48 horas

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Seis horas.

Era isso.

Levei minhas mãos aos cabelos e os repuxei. Fechei os olhos, respirando devagar. O som inexistente de um dos diversos corredores da Unidade De Tratamento Intensivo me faziam enlouquecer. Pareciam queimar minhas retinas, minha garganta e minhas costas. Como se em todas essas partes, uma queimadura do mais alto grau se alastrasse e, adentrando minha pele, perfurasse meus ossos, os destruindo tornando pó.

Minha cabeça e meus ouvidos latejavam e acho que teria sido bem melhor ter permanecido junto aos outro na sala de esperas. O barulho, mesmo que pareça irônico, acalmaria minha dor e me faria esquecer de mim mesmo e me preocupar com as demais pessoas que esperavam igual a mim. A mesma pessoa. O mesmo homem de cabelos loiros.

Jimin.

Levanto. Estico as pernas e os braços. Seco o rosto e tiro os menores vestígios de lágrimas. Mais um minuto se passa, mas, parecia que um milênio já havia se passado entre o antigo clique e esse. Fecho os olhos novamente e respiro. Não penso em nada além dos olhos da pessoa que mais amo. De como eu preciso ser forte por ele, por mim e por todos que estão chorando a espera de notícias. Lembro do cheiro de seus cabelos, de como ele se parece um anjo enquanto dorme e de seu sorriso eye-smile ao me dar bom dia.

Sorrio.

Dou um passo e mais outro. Ando o mais rápido que posso para sair daquele corredor e voltar aos outros. Meus pulmões se enchem de ar e se esvaziam mais vezes do que se era possível e meu coração parece alternar entre bater e não bater, como os cliques de meu relógio de pulso.

Começo a correr. Minhas pernas queimam. Meus olhos percorrem todo o ambiente em busca deles, mas, ao invés de seguirem em direção para o lugar onde eu deveria estar, minhas pernas me levam em direção ao centro de enfermagem.

- Posso ajudar?

Viro meu rosto e encontro a mesma enfermeira que me entregou uma ficha para preencher os dados de Jimin. Ela usava brincos pequenos e de tons quentes. Seu nome era Myung.

- Park Jimin. - Digo, devagar. Quase como se o soletrasse e assim, conseguisse sentir o gosto de casa letra em minha lingua.

Ela confirma e escreve algo no computador a sua frente. Em seguida, confirma.

- Acabou de sair de cirurgia.

Meu ar se perde. Minha boca, já seca, parece não querer mais se abrir para retirar o ar de meus pulmões. Pisco.

- Obrigado - agradeço, mesmo assim, ela não ouve, pois já havia ido a outro ponto do balcão para atender outra pessoa.

Corro mais um pouco e empurro a porta da sala de esperas como se não pesasse mais do que uma pena. Todos me encaram. Senhora Park se levanta e anda até mim, secando algumas lágrimas com o dorso da mão direita.

- Jungkook, querido... - Seus olhos estão muito vermelhos e sem vida, além disso, respirava com dificuldade, quase como se seu ar estivesse preso e não houvesse qualquer forma de sair. - A cirurgia não acab...

- Sim - digo, com a voz mais firme do que eu achava ser capaz. Ela franze o cenho. - A cirurgia acabou agora.

Seus olhos se arregalam e ela desaba em meus braços, os quais a acolhem. Digo algumas palavras de conforto, mas não geram muito efeito.

- Ele vai ficar bem - garante ela a mim. Se distanciando o suficiente para conseguir tocar meu rosto com uma das mãos. - Respire, querido. - sussurra. - Você está muito pálido. Tome um copo de água e vamos esperar a médica. Jimin vai ficar bem, ele é forte, ele é muito forte. - sussura a última parte, parecendo tentar convencer a si mesma de que aquilo era verdade.

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