Os anos que vivi tem pesado em meus ossos, mas não posso deixar este plano sem antes contar a mais intrigante história que já ouvi e vivi. Não sei se irão acreditar neste velho às vésperas de completar 90 anos (embora eu desconfie que haja poucas chances de viver até lá), todavia sinto-me na obrigação de registrar estes fatos e torcer para que alguém leia, ainda que não me dê credibilidade alguma. As pessoas não costumam acreditar em velhos, especialmente velhos coveiros que passaram a vida inteira, desde o fim do colegial, vendo histórias encontrando seu ponto final a sete palmos do chão. Acham que a convivência com a morte faz a nossa imaginação ficar fértil e o medo de passar a noite em meio a túmulos, lápides e caixões faz vermos coisas. Ora, mas eu nunca tive medo da morte tampouco de cemitérios e muito menos de passar a noite neles e se tivesse mesmo imaginação fértil não teria gastado meu dia vendo todos os dias a maior tristeza que se pode ter.
Enfim, vou parar com o mistério. A história que contarei é sobre um amigo de infância e adolescência. Éramos solitários garotos comuns, famosos apenas por sermos a ultima escolha na aula de ginástica, aqueles sem grupo nos trabalhos de no mínimo cinco alunos e os que nunca iam aos bailes por falta de par. Eu me incomodava muito com isso e sempre procurava uma forma de me enturmar com alguém. Quase sempre também nutria uma paixão por alguma garota que fosse – segundo diziam – completamente fora de qualquer possibilidade de se interessar por mim. Meu amigo não. Pelo que eu entendia, ele gostava da solidão ou tinha se resignado a ela. Confesso que era complicado entendê-lo, pois era silencioso, taciturno, introspectivo; em anos foram pouquíssimos os momentos em que ele compartilhou comigo algum sentimento, plano futuro ou sequer pensamento. Às vezes eu achava que nem fazia questão de ser meu amigo, mas o fez por apiedar-se do meu desespero para fazer amigos e ser solenemente ignorado por todos. Toda vez que pensava isso, censurava-me, pois independente de seus olhos perdidos e apatia no falar, ele foi um amigo sempre presente e de lealdade impar. Não tive coragem de perguntar, entretanto sempre quis saber se ele havia perdido algo muito importante, para justificar a sensação que ele passava de quem foi parar sozinho no lugar errado e está há muito tempo procurando o caminho de volta. Não era o mesmo de se sentir deslocado em uma festa, mas de encontrar-se sozinho em um pântano que não te trás medo algum embora nenhuma esperança também.
Quando nos formamos fiquei anos sem vê-lo. É normal, a maioria das pessoas fazem amizades para a vida toda na infância ou no colegial que irão acabar logo depois da formatura. Tentamos manter o contato por alguns meses, mas aos poucos as ligações foram diminuindo até que um desaparecesse da vida do outro. Fui reencontrá-lo muitos anos depois – na situação mais desafortunada que há – e talvez esse reencontro teria se limitado aquela troca de olhares e suave meneio da cabeça, cumprimento silencioso de quem respeita o momento de dor. Mas, a presença desse amigo deixou meu ambiente de trabalho mais agitado que de costume e foi assim que começou minha história.
Oh, esqueci de me apresentar, perdoe o descuido. Eu me chamo Niall e meu amigo chamava-se Harry.

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Onde almas perdidas se reencontram (GHOST!LOUIS)
FanfictionNiall é um coveiro que na infância descobriu ser um medium, mas poucas pessoas sabem disso, pois não quer que usem-no como pombo correio do além. Seu melhor amigo, Harry um rapaz taciturno e melancólico que parecia alguém perdido no mundo sabia dess...