TRÊS

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CAN YAMAN

A sensação de estar de volta era incrivelmente confusa e causava um certo arrepio. Era como estar em um sonho, só que eu sabia que não iria acordar a qualquer momento com o despertador tocando. Mesmo que fosse parecido com um sonho, eu sabia que era a realidade.

- Que bom te ver, filho. – minha mãe falou com um nítido sorriso em seu rosto ao me ver.

Eu havia acabado de entrar em casa e o sentimento de nostalgia estava ainda mais forte. Apesar de ela ter insistido para que eu ficasse em sua casa, achei melhor me instalar em minha cabana que eu mantinha desde sempre.

- Annem... – recebi seu abraço saudoso – É bom te ver também. Estava com saudade. – falei e vi seu sorriso.
- Quando chegou?
- Ontem a noite. E não se preocupe, estou bem.
- Can, custava ficar aqui? Esta sempre será sua casa. – lembrou-me.
- Eu sei, mãe. Mas achei melhor ficar lá. – falei e respirei fundo. – Vamos ao hospital? – chamei e ela confirmou com a cabeça.

Por fim, acabamos indo de táxi até o hospital onde meu pai estava. Doeu de uma forma que eu não sabia que era capaz ao ver o meu velho, sedado, pálido, deitado naquela cama. Era um pouco difícil demais de descrever o sentimento de impotência  e dor que me invadia. Queria tirá-lo daquela situação, queria curá-lo. Meu pai não merecia estar ali, essa era a verdade. Ele sempre foi tão saudável, forte e um grande exemplo, estava naquela situação, frágil demais.

- Olá. Você é o Can? – perguntou o médico.

Minha mãe havia dito que o médico passava durante o horário de visita a UTI, com o intuito de atualizar os parentes dos pacientes.
Ele descreveu a situação do meu pai, um ataque do coração quase fatal. Felizmente não foi. A gente sempre pensa que as pessoas que amamos são para sempre, que elas vão estar ali em nossa vida durante toda a eternidade e com isso não valorizamos tanto quanto deveríamos nossos entes queridos. Até estar a beira de perder alguém. Ou até mesmo chegar a perder. Isso é muito difícil, mas talvez sirva para mostrar que a vida é um sopro.
Um dia aqui. E amanhã? Não dá para ter certeza.

- Oi baba. – sussurrei, tocando sua mão fria. – Sai logo dessa. Estou aqui para o senhor, sei que demorei a vir e peço perdão por isso, mas estou aqui... Sei que o senhor consegue ficar bem. É forte demais, babacim. Hein? Estou aqui esperando pelo senhor... OK?

Minha mãe estava chorando e virou o rosto para o outro lado quando a olhei, chorando também.
O médico falou que ele estava sedado para evitar dores, mas que havia tido uma pequena melhora nas últimas 24 horas. Eu só queria que ele se recuperasse de uma vez.
Minha mãe e eu ficamos ali na UTI durante toda a hora que nos foi permitida e fomos embora quando o horário de visita acabou.

- Acho que ele é capaz de sentir que está aqui, Can. Talvez venha a melhorar. – ela me sorriu, apesar das lágrimas.

Os próximos dois dias foram divididos entre momentos de reclusão e idas ao hospital. Meu pai permanecia na mesma e é claro que todos os meios de comunicação comentavam a minha ida repentina a Istambul. Eu havia virado notícia principalmente no Twitter e Instagram, já haviam descoberto a situação do meu pai e agora eu tinha milhares de marcações em minhas redes desejando força e melhoras. Suspirei, deixando o celular de lado após falar com meu empresário e quando vi minha foto naquela manhã na saída do hospital, com o título “Can Yaman, ator de famosa série inglesa, deixa hospital esta manhã.”

Parecia que eu estava hospitalizado. Eu achava terrível o que os jornais faziam para ganhar publicidade. Mesmo que não houvesse avisado a ninguém a respeito da minha volta, todos sabiam e naquele momento me perguntei: E Demet? Será que ela sabe?

Não foi fácil deixá-la para trás há oito anos e eu queria muito saber como ela estava. Saber se estava bem ou se morava em Istambul ainda.
A vida é um sopro.
Lembrei dessa frase quando saí da minha cabana e entrei no jeep que havia alugado para a minha estadia.
A vontade de saber sobre Demet e como estava sua vida era insana, mas eu não fazia ideia de onde ela morava ou qualquer outra informação ao seu respeito.
O que eu estava pensando?
Aparecer do nada e dizer o que?
Oi Demo, então... quanto tempo, não é? Sentiu saudades?

Ri da minha própria babaquisse e meu telefone tocou me trazendo de volta a realidade. Era Burak. Sorri ao atender.

- Alô!
- Ouvi dizer que um famoso ator está em terras turcas. Pode me conceder um autógrafo?
- Babaca. – ri. – Podemos nos ver?
- Tá achando que é assim, Yaman? Estalou os dedos e eu vou? Pensou certo. Podemos nos ver. Onde?
- Você escolhe. Estou por sua conta.
- Vou te mandar o endereço por mensagem. – falou por fim.
- Estou no aguardo.

Finalizamos a chamada e esperei Burak me mandar o endereço do local. Uma rápida pesquisa e vi que se tratava de um bistrô. Programei o GPS e segui para o endereço que ficava do outro lado da cidade.
Burak foi o único amigo que me restou dos tempos passados. Ele não deixou eu me afastar, apesar de fazer anos que não nos víamos, estávamos sempre em contato.

Cheguei a rua onde era o bistrô e segui até encontrá-lo. Estacionei o carro e logo entrei no estabelecimento.

Eu: cheguei aqui. Cadê você?
Burak: oh. Em 10min estou aí. Me atrapalhei na empresa.

Revirei os olhos e guardei o celular no bolso. Decidi pedir uma água no balcão e sentar-me a uma mesa para esperar o atrasado atrapalhado. O local estava vazio, o que agradeci.

- Me vê uma água, por gentileza! – pedi ao balconista ao me aproximar.
- O senhor é muito mal educado. Eu estou na frente e estou fazendo meu pedido.

Uma voz fina soou irritada e então olhei para baixo. Em frente a vitrine de doces e bolos estava uma garotinha que me olhava irritada. Eu deveria lhe dizer que aquela careta era muito fofa para seu um metro de altura, mas temi levar um chute.

- Perdão, senhorita. – eu pedi. – Não havia lhe visto. – a pequena irritadinha bufou em alto e bom som, me dando vontade de rir.
- Tudo bem, mas o senhor precisa olhar melhor, ok?
- Prometo que farei isso. – lhe disse e ela assentiu, soltando um sorriso.
- Tá bom, moço. – voltou a virar pro balcão. – Senhor Aziz eu vou querer uma fatia de torta de chocolate. – ela pareceu finalmente se decidir e eu não consegui me irritar com toda aquela situação, coisa que normalmente aconteceria.
- Princesa, você tem certeza? Tenho certeza que sua mãe falou sem chocolate da última vez. – o homem jogou e ela riu de maneira conspiratória.
- Ela não está hoje, senhor Aziz. Eu não vou contar nadinha e o senhor?
- Sou um túmulo. – ele disse no mesmo tom da risada anterior dela.

Ele serviu uma generosa fatia de torna em uma embalagem e entregou a menina que lhe pagou com algumas moedas.

- Até mais, princesa. – ele disse para ela que acenou.
- Tchau, moço. – disse pra mim e saiu saltitando para fora. Ri, acenando e olhei para o balconista.
- Uma água? – perguntou e eu assenti.
- Por favor. – confirmei. – E a irritadinha vem sozinha?
- Ayla é um doce, eu prometo. A mãe dela tem uma livraria na rua, todos a conhecem, ela não se perde. – ele falou.
- Oh sim, entendi. Bom... Vou sentar para esperar um amigo.
- Tudo bem. Eu já levo a água para o senhor. – falou e antes que eu pudesse seguir, ele me interceptou.  – Sei que não é adequado, mas minha filha é sua fã. Será que poderia dar um autógrafo?
- Claro. Me cobre na saída, sim?
- Obrigado.

Eu finalmente fui sentar a uma mesa e sabia que era pedir demais não ser reconhecido e ter alguns dias normais. Minha carreira estava em pleno auge. Fiquei esperando Burak, que não tardou a chegar, e ainda lembrando da garotinha irritadinha, mas que era um doce. Inclusive pedi um pedaço da mesma torta que ela, não sabia por que, mas ela me encantou.

☆☆☆☆

Tomara que gostem. Amanhã tem capítulo na outra fic.

Bjs

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⏰ Última atualização: Jun 25, 2019 ⏰

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