[umbrella]

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Tudo começou em um dia chuvoso.

Estava bem frio e mesmo que eu gostasse de tanta umidade, sentir a água que vinha do céu se acumular nos meus sapatos e encharcar as canelas de minhas calças não era algo que eu apreciasse realmente.

Os carros não paravam de passar e o sinal não parecia mudar nunca. O ponto de ônibus era do outro lado da rua e eu só precisava chegar lá para ter abrigo da chuva e tentar me secar pelo menos um pouco. Eu tinha meu fiel guarda-chuva preto que me acompanhou nas piores das tempestades e nas mais leves garoas.

Só que naquele dia eu passei a ter outra coisa também.

Alguma coisa invadiu meu espaço no meio daquela água toda e eu ouvi a sua voz. Senti seu corpo molhado inundando minhas roupas quase secas e quis me afastar, quis ir embora e deixa-lo na chuva.

Mas acaba que eu sempre sou seu guarda-chuva, não é? Era por isso que você estava ali comigo, se protegendo enquanto pedia desculpa e ria de nervoso, sorrindo como eu sempre vira de longe, me encantando em cada pequeno detalhe.

Nós éramos vizinhos e era sempre curiosa a forma que você me atraía e chamava minha atenção sem fazer muito esforço e eu acabava te colocando como inspiração das músicas que eu produzia. Nelas você era sempre o sol.

É engraçado você ter medo da chuva.

Apesar de tudo, aquela ainda foi a primeira vez que eu ouvi sua voz. Fiquei o dia inteiro brigando comigo mesmo depois que nossos caminhos nos separaram e eu passei o tempo todo contigo na cabeça, ainda que você só tenha me dirigido alguns pares de palavras simpáticas.

Eu torci para que no dia seguinte estivesse chovendo de novo, porque se estivesse, eu falaria com você.

Choveu e você esqueceu o guarda-chuva e de novo precisamos esperar diante da avenida para pegar o ônibus, mas eu fiquei sozinho enquanto te via se encharcar. Parecia nervoso e seu rosto estava fechado em uma carranca que não combinava em nada com o sorriso que eu gostava tanto. Foi então que percebi que precisava de um abrigo não só daquela água toda, então me aproximei devagarzinho até juntar meus ombros com os seus e reparar que sua altura me irritava um pouco. Você se encolheu mas agradeceu um pouco, sorrindo de um jeito que fazia as covinhas sobre os lábios aparecerem e eu permaneci quieto.

No outro dia não choveu.

Eu parei diante daquele sol quente, esperançoso de que o tempo iria virar de repente e você apareceria para ficar debaixo do meu guarda-chuva, logo me entristecendo ao notar que não aconteceria.

Antes que eu pudesse finalmente atravessar e pegar meu ônibus para um dia no trabalho onde eu só pensaria no quanto eu detestava dias como aquele, você apareceu, invadindo meu espaço, como tomou mais tarde, o costume de fazer. Seus cabelos estavam bagunçados diante dos olhos mas você sorria.

E eu soube que quando você sorrisse o sol brilharia.
E quando o sol brilhasse, nós brilhariamos juntos.

"Yoongi-hyung?" testou como meu nome ficava nos teus lábios e pareceu gostar do som tanto quanto eu "Pode parecer estranho, mas eu acho que quero anotar seu telefone".

Não pude deixar de fazer uma expressão confusa. Se lembra que ainda segurava minha mão?

"Você quer ou não meu telefone?" eu sempre fui tão rude e você sempre tão indeciso.

Te vir abaixar a cabeça envergonhado e puxar seu próprio aparelho. Trocamos os números sem que eu pensasse muito sobre isso e atravessamos a rua.

Você sempre foi tão alegre e conseguiu me animar mesmo nos piores dias com suas mensagens bobas que me arrancavam sorrisos mais bobos ainda toda a vez. Até que finalmente me chamou para sair. Eu não lembro muito daquele dia, apenas que estava chovendo e eu te beijei. Acho que era muito cedo para de dizer que estaria aqui para você o tempo todo, contudo eu realmente não me importava.

Então choveu mais do que nunca e eu te vi se inundar enquanto eu mesmo me enxarcava. Tua tempestade era a sua família que te detestava e a minha era uma mistura de tudo o que eu não aguentava sozinho e eu lembro de ter visto o medo nos teus olhos assim como eu lembro do que eu falei depois "Eu disse que seria sempre um amigo. Eu fiz um juramento e vou levar isso até o fim".

Nos tornamos muito mais que amigos, entretanto. A cada vez que deixávamos isso mais e mais claro, quando você tocava minha pele assim como eu me afundava na sua, tão quente, eu percebia que você era minha metade e seria dali até a eternidade. Aprendi a me entregar ao sol não importava o tempo e comecei a gostar mais dele do que da chuva.

O jogo virou e deixou o mundo me mostrar suas cartas mesmo quando tudo estava tudo difícil. Te ouvi me contar coisas absurdas e como tanta gente havia te destruído por dentro e eu te segredei em detalhes precisos como juntos concertaríamos seu coração.

O problema foi você esquecer que, no meio de tanta água, nós ainda teríamos um ao outro, e me partir em pedaços. Você tinha tanto medo, era tão inseguro e eu cansei de te mostrar que sim, você tinha meu coração e não precisava ter receio de mais nada.

Naquela manhã como sempre, estava chovendo. Talvez porque você estivesse triste, o sol não demonstrava seu brilho entre as luzes e as nuvens descarregassem sua força em mim, justo no dia que meu fiel guarda-chuva havia ficado esquecido na sua casa.

Eu sentia a umidade nas minhas roupas e batia os dentes com o vento frio, minhas lágrimas se misturando com as gotas que vinham do céu.

Então parou de chover mesmo que o mundo ao redor continuasse se enxarcando e eu olhei para cima apenas para perceber que você, que sempre foi o meu sol, tornou-se também meu guarda-chuva - um daqueles verdes com bolinhas.

Te vi chorando na minha frente e eu até pensei em atravessar, mas como naquele dia, você me segurou.

"Está chovendo" disse baixinho e eu quis te bater por ser tão insuportavelmente lindo "Amor, tá chovendo."

Te olhei fundo nos olhos e soube que te atingi a alma, tão parecida com a minha.

"Você sempre pode vir para mim, Hoseok" não tinha orgulho para não te perdoar, assim como você era humilde para se arrepender "Entende isso, por favor."

"Me desculpa por não entender antes, hyung"

"Está tudo bem. Você pode vir sempre para meu guarda-chuva." você riu bobo e eu sorri também.

Você sempre precisaria de mim nos dias chuvosos, assim como eu precisaria de ti para me mostrar que os dias de sol são ótimos.

"Eu te amo, minha estrela"

"Te amo, hyung"

Você deixou o guarda-chuva cair naquela chuva torrencial e quando nos beijamos, eu te mostrei que nunca estaríamos a mundos de distância e sempre seria teu abrigo quando achasse que está escuro demais.

Porque você tem meu coração, Jung Hoseok. E tenho quase certeza que em todas as versões existentes de nós mesmos, vou estar ali para te proteger sob meu guarda-chuva.

Umbrella [yoonseok]Onde histórias criam vida. Descubra agora