Sonhos lúcidos

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Eram apenas 8h30 da manhã quando Carlos fora chamado para a consulta. A coloração acinzentada e morta que tomava o céu e contaminava o consultório pareciam refletir a mente do rapaz.

-Olá, Sr.Carlos. Sou a Dra.Alice, que motivo lhe trouxe aqui? -

O rapaz ajeitou-se na cadeira, meio desconfortável com a poltrona tão acolchoada, encarou o divã mas balançou sutilmente a cabeça, negando a si mesmo a admissão de uma possível loucura, talvez. Como se em um segundo houvesse viajado, retornou ao consultório:

– Desculpe. É...Bem. Eu sou um físico, adoro a minha profissão, adoro estudar e pesquisar, tudo. Não apenas a minha área. Até que resolvi estudar sobre "sonhos lúcidos", bem não é um estudo, mas uma pesquisa a fim de sanar uma curiosidade pessoal. – A feição da senhora que parecia tão amável quanto sua própria mãe tornou-se tão medonho quanto o olhar de seu professor mais detestado durante sua gradação, aquele olhar... O mesmo olhar. --Bem, eu até encontrei alguns métodos na internet, porém, em um deles eu observei que há um risco, o da paralisia do sono. Sei que é um risco meio bobo, mas, como pesquisador, gosto de me precaver. Então, como isso foge da minha área, resolvi buscar a ajuda de um profissional. – Alice respirou fundo e permaneceu imóvel, encarando o paciente por dez segundos intermináveis. – Você já tentou procurar um psiquiatra? – Carlos franziu o cenho e em resposta a sua boca tentou abrir como numa tentativa de resposta contestadora, ou qualquer coisa semelhante, mas não prosseguiu. – Você acha o quê? Que eu iria hipnotizá-lo ou coisa assim? Ou regressão e vidas passadas? Eu sou uma psicóloga séria e não uma bruxa mística. E antes que diga, eu sei que o assunto de sonhos lúcidos são de fato, sérios. Porém isso é uma abominação! O consciente NUNCA deveria sobrepujar o INCONSCIENTE! São instâncias diferentes! Vocês cientistas naturais, tão pragmáticos, egoístas e inescrupulosos querem dominar tudo o que não compreendem, e sempre interferem no que está além de vocês. A psique humana foi feita de uma forma impossibilitada de alterações, as consequências podem não ser mínimas, mas vocês, em seus pedestais de teorias e artigos, não percebem isso. Só veem o lado... físico. Não é mesmo, sr. Carlos? – O físico engoliu a seco, afinal, era a Dra. que precisava urgentemente de um psicólogo, ou psiquiatra, para receitar um calmante. – Mas se você realmente quer se aventurar nisso, procure o Sr.Isaac. Ele é psicólogo e psiquiatra, e já fez pesquisas de pós-graduação neste assunto. Até porque...Se você perder a sua insanidade, eu ficaria imensamente satisfeita com isso, seria mais um cientista a ruir na sua própria arrogância de querer controlar tudo. Passar bem, não precisa pagar. – Carlos levantou-se, ainda calado, digerindo tudo o que acabara de ouvir. Dirigiu-se a porta e abriu-a, hesitou, era necessário um último recado. – A Ciência...Dra. Alice, precisa de sacrifícios. Abominação é a senhora querer limitar o conhecimento humano por causa de filosofia barata. –

Horas mais tarde, Carlos encontrava-se debruçado sobre seu notbook, pesquisando sobre as possíveis consequências da viagem onírica. Porém, os sites sempre repetiam as mesmas informações, alguns conteúdos estrangeiros pareciam interessantes, a falta de segurança era um conflitante para a realização deste precioso desejo. Embora sacríficos fossem necessários, qualquer dano deveria ser o mínimo possível. Afastou o computador e relaxou na mesa, e apagou com a cabeça sobre os braços.

A mesma moça, a moça que viu antes de ontem. Inundou sua mente como a lua afeta as marés, seus traços eram exclusivos, nada do que já vira antes. Era diferente de qualquer pessoa que houvesse visto na rua, e tinha uma estranha certeza disso. Mas, se era então uma desconhecida, por que ela de novo? Como o irreal poderia estar tão...Real? Nada disso, não era real nem mesmo o controle. Percebeu o pensamento e despertou, o sol da manhã já invadia o seu quarto e acertava-o como um tapa em seu rosto. Era o terceiro dia que sonhava com...Ela. Enviou um um e-mail para o Dr. Isaac, na noite anterior. Infelizmente ainda não havia sido respondido. Teve medo de reiniciar um cochilo, então buscou reunir coragem para iniciar a jornada do dia, aulas.

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