Capítulo V - Poderoso infortúnio

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"Ainda que os primeiros experimentos não devam ser os únicos para confirmar-se uma hipótese, é correto afirmar que tratam-se dos mais desafiadores e estimulantes. A incerteza do primeiro teste sobre nossas convicções é um sentimento ambíguo. 

Inglaterra, 1811"

Coletânea (secreta) de registros científicos de Lady Margot Moore.


Quisera poder afirmar a caçula da família Moore que o reencontro inesperado com o amigo escocês de seu cunhado fora o único infortúnio que a acometeu naquele dia anteriormente tão repleto de promessas felizes. Ao encontrar novamente a irmã, com a qual pouco havia tido tempo de estar desde tomar ciência dos laços sanguíneos, Margot imaginou estar prestes a iniciar uma semana alegre e tranquila, da qual aproveitaria para restabelecer os pensamentos que andavam pregando-lhe peça, um tanto perdidos. Isto, é claro, até vê-lo. O único homem capaz de ter, um dia, deixado-a realmente distante dos modos polidos e impecáveis que sempre ostentava com orgulho. Aquele escocês, com condutas que julgava grosseiras, desprendendo aquela linguagem tão selvagem como toda a existência dele aparentava-lhe ser.

Não é correto dizer que Margot tivera muitas oportunidades de alimentar ao homem tamanho desafeto. Menos de quatro encontros emoldurados pela família, que o tinha com apreço, haviam sido suficientes para que a moça pudesse, então, fazê-lo. Tendo sido um, o primeiro deles, aliás, o mais pontual de todos quando o assunto era elencar as razões pelas quais tê-lo em Strongcastle House tornava-se um grandessíssimo infortúnio. Havia, em dada ocasião, tido o infeliz a petulância de ofendê-la em sua postura e qualidades físicas, e tal grosseria Margot jamais iria esquecer.

— Se não sou eu o mais azarado homem do reino, não sei dizer quem o é. — Westphall observava à janela do aposento, sendo o vidro coberto pelo lado de fora por espessas gotas de chuva, que formavam uma cortina líquida.

Margot, que havia entrado há instantes ao lado do marido no aposento em que estavam, recebeu o comentário com um sentimento dúbio ocupando-lhe o peito.

Oh, sim. Lá estava o segundo infortúnio do dia.

Logo após chegar em companhia de Ian e Olívia, Nichollas havia anunciado o prenúncio daquele revés.

"Há de logo voltar a cair um temporal."

Dito fora o destino, e o mesmo se cumpriu.

Mal tivera Westphall tempo para avaliar que melhor seria sair antes que promessa se cumprisse, e já via-se ilhado na centenária mansão.

Os deuses benevolentes que haviam oferecido um breve momento de Sol pareciam, agora, tê-lo feito apenas para deixar mais intensa a atmosfera cinzenta e escura que em poucos instante voltava a tomar os céus de Hampshire.

— Ao menos não encontramo-nos ilhados na estrada. — A moça aproximou-se em dois passos curtos, buscando amenizar o incômodo claro do barão.

— Seria mais bem quisto pelos sapos que nos fariam vizinhança nos brejos do que o sou aqui. — Westphall virou-se para ela, ofertando um olhar de resignação, junto ao tom irônico.

— Não é verdade.

— Sabe muito bem que o é. — Westphall notara o tom dela empregar-se em defesa da família, principalmente, da irmã. — Não o digo em nome da condessa... Mas de Lorde Griffinwood que, ao contrário do que havia imaginado, lembra-se tão bem quanto eu das cenas passadas que compartilhamos.

— Não é verdade. — Repetia-se Margot. — Se assim o fosse, por que imagina que faria ele questão de ofertar-nos a melhor suíte da casa quando a necessidade de pernoitar foi-te imposta?

Adequada - Série "As irmãs Moore" Livro 3. [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora