Do alto de sua Caern, nos Montes Rochosos, um índio de pele avermelhada alto, de cabelos longos e negros presos com o símbolo sagrado dos Uktena feito com as penas da Águia Cinza meditava. Ele estava ouvindo o som dos Tambores Espirituais dos Cheyenne invocando o Protetor-da-Tribo.
O índio levantou-se e olhou em torno. Ele estava sozinho. Do alto das pedras onde gostava de meditar no Grande Espírito, ele podia ver as chamas acesas pelos seus companheiros Uktena de sua Caern, uma enorme caverna encravada em meio a uma montanha que eles chamavam de lar.
Bem não era apenas uma caverna, era o coração espiritual da sua segunda tribo, os Uktena. Porém não era os Uktena que ocupavam os seus pensamentos. Eram os Cheyenne. Com um leve pensamento, o índio se transformou em um enorme lobo vermelho e desceu as pedras em direção a Caern.
Os Tambores apenas tinham confirmado os sonhos que Nuvem-Vermelha tivera nas últimas luas. Como um Theurge, um dos homens-lobo nascidos na Lua Crescente, Nuvem-Vermelha tinha muitas visões, especialmente em relação à sua tribo de origem. Ele tinha sido um Cheyenne antes de se tornar um Uktena. Mas como mandava a lei do Grande Espírito, ele protegeria sua tribo de origem até a morte. Sempre foi assim a relação entre os homens-lobo e as tribos humanas das Terras Puras.
Pelo menos até a chegada dos Arautos do Wyrm, os “homens-brancos”.
Todas as noites Nuvem-Vermelha sentia o Grande Espírito urrar de dor e ódio, a cada avanço dos “homens-brancos” pelas Terras Puras. Eles traziam a doença que estava consumindo continentes velhos, a doença que chamavam de “civilização”. O aumento dos chamados aos Protetores-de-Tribo que pertenciam ao seu Caern indicava a destruição causada pelos Arautos do Wyrm, o rastro de morte deixado pelas tropas de “casacos azuis” ao avançar pelo interior das Terras Puras.
Vários Uktena já tinham partido para ajudar os Apache, os Cherokees, os Navajos, os Yakamas, e muitos não haviam retornado. Milhares de tribos humanas estavam desaparecendo, sendo corrompidas, alienando-se do Grande Espírito, e a força dos Uktena estava se mostrando inútil para conter o avanço dos homens-brancos.
Mas não eram apenas tribos humanas que estavam perecendo. Os Croatan, uma tribo irmã de homens-lobo, havia sido destruída em um embate furioso com o Devorador de Almas, um espírito maligno invocado por Dançarinos da Espiral Negra infiltrados por entre os “homens-brancos”. O Maldito devorara as almas dos Croatan, aumentando o poder da Wyrm sobre as Terras Puras.
Por isso os sonhos que antecederam o chamado dos Cheyenne haviam deixado Nuvem-Vermelha preocupado.
Nuvem-Vermelha sonhara com uma gigantesca sombra passando por cima dos Cheyenne. No sonho, os membros da tribo tentavam fugir da sombra, mas ela os alcançava e os queimava vivos, com um fogo negro e maligno. Depois que a sombra passava, um vento fortíssimo soprava, e a tribo, transformada em cinzas pelo fogo negro, ia se desfazendo até não restar mais nada. Ele tinha que ir até a sua tribo de origem.
Urso-Forte lhe pediu que levasse outros Uktena com ele, mas Nuvem-Vermelha quis ir sozinho. Depois da destruição dos Croatans, Nuvem-Vermelha não queria que o mesmo acontecesse com os Uktena. Ele iria sozinho e se tivesse que morrer, o seu espírito poderia avisar os outros Uktena e dar tempo para que pudessem se preparar. Ou esconder. A não ser que tivesse sua alma devorada por um Maldito.
O Apocalipse estava começando, mas os Cheyennes não ficariam desprotegidos. Eles tinham um Protetor.
Nuvem-Vermelha partiu em direção à sua tribo, usando sua forma de lobo-vermelho em sua viagem. Haviam passado muitas primaveras desde que ele tinha estado com a sua tribo humana, e as memórias de sua juventude inundavam sua mente, à medida que ia cruzando as paisagens áridas da vastidão das Terras Puras.