UM

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CAN YAMAN

...Oito anos mais tarde...


Acordo sentindo minha cabeça doer de uma maneira que parece ser humanamente impossível. Fecho os olhos com força antes de sequer abri-los totalmente. Merda! Eu não deveria ter bebido tanto na festa de encerramento da série. Suspiro, tentando acordar novamente e desta vez consigo manter meus olhos semicerrados.

Meu quarto está uma bagunça sem fim e consigo enxergar isso mesmo com a visão turva.

- Ok, Yaman. – eu suspiro para mim mesmo. – Você precisa levantar.

Eu estou esperando uma pausa agora, isso não me acontece tem tempos. Depois que minha carreira explodiu, sempre estou em algum trabalho, seja novela, filme ou série, o que me fez ganhar alguns prêmios e um nome conhecido ao longo dos anos.

Minha vida profissional deslancha a cada dia mais, é uma escada que só sobe e eu não consigo ver o fim dela ainda. Contudo, minha vida pessoal... É um completo desastre. Talvez isso se dê pelo fato de que, é necessário um equilíbrio. Não se pode ter tudo na vida, já diria minha mãe.

Sento na cama, passando as mãos pelo rosto e dando graças por não estar com nenhum corpo nu ao meu lado.

Meu celular começa a tocar de maneira incessante e vejo o nome Peter, meu empresário, brilhando na tela. O atendo.

- Está vivo, Yaman? – eu posso sentir o deboche de onde estou.

- Mais ou menos. – resmungo, levantando.

- Estava bem bêbado ontem. – ele não diz nada do que eu já não saiba.

- Foi para comemorar as férias também. – rebato, contando um bocejo.

- As gravações da segunda temporada da série começam em meados de agosto. – ele me lembra.

-Excelente, tenho um pouco mais de um mês de férias. – sorrio, indo em direção a cozinha.

Parece que há um gato querendo escalar a minha garganta, tamanha a secura. Ressaca, eu sei.

- Vai viajar?

- Ainda não tenho certeza. – respondo abrindo minha geladeira.

- Bom, liguei só para te avisar que não vai ter coletiva de imprensa hoje, realmente você está de férias. – ele fala e eu sorrio.

- Ainda bem, não quero falar com você até dia dez de agosto, Peter. Tchau.

Encerro a chamada antes que ele me arrume algum trabalho extra. Estamos no fim de junho e eu preciso desesperadamente de um descanso. Tomo dois copos de água em goles rápidos e vou fazer um café para mim, uma tentativa de aliviar a ressaca que consome meu corpo. Quando a cafeteira já está funcionando e enquanto como uma maçã enquanto espero, meu celular toca.

Não pode ser Peter novamente, eu vou afogar o bastardo filho da puta.

Mas me surpreendo ao ver o nome da minha mãe brilhando na tela. Faz um longo tempo que não nos falamos. Um longo tempo de um contato perdido. Engulo a saliva e ela parece pedra passando por minha garganta, mas resolvo atender antes que a ligação caia.

- Anne... – a palavra que há anos não pronuncio sai da minha boca de imediato.

- Filho... – ela fala.

Seu tom de voz me chamando de filho é como uma carícia suave em meu coração pesado. Sinto vontade de chorar, mas me controlo. O café acaba de passar e eu desligo a cafeteira, enquanto ouço um suspiro seu do outro lado.

- O que houve? – pergunto. – Há tanto tempo não liga.

- Eu sei... – ela sussurra. – Eu sei, filho. Mas você virou as costas para nós!

- Annem... – reclamo me servindo com um pouco de café.

- Virou, Can. – ela repreende. E por mais que eu não queira aceitar, sei que é verdade. – Não veio nunca mais, mesmo com todos os pedidos, seu pai só pediu para deixar, que uma hora você voltaria...

Mas eu não voltei.

Ela não diz, mas é exatamente o que ela quer falar. E eu sei. Sei porque eu também diria se estivesse em seu lugar.

- Pedi a Allah por você durante todo esse tempo, filho e sei que Ele continua te protegendo. Uma mãe nunca desiste do seu filho. – ela fala e a sensação de carícia no peito cresce em uns tons a mais.

- Obrigado, annem. – sorrio diante da sua declaração inesperada.

- Filho... Mas eu liguei porque preciso te dar uma noticia. – eu não deixo passar o tom de sua voz, completamente tenso.

- Que notícia? – pergunto um pouco apreensivo.

- Filho, o seu pai está no hospital. Teve um ataque do coração há dois dias. O prognostico não é dos melhores, resolvi te avisar para o caso de, talvez, ser necessário se despedir...

- Anne... – eu murmuro, a interrompendo.

- Ele está na UTI, Can. Sinto muito, não dá mais para adiar. Você precisa voltar.

E eu sabia que aquela não era uma pergunta ou alternativa. Não havia escolhas. Eu precisava fazer algo certo agora. Eu tinha que voltar.



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Gente, expliquei na outra fic que eu passei por alguns problemas e fiquei sem internet, mas já foi restabelecido e se voces quiserem continuar lendo eu vou amar seguindo a escrever!

O capítulo foi pequeno, prometo compensar no próximo, ok?

bjs

Antes de Dizer AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora