Aporta abriu-se de chofre. E apareceu uma bruxa alta de cabelos negros e vestes verde-esmeralda.
Tinha o rosto muito severo e o primeiro pensamento de Harry foi que era uma pessoa a quem não se
devia aborrecer.
– Alunos do primeiro ano, Profa. Minerva McGonagall – informou Hagrid.
– Obrigada, Hagrid. Eu cuido deles daqui em diante.
Ela escancarou a porta. O saguão era tão grande que teria cabido a casa dos Dursley inteira dentro. As
paredes de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes como os de Gringotes, o teto era alto
demais para se ver, e uma imponente escada de mármore em frente levava aos andares superiores.
Eles acompanharam a Profa. Minerva pelo piso de lajotas de pedra. Harry ouviu o murmúrio de
centenas de vozes que vinham de uma porta à direita – o restante da escola já devia estar reunido. Mas a
Profa. Minerva levou os alunos da primeira série a uma sala vazia ao lado do saguão. Eles se agruparam
lá dentro, um pouco mais apertados do que o normal, olhando, nervosos, para os lados.
– Bem-vindos a Hogwarts – disse a Profa. Minerva. – O banquete de abertura do ano letivo vai
começar daqui a pouco, mas antes de se sentarem às mesas, vocês serão selecionados por casas. A
Seleção é uma cerimônia muito importante porque, enquanto estiverem aqui, sua casa será uma espécie
de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no
dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal.
“As quatro casas chamam-se Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Cada casa tem sua história
honrosa e cada uma produziu bruxas e bruxos extraordinários. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus
acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros a farão perder. No fim do ano, a casa com o
maior número de pontos receberá a taça da casa, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja
motivo de orgulho para a casa à qual vier a pertencer.
“A Cerimônia de Seleção vai se realizar dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro
que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.”
O olhar dela se demorou por um instante na capa de Neville, que estava afivelada debaixo da orelha
esquerda, e no nariz sujo de Rony. Harry, nervoso, tentou achatar os cabelos.
– Voltarei quando estivermos prontos para receber vocês – disse a Profa. Minerva. – Por favor,
aguardem em silêncio.
E se retirou da sala. Harry engoliu em seco.
– Mas como é que eles selecionam a gente para as casas? – Harry perguntou a Rony.
– Devem fazer uma espécie de teste, acho. Fred diz que dói à beça, mas acho que estava brincando.
O coração de Harry deu um pulo terrível. Um teste? Na frente da escola toda? Mas ele ainda nem
conhecia mágica nenhuma – que diabo teria que fazer? Não previra nada do gênero assim logo nachegada. Olhou à volta, ansioso, e viu que os outros também pareciam apavorados. Ninguém falava muito
a não ser Hermione, que cochichava muito depressa todos os feitiços que aprendera, sem saber o que
precisaria mostrar. Harry fez força para não escutar o que ela dizia. Nunca se sentira tão nervoso, nunca,
nem mesmo quando tivera que levar um boletim escolar para os Dursley dizendo que, não sabiam como,
ele fizera a peruca do professor ficar azul. Ele manteve os olhos grudados na porta. A qualquer segundo
agora a Profa. Minerva voltaria e o conduziria ao seu triste fim.
Então aconteceu uma coisa que o fez pular bem uns trinta centímetros no ar – várias pessoas atrás dele
gritaram.
– Que di...
Ele ofegou. E as pessoas à sua volta também. Uns vinte fantasmas passaram pela parede dos fundos.
Brancos-pérola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando entre si, mal vendo
os alunos do primeiro ano. Pareciam estar discutindo. O que lembrava um fradinho gorducho ia dizendo:
– Perdoar e esquecer, eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...
– Meu caro frei, já não demos a Pirraça todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa
reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma. Nossa, o que é que essa garotada está fazendo
aqui?
Um fantasma, que usava uma gola de rufos engomados e meiões, de repente reparou nos alunos do
primeiro ano.
Ninguém respondeu.
– Alunos novos! – disse o frei Gorducho, sorrindo para eles. – Estão esperando para ser selecionados,
imagino?
Alguns garotos confirmaram com a cabeça, mudos.
– Espero ver vocês na Lufa-Lufa! – falou o frei. – A minha casa antiga, sabe?
– Vamos andando agora – disse uma voz enérgica. – A Cerimônia de Seleção vai começar.
A Profa. Minerva voltara. Um a um os fantasmas saíram voando pela parede oposta.
– Agora façam fila e me sigam.
Sentindo-se pouco à vontade como se suas pernas tivessem virado chumbo, Harry entrou na fila atrás
de um garoto de cabelos cor de palha e na frente de Rony, e todos saíram da sala, tornaram a atravessar o
saguão e as portas duplas que levavam ao Grande Salão.
Harry jamais imaginara um lugar tão diferente e esplêndido. Era iluminado por milhares de velas que
flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes já se encontravam sentados.
As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão havia mais uma mesa
comprida em que se sentavam os professores. A Profa. Minerva levou os alunos de primeiro ano até ali,
de modo que eles pararam enfileirados diante dos outros, tendo os professores às suas costas. As
centenas de rostos que os contemplavam pareciam lanternas fracas à luz trêmula das velas. Misturados
aqui e ali aos estudantes, os fantasmas brilhavam como prata envolta em névoa. Principalmente para
evitar os olhares fixos neles, Harry olhou para cima e viu um teto aveludado e negro salpicado de
estrelas. Ouviu Hermione cochichar:
– É enfeitiçado para parecer o céu lá fora, li em Hogwarts, uma história.
Era difícil acreditar que havia um teto ali e que o Salão Principal simplesmente não se abria para o
infinito.
Harry baixou depressa os olhos quando a Profa. Minerva silenciosamente colocou um banquinho de
quatro pernas diante dos alunos do primeiro ano. Em cima do banquinho ela pôs um chapéu pontudo de
bruxo. O chapéu era remendado, esfiapado e sujíssimo. Tia Petúnia não teria permitido que um objeto
nessas condições entrasse em casa.
Talvez tivessem que tentar tirar um coelho de dentro dele, Harry pensou delirando, parecia apropriado
– reparando que todos no salão agora olhavam para o chapéu, ele olhou também. Por alguns segundosfez-se um silêncio total. Então o chapéu se mexeu. Um rasgo junto à aba se abriu como uma boca – e o
chapéu começou a cantar:
Ah, vocês podem me achar pouco atraente,
Mas não me julguem só pela aparência
Engulo a mim mesmo se puderem encontrar
Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.
Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,
Suas cartolas altas de cetim brilhoso
Porque sou o Chapéu Seletor de Hogwarts
E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.
Não há nada escondido em sua cabeça
Que o Chapéu Seletor não consiga ver,
Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer
Em que casa de Hogwarts deverão ficar.
Quem sabe sua morada é a Grifinória,
Casa onde habitam os corações indômitos.
Ousadia e sangue-frio e nobreza
Destacam os alunos da Grifinória dos demais;
Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor;
Ou será a velha e sábia Corvinal,
A casa dos que têm a mente sempre alerta,
Onde os homens de grande espírito e saber
Sempre encontrarão companheiros seus iguais;
Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa
E ali fará seus verdadeiros amigos,
Homens de astúcia que usam quaisquer meios
Para atingir os fins que antes colimaram.
Vamos, me experimentem! Não devem temer!
Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!
(Mesmo que os chapéus não tenham pés nem mãos)
Porque sou único, sou um Chapéu Pensador!
O salão inteiro prorrompeu em aplausos quando o chapéu acabou de cantar. Ele fez uma reverência
para cada uma das quatro mesas e em seguida ficou muito quieto outra vez.
– Então só precisamos experimentar o chapéu! – cochichou Rony a Harry. – Vou matar o Fred, ele não
parou de falar numa luta contra um trasgo.
Harry deu um sorriso sem graça. É, experimentar um chapéu era bem melhor do que precisar fazer um
feitiço, mas desejou que pudessem ter experimentado o chapéu sem toda aquela gente olhando. O chapéu
parecia estar pedindo muito; Harry não se sentia corajoso nem inteligente nem qualquer outra coisa
naquele momento. Se ao menos o chapéu tivesse mencionado uma casa para gente que se sentia meio
nervosa, quem sabe teria sido a sua casa.
A Profa. Minerva então se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.
– Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Ana
Abbott!Uma garota de rosto rosado e marias-chiquinhas louras saiu aos tropeços da fila, pôs o chapéu, que lhe
afundou direto até os olhos, e se sentou. Uma pausa momentânea...
– LUFA-LUFA! – anunciou o chapéu.
A mesa à direita deu vivas e bateu palmas quando Ana foi se sentar à mesa da Lufa-Lufa. Harry viu o
fantasma do frei Gorducho acenar alegremente para ela.
– Susana Bones!
– LUFA-LUFA! – anunciou o chapéu outra vez, e Susana saiu depressa e foi se sentar ao lado de Ana.
– Terêncio Boot!
– CORVINAL!
Desta vez foi a segunda mesa à esquerda que aplaudiu; vários alunos da Corvinal se levantaram para
apertar a mão de Teorêncio quando o menino se reuniu a eles.
Mádi Brocklehurst foi para a Corvinal também, mas Lilá Brown foi a primeira a ser escolhida para a
Grifinória e a mesa na extrema esquerda explodiu em vivas; Harry viu os irmãos gêmeos de Rony
assobiarem.
Mila Bulstrode se tornou uma Sonserina. Talvez fosse a imaginação de Harry, mas depois de tudo que
ouvira sobre a Sonserina, achou que eles formavam um grupo de aparência desagradável.
Estava começando a se sentir decididamente mal agora. Lembrou-se da seleção para os times, nas
aulas de esporte de sua velha escola. Sempre fora o último a ser escolhido, não porque não fosse bom,
mas porque ninguém queria que Duda pensasse que gostavam dele.
– Justino Finch-Fletchley!
– LUFA-LUFA!
Às vezes, Harry reparou, o chapéu anunciava logo o nome da casa, mas outras levava um tempo para
se decidir.
Simas Finnigan, o menino de cabelos cor de palha ao lado de Harry na fila, passou sentado no
banquinho quase um minuto, antes de o chapéu anunciar que iria para a Grifinória.
– Hermione Granger!
Hermione saiu quase correndo até o banquinho e enfiou o chapéu, ansiosa.
– GRIFINÓRIA! – anunciou o chapéu. Rony gemeu.
Um pensamento horrível ocorreu a Harry, como fazem os pensamentos horríveis quando a pessoa está
nervosa. E se ele não fosse escolhido? E se ficasse ali sentado com o chapéu na cabeça cobrindo seus
olhos durante um tempão, até a Profa. Minerva arrancá-lo de sua cabeça e dizer que obviamente houvera
um engano e era melhor ele pegar o trem de volta?
Quando Neville Longbottom, o menino que não parava de perder o sapo, foi chamado, levou um tombo
a caminho do banquinho. O chapéu demorou muito tempo para se decidir sobre Neville. Quando
finalmente anunciou “GRIFINÓRIA”, Neville saiu correndo com o chapéu na cabeça, e teve de voltar em
meio a uma avalanche de risadas para entregá-lo a Morag MacDougal.
Malfoy se adiantou, gingando, quando chamaram seu nome e teve seu desejo realizado imediatamente:
o chapéu mal tocara sua cabeça quando anunciou:
– SONSERINA!
Faltava pouca gente agora.
Moon..., Nott..., Parkinson..., depois duas gêmeas, Patil e Patil..., depois Perks, Sara... e então,
finalmente...
– Harry Potter!
Quando Harry se adiantou, correu um burburinho por todo o salão como um fogo de rastilho.
– Potter, foi o que ela disse?
– O Harry Potter?
A última coisa que Harry viu antes de o chapéu lhe cair sobre os olhos foi um salão cheio de gente seespichando para lhe dar uma boa olhada. Em seguida só viu a escuridão dentro do chapéu.
– Difícil. Muito difícil. Bastante coragem, vejo. Uma mente nada má. Há talento, ah, minha nossa, uma
sede razoável de se provar, ora isso é interessante... Então, onde vou colocá-lo?
Harry apertou as bordas do banquinho e pensou “Sonserina, não, Sonserina, não”.
– Sonserina, não, hein? – disse a vozinha. – Tem certeza? Você poderia ser grande, sabe, está tudo aqui
na sua cabeça, e a Sonserina lhe ajudaria a alcançar essa grandeza, sem dúvida nenhuma, não? Bem, se
você tem certeza, ficará melhor na GRIFINÓRIA!
Harry ouviu o chapéu anunciar a última palavra para todo o salão. Tirou o chapéu e se encaminhou
trêmulo para a mesa de Grifinória. Sentia tanto alívio por ter sido selecionado e ter escapado de
Sonserina que nem reparou que estava recebendo a maior ovação da cerimônia. Percy, o Monitor, se
levantou e apertou sua mão com energia, enquanto os gêmeos Weasley gritavam “Ganhamos Potter!
Ganhamos Potter!” Harry sentou-se defronte do fantasma com a gola de rufos que vira antes da cerimônia.
O fantasma lhe deu uma palmadinha no braço, produzindo em Harry a sensação horrível e repentina de
que acabara de mergulhar num balde de água gelada.
Agora ele via bem a Mesa Principal. Na extremidade mais próxima sentava-se Rúbeo Hagrid, cujo
olhar encontrou o seu e lhe fez um sinal de aprovação. Harry retribuiu o seu sorriso. E ali, no centro da
Mesa Principal, em uma cadeirão dourado, encontrava-se Alvo Dumbledore. Harry o reconheceu
imediatamente pela figurinha que tirara no sapo de chocolate comprado no trem. Os cabelos prateados de
Dumbledore eram a única coisa no salão inteiro que brilhava tanto quanto os fantasmas. Harry viu o Prof.
Quirrell também, o rapaz nervoso do Caldeirão Furado. Parecia muito extravagante num grande turbante
púrpura.
E agora só faltavam três pessoas para serem selecionadas. Lisa Turpin virou uma Corvinal e depois foi
a vez de Rony. A essa altura ele estava brancoesverdeado. Harry cruzou os dedos sob a mesa para dar
sorte e um segundo depois o chapéu anunciou GRIFINÓRIA!
Harry bateu palmas bem alto com os demais quando Rony se largou numa cadeira a seu lado.
– Muito bem, Rony, excelente – disse Percy Weasley pomposamente por cima de Harry, na mesma hora
em que Blás Zabini era mandado para a Sonserina. A Profa. Minerva enrolou o pergaminho e recolheu o
Chapéu Seletor.
Harry baixou os olhos para o prato dourado e vazio diante dele. Acabara de perceber como estava
faminto. As tortinhas de abóbora pareciam ter sido comidas havia anos.
Alvo Dumbledore se levantara. Sorria radiante para os estudantes, os braços bem abertos, como se
nada no mundo pudesse ter-lhe agradado mais do que vê-los todos reunidos ali.
– Sejam bem-vindos! – disse. – Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de
começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado!
Beliscão! Obrigado.
E sentou-se. Todos bateram palmas e deram vivas. Harry não sabia se ria ou não.
– Ele é... um pouquinho maluco? – perguntou, incerto, a Percy.
– Maluco? – disse Percy, despreocupado. – Ele é um gênio! O melhor bruxo do mundo! Mas é um
pouquinho maluco, sim. Batatas, Harry?
O queixo de Harry caiu. Os pratos diante dele agora estavam cheios de comida. Ele nunca vira tantas
coisas que gostava de comer em uma mesa só: rosbife, galinha assada, costeletas de porco e de carneiro,
pudim de carne, ervilhas, cenouras, molho, ketchup e, por alguma estranha razão, docinhos de hortelã.
Não é que os Dursley tivessem deixado Harry com fome, mas nunca lhe permitiram comer tanto quanto
quisesse. Duda sempre tirava tudo que Harry realmente queria, mesmo que acabasse doente. Harry
encheu o prato com um pouco de cada coisa exceto os docinhos e começou a comer. Estava tudo uma
delícia.
– Isto está com uma cara ótima – disse o fantasma de gola de rufos observando, tristemente, Harrycortar o rosbife.
– O senhor não pode...?
– Não como há quase quatrocentos anos – explicou o fantasma. – Não preciso, é claro, mas a pessoa
sente falta. Acho que ainda não me apresentei? Cavalheiro Nicholas de Mimsy-Porpington às suas
ordens. Fantasma residente da torre da Grifinória.
– Eu sei quem o senhor é! – disse Rony inesperadamente. – Meus irmãos me falaram do senhor. O
senhor é o Nick Quase Sem Cabeça.
– Eu prefiro que você me chame de cavalheiro Nicholas de Mimsy – o fantasma começou muito
formal, mas o louro Simas Finnigan o interrompeu.
– Quase Sem Cabeça? Como é que alguém pode ser quase sem cabeça?
Sir Nicholas parecia muitíssimo aborrecido, como se aquela conversinha não estivesse tomando o
rumo que ele queria.
– Assim – disse com irritação. E agarrou a orelha esquerda e puxou. A cabeça toda girou para fora do
pescoço e caiu por cima do ombro como se estivesse presa por uma dobradiça. Era óbvio que alguém
tentara decapitá-lo, mas não fizera o serviço direito. Satisfeito com a cara de espanto dos garotos, Nick
Quase Sem Cabeça empurrou a cabeça de volta ao pescoço, tossiu e disse:
– Então, novos moradores da Grifinória! Espero que nos ajudem a ganhar o campeonato das casas este
ano! Grifinória nunca passou tanto tempo sem ganhar a taça. Sonserina tem ganhado nos últimos seis
anos! O barão Sangrento está ficando quase insuportável. Ele é o fantasma da Sonserina.
Harry deu uma olhada na mesa de Sonserina e viu um fantasma horroroso sentado lá, os olhos
vidrados, uma cara muito magra e vestes sujas de sangue prateado. Estava ao lado de Malfoy, que, Harry
ficou contente de ver, não parecia muito satisfeito com a distribuição dos lugares.
– Como foi que ele ficou coberto de sangue? – perguntou Simas muito interessado.
– Nunca perguntei – respondeu Nick Quase Sem Cabeça, educadamente.
Depois que todos comeram tudo o que podiam, as sobras desapareceram dos pratos deixando-os
limpinhos como no início. Logo depois surgiram as sobremesas. Tijolos de sorvete de todos os sabores
que se possa imaginar, tortas de maçãs, tortinhas de caramelo, bombas de chocolate, roscas fritas com
geleia, bolos de frutas com calda de vinho, morangos, gelatinas, pudim de arroz...
Quando Harry se serviu das tortinhas de caramelo, a conversa se voltou para as famílias.
– Eu sou meio a meio – disse Simas. – Papai é trouxa. Mamãe não contou a ele que era bruxa até
depois de casarem. Teve um choque horrível.
Os outros riram.
– E você, Neville? – perguntou Rony.
– Bom, minha avó me criou e ela é bruxa, mas a família achou durante anos que eu era completamente
trouxa. Meu tio-avô Algi vivia tentando me pegar desprevenido e me forçar a recorrer à magia. Ele me
empurrou pela borda de um cais uma vez, eu quase me afoguei. Mas nada aconteceu até eu completar oito
anos. Meu tio Algi veio tomar chá conosco e tinha me pendurado pelos calcanhares para fora de uma
janela do primeiro andar, quando a minha tia-avó Enid lhe ofereceu um merengue e ele sem querer me
deixou cair. Mas eu desci flutuando até o jardim e a estrada. Todos ficaram realmente satisfeitos. Minha
avó chorou de tanta felicidade. E vocês deviam ter visto a cara deles quando entrei para Hogwarts.
Achavam que eu não era bastante mágico para entrar, entendem. Meu tio Algi ficou tão contente que me
comprou um sapo.
Do outro lado de Harry, Percy e Hermione conversavam sobre as aulas.
– Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em
Transfiguração, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que é muito difícil; a pessoa começa
aos poucos, fósforos em agulhas e coisas pequenas assim.
Harry, que estava começando a se sentir aquecido e cheio de sono, olhou outra vez para a MesaPrincipal. Hagrid tomava um grande gole de sua taça. A Profa. Minerva conversava com o Prof.
Dumbledore. O Prof. Quirrell, com aquele turbante ridículo, conversava com um professor de cabelos
negros e oleosos, nariz de gancho e pele macilenta.
Aconteceu muito de repente. O olhar do professor de nariz de gancho passou pelo turbante de Quirrell
e se fixou nos olhos de Harry, e uma pontada aguda e quente correu pela testa de Harry.
– Ui! – Harry levou a mão à testa.
– Que foi? – perguntou Percy.
– N-nada.
A dor se foi com a mesma rapidez com que viera. Mais difícil foi se livrar da sensação que Harry teve
sob o olhar do professor – uma sensação de que ele não gostava nada de Harry.
– Quem é aquele professor que está conversando com o Prof. Quirrell? – perguntou a Percy.
– Ah, você já conhece Quirrell, é? Não admira que ele pareça tão nervoso, aquele é o Prof. Snape. Ele
ensina Poções, mas não é o que ele quer. Todo o mundo sabe que está cobiçando o cargo de Quirrell.
Conhece um bocado as Artes das Trevas, o Snape.
Harry observou o professor por algum tempo, mas Snape não voltou a olhar em sua direção.
Finalmente, as sobremesas também desapareceram, e o Prof. Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O
salão silenciou.
– Hum... só mais umas palavrinhas agora que já comemos e bebemos. Tenho alguns avisos de início de
ano letivo para vocês.
“Os alunos do primeiro ano devem observar que é proibido andar na floresta da propriedade. E alguns
dos nossos estudantes mais antigos fariam bem em se lembrar dessa proibição.”
Os olhos cintilantes de Dumbledore faiscaram na direção dos gêmeos Weasley.
– O Sr. Filch, o zelador, me pediu para lembrar a todos que não devem fazer mágicas no corredor
durante os intervalos das aulas.
“Os testes de quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em
entrar para o time de sua casa deverá procurar Madame Hooch. E, por último, é preciso avisar que, este
ano, o corredor do terceiro andar do lado direito está proibido a todos que não quiserem ter uma morte
muito dolorosa.”
Harry riu, mas foi um dos poucos que fez isso.
– Ele não está falando sério! – cochichou a Percy.
– Deve estar – respondeu Percy franzindo a testa para Dumbledore. – É estranho porque em geral ele
sempre nos diz a razão por que somos proibidos de ir a algum lugar. A floresta está cheia de animais
selvagens, todo o mundo sabe disso. Acho que poderia ter dito aos monitores, pelo menos.
– E agora, antes de irmos para a cama, vamos cantar o hino da escola! – exclamou Dumbledore. Harry
reparou que os sorrisos dos outros professores tinham amarelado.
Dumbledore fez um pequeno aceno com a varinha como se estivesse tentando espantar uma mosca na
ponta e surgiu no ar uma longa fita dourada, que esvoaçou para o alto das mesas e se enroscou como uma
serpente formando palavras.
– Cada um escolha sua música preferida – convidou Dumbledore –, e lá vamos nós!
E a escola entoou em altos brados:
Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De ideias interessantesPois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro se desmanchar.
Todos terminaram a música em tempos diferentes. E por fim só restaram os gêmeos Weasley cantando
sozinhos, ao som de uma lenta marcha fúnebre. Dumbledore regeu os últimos versos com sua varinha e,
quando eles terminaram, foi um dos que aplaudiram mais alto.
– Ah, a música – disse secando os olhos. – Uma mágica que transcende todas que fazemos aqui! E
agora, hora de dormir. Andando!
Os novos alunos de Grifinória seguiram Percy por entre os grupos que conversavam, saíram do Salão
Principal e subiram a escadaria de mármore. As pernas de Harry pareceram chumbo outra vez mas só
porque estava muito cansado e saciado. Estava cansado demais até para se surpreender que as pessoas
nos retratos ao longo dos corredores murmurassem e apontassem quando eles passavam, ou que duas
vezes Percy os tivesse conduzido por portais escondidos atrás de painéis corrediços e tapeçarias
penduradas. Subiram outras tantas escadas, bocejando e arrastando os pés, e Harry começou a se
perguntar quanto ainda faltava para chegar quando de repente pararam.
Um feixe de bengalas flutuava no ar à frente deles, e quando Percy avançou um passo em sua direção,
começaram a assaltá-lo.
– Pirraça – cochichou Percy para os alunos do primeiro ano. – Um Poltergeist. – E falou em voz alta:
– Pirraça, calma.
Um som alto e grosseiro, como o ar escapando de um balão respondeu:
– Quer que eu vá procurar o barão Sangrento?
Ouviram um estalo e um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada apareceu,
flutuando de pernas cruzadas no ar, segurando as bengalas.
– Oooooooooh! – disse com uma risada malvada. – Calourinhos! Que divertido!
E mergulhou repentinamente contra eles. Todos se abaixaram.
– Vá embora, Pirraça, ou vou contar ao barão, e estou falando sério! – ameaçou Percy.
Pirraça estirou a língua e desapareceu, largando as bengalas na cabeça de Neville. Eles o ouviram
partir zunindo, fazendo retinir os escudos de metal ao passar.
– Vocês tenham cuidado com o Pirraça – recomendou Percy, quando retomaram a caminhada. – O
barão Sangrento é o único que consegue controlá-lo, ele não dá confiança aos monitores. Chegamos.
No finzinho do corredor havia um retrato de uma mulher muito gorda vestida de rosa.
– Senha? – pediu ela.
– Cabeça de Dragão – disse Percy, e o retrato se inclinou para a frente revelando um buraco redondo
na parede. Todos passaram pelo buraco. Neville precisou de um calço. E se viram no sala comunal da
Grifinória, um aposento redondo cheio de poltronas fofas.
Percy indicou às garotas a porta do seu dormitório e, aos meninos, a porta do deles. No alto de uma
escada em caracol – era óbvio que estavam em uma das torres – encontraram finalmente suas camas:
cinco com reposteiros de veludo vermelho-escuro. As malas já haviam sido trazidas. Cansados demais
para falar muito, eles enfiaram os pijamas e caíram na cama.
– Comida de primeira, não foi? – comentou Rony para Harry pelos reposteiros. – Se manda, Perebas!
Ele está roendo os meus lençóis.
Harry ia perguntar a Rony se ele provara as tortinhas de caramelo, mas adormeceu quase
imediatamente.
Talvez Harry tivesse comido demais, porque teve um sonho muito estranho. Estava usando o turbante
do Prof. Quirrell, que não parava de conversar com ele, dizendo que devia se mudar para Sonserina
imediatamente, porque era seu destino. Harry disse ao turbante que não queria ir para Sonserina; o
turbante foi ficando cada vez mais pesado; Harry tentou tirá-lo mas ele começou a apertar sua cabeça até
doer – e aí Malfoy apareceu, rindo do esforço dele. Depois Malfoy se transformou no professor de nariz
de gancho, Snape, cuja gargalhada ecoou alta e fria – houve um clarão verde e Harry acordou, suado e
trêmulo.
Mudou de posição e tornou a dormir, e quando acordou no dia seguinte, nem se lembrou que tinha
sonhado.
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livros que eu tô lendo parte 2
WerewolfVou postar pois eu quero ler esse livro e sou pobre pra comprar (não gosto de usar pdf, então passei pro wattpad pra facilitar)