguer a varinha quando a porta da cabine abriu outra vez. O menino sem o sapo
estava de volta, mas desta vez vinha uma garota em sua companhia. Ela já estava usando as vestes novas
de Hogwarts.
– Alguém viu um sapo? Neville perdeu o dele. – Tinha um tom de voz mandão, os cabelos castanhos
muito cheios e os dentes da frente meio grandes.
– Já dissemos a ele que não vimos o sapo – respondeu Rony, mas a menina não estava escutando,
olhava para a varinha na mão dele.
– Você está fazendo mágicas? Quero ver.
Sentou-se. Rony pareceu desconcertado.
– Hum... está bem.
Pigarreou.
– Sol, margaridas, amarelo maduro, muda para amarelo esse rato velho e burro.
Ele agitou a varinha, mas nada aconteceu. Perebas continuou cinzento e completamente adormecido.
– Você tem certeza de que esse feitiço está certo? – perguntou a menina. – Bem, não é muito bom, né?
Experimentei uns feitiços simples só para praticar e deram certo. Ninguém na minha família é bruxo, foi
uma surpresa enorme quando recebi a carta, mas fiquei tão contente, é claro, quero dizer, é a melhor
escola de bruxaria que existe, me disseram. Já sei de cor todos os livros que nos mandaram comprar, é
claro, só espero que seja suficiente; aliás, sou Hermione Granger, e vocês quem são?
Ela disse tudo isso muito depressa.
Harry olhou para Rony e sentiu um grande alívio ao ver, por sua cara espantada, que ele não aprendera
todos os livros de cor tampouco.
– Sou Rony Weasley.
– Harry Potter.
– Verdade? Já ouvi falar de você, é claro. Tenho outros livros recomendados, e você está na História
da magia moderna e em Ascensão e queda das artes das trevas e em Grandes acontecimentos mágicos
do século XX.
– Estou? – admirou-se Harry sentindo-se confuso.
– Nossa, você não sabia, eu teria procurado saber tudo que pudesse se fosse comigo – disse Hermione.
– Já sabem em que casa vão ficar? Andei perguntando e espero ficar na Grifinória, me parece a melhor,
ouvi dizer que o próprio Dumbledore foi de lá, mas imagino que a Corvinal não seja muito ruim... Em
todo o caso, acho melhor irmos procurar o sapo de Neville. E é melhor vocês se trocarem, sabe, vamos
chegar daqui a pouco.
E foi-se embora, levando o menino sem sapo.
– Seja qual for a minha casa, espero que ela não esteja lá – comentou Rony. E jogou a varinha de volta
na mala. – Feitiço besta. Foi o Jorge que me ensinou, aposto que sabia que não prestava.
– Em que casa estão os seus irmãos? – perguntou Harry.
– Grifinória. – A tristeza parecia estar se apoderando dele outra vez. – Mamãe e papai estiveram lá
também. Não sei o que vão dizer se eu não estiver. Acho que a Corvinal não seria muito ruim, mas
imagine se me puserem na Sonserina.
– É a casa em que Vol... quero dizer, Você-Sabe-Quem esteve?
– É. – E afundou novamente no assento, parecendo deprimido.
– Sabe, acho que as pontas dos bigodes de Perebas ficaram um pouquinho mais claras – disse Harry,
tentando distrair o pensamento de Rony das casas. – Então, o que é que os seus irmãos mais velhos fazem
agora que já terminaram?
Harry estava imaginando o que fazia um bruxo depois que terminava a escola.
– Carlinhos está na Romênia estudando dragões e Gui está na África fazendo um serviço para o
Gringotes. Você soube o que aconteceu com o Gringotes? O Profeta Diário só fala nisso, mas acho que
morando com os trouxas você não recebe o jornal. Uns caras tentaram roubar um cofre de segurança
máxima.
Harry arregalou os olhos.
– Verdade? E o que aconteceu com eles?
– Nada, é por isso que é uma notícia tão importante. Não foram pegos. Papai disse que deve ter sido
um bruxo das trevas poderoso para enganar Gringotes, mas estão achando que eles não levaram nada,
isso é que é esquisito. É claro que todo o mundo fica apavorado quando uma coisa dessas acontece
porque Você-Sabe-Quem pode estar por trás da coisa.
Harry repassou as notícias mentalmente. Estava começando a sentir um arrepio de medo toda vez que
Você-Sabe-Quem era mencionado. Supunha que isso fazia parte do ingresso no mundo da magia, mas
tinha sido muito mais confortável dizer Voldemort sem se preocupar.
– Qual é o seu time de quadribol? – perguntou Rony.
– Hum... não conheço nenhum – confessou Harry.– O quê? – Rony parecia pasmo. – Ah, espere aí, é o melhor jogo do mundo. – E saiu explicando tudo
sobre as quatro bolas e as posições dos sete jogadores, descreveu jogos famosos a que fora com os
irmãos e a vassoura que gostaria de comprar se tivesse dinheiro. Estava mostrando a Harry as qualidades
do jogo quando a porta da cabine se abriu mais uma vez, mas agora não era Neville, o menino sem sapo,
nem Hermione Granger.
Três garotos entraram e Harry reconheceu o do meio na hora: era o garoto pálido da loja de vestes de
Madame Malkin. Olhou para Harry com um interesse muito maior do que revelara no Beco Diagonal.
– É verdade? – perguntou. – Estão dizendo no trem que Harry Potter está nesta cabine. Então é você?
– Sou – respondeu Harry. Observava os outros garotos. Os dois eram fortes e pareciam muito maus.
Postados dos lados do menino pálido eles pareciam guarda-costas.
– Ah, este é Crabbe e este outro, Goyle – apresentou o garoto pálido displicentemente, notando o
interesse de Harry. – E meu nome é Draco Malfoy.
Rony tossiu de leve, o que poderia estar escondendo uma risadinha. Malfoy olhou para ele.
– Acha o meu nome engraçado, é? Nem preciso perguntar quem você é. Meu pai me contou que na
família Weasley todos têm cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que podem sustentar.
Virou-se para Harry.
– Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras,
Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso.
Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, mas Harry não a apertou.
– Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado – disse com frieza.
Draco não ficou vermelho, mas um ligeiro rosado coloriu seu rosto pálido.
– Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry – disse lentamente. – A não ser que seja mais educado,
vai acabar como os seus pais. Eles também não tinham juízo. Você se mistura com gentinha como os
Weasley e aquele Rúbeo e vai acabar se contaminando.
Harry e Rony se levantaram. O rosto de Rony estava vermelho como os cabelos.
– Repete isso.
– Ah, você vai brigar com a gente, vai? – Draco caçoou.
– A não ser que você se retire agora – disse Harry com uma coragem maior do que sentia, porque
Crabbe e Goyle eram bem maiores do que ele ou Rony.
– Mas não estamos com vontade de nos retirar, estamos, garotos? Já comemos toda a nossa comida e
parece que vocês ainda têm alguma coisa.
Goyle fez menção de apanhar os sapos de chocolate ao lado de Rony. Rony deu um pulo para a frente,
mas, antes que encostasse em Goyle, este soltou um berro terrível.
Perebas, o rato, estava pendurado em seu dedo, os dentinhos afiados enterrados na junta de Goyle.
Crabbe e Draco recuaram enquanto Goyle rodava e rodava o braço, urrando, e quando Perebas
finalmente se soltou e bateu na janela, os três desapareceram na mesma hora. Talvez achassem que havia
mais ratos escondidos nos doces, ou talvez tivessem ouvido passos, porque um segundo depois,
Hermione Granger entrou.
– Que foi que aconteceu? – perguntou, vendo os doces espalhados no chão e Rony apanhando Perebas
pela cauda.
– Acho que apagaram ele – disse Rony a Harry. E examinou Perebas mais atentamente. – Não... não
acredito... ele voltou a dormir.
E dormira mesmo.
– Você já conhecia Draco Malfoy?
Harry contou o encontro deles no Beco Diagonal.
– Já ouvi falar na família dele – disse Rony, sombrio. – Foram os primeiros a voltar para o nosso lado
depois que Você-Sabe-Quem desapareceu. Disseram que tinham sido enfeitiçados. Papai não acreditanisso. Diz que o pai de Draco não precisou de desculpa para se bandear para o lado das Trevas. – E
virou-se para Hermione. – Podemos fazer alguma coisa por você?
– É melhor vocês se apressarem e trocarem de roupa. Acabei de ir lá na frente perguntar ao maquinista
e ele me disse que estamos quase chegando. Vocês andaram brigando? Vão se meter em encrenca antes
mesmo de chegarmos lá!
– Perebas andou brigando, nós não – disse Rony, fazendo cara zangada. – Você se importa de sair para
podermos nos trocar?
– Está bem. Só vim para cá porque as pessoas nas outras cabines estão se comportando feito crianças,
correndo pelos corredores – disse Hermione em tom choroso. – E você está com o nariz sujo, sabia?
Rony amarrou a cara quando ela se retirou. Harry espiou pela janela. Estava escurecendo. Viu
montanhas e matas sob um céu arroxeado. O trem parecia estar diminuindo a velocidade.
Ele e Rony tiraram os paletós e puseram as vestes longas e pretas. A de Rony estava um pouco curta,
dava para ver as calças por baixo.
Uma voz ecoou pelo trem:
– Vamos chegar a Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor deixem a bagagem no trem, ela será
levada para a escola.
O estômago de Harry revirou de nervoso e ele reparou que Rony parecia pálido sob as sardas. Os dois
encheram os bolsos com o resto dos doces e se reuniram à garotada que apinhava os corredores.
O trem foi diminuindo a velocidade e finalmente parou. As pessoas se empurraram para chegar à porta
e descer na pequena plataforma escura. Harry estremeceu ao ar frio da noite. Então apareceu uma
lâmpada balançando sobre as cabeças dos estudantes e Harry ouviu uma voz conhecida.
– Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui! Tudo bem, Harry?
O rosto grande e peludo de Rúbeo Hagrid sorria por cima de um mar de cabeças.
– Vamos, venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?
Aos escorregões e tropeços, eles seguiram Hagrid por um caminho de aparência íngreme e estreita.
Estava tão escuro em volta que Harry achou que devia haver grandes árvores ali. Ninguém falou muito.
Neville, o menino que vivia perdendo o sapo, fungou umas duas vezes.
– Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo – Hagrid gritou por cima do ombro –,
logo depois dessa curva.
Ouviu-se um Aooooooh muito alto.
O caminho estreito se abrira de repente até a margem de um grande lago escuro. Encarrapitado no alto
de um penhasco na margem oposta, as janelas cintilando no céu estrelado, havia um imenso castelo com
muitas torres e torrinhas.
– Só quatro em cada barco! – gritou Hagrid, apontando para uma flotilha de barquinhos parados na
água junto à margem. Harry e Rony foram seguidos até o barco por Neville e Hermione.
– Todos acomodados? – gritou Hagrid, que tinha um barco só para si. – Então... VAMOS!
E a flotilha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago que era liso como um
vidro. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A construção se agigantava à
medida que se aproximavam do penhasco em que estava situado.
– Abaixem as cabeças! – berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos
abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura
na face do penhasco. Foram impelidos por um túnel escuro, que parecia levá-los para debaixo do castelo,
até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcaram subindo e pisando em pedras e seixos.
– Ei, você aí! É o seu sapo? – perguntou Hagrid, que verificava os barcos à medida que as pessoas
desembarcavam.
– Trevo! – gritou Neville, feliz, estendendo as mãos.
Então eles subiram por uma passagem aberta na rocha, acompanhando a lanterna de Hagrid, edesembocaram finalmente em um gramado fofo e úmido à sombra do castelo.
Galgaram uma escada de pedra e se aglomeraram em torno da enorme porta de carvalho.
– Estão todos aqui? Você aí, ainda está com o seu sapo?
Hagrid ergueu um punho gigantesco e bateu três vezes na porta do castelo.
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livros que eu tô lendo parte 2
WerewolfVou postar pois eu quero ler esse livro e sou pobre pra comprar (não gosto de usar pdf, então passei pro wattpad pra facilitar)