Capítulo 7 - Especial Selena's POV

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Ai... ai... ai... ai... Não consigo me mexer. Tudo dói, tudo machuca, tudo sangra, até mesmo se eu piscar. Estou neste quarto escuro a muito tempo - não sei quanto (parei de contar na trigésima nona noite, com dor demais para lembrar em que número havia parado). O máximo de luz que tenho é a janela no topo do quarto, trancada, gradeada e com um plástico roxo pra ficar mais escuro. Só recebo luzes solar e lunar roxas.

Roxo... me lembra ele. Sinto falta dele. Por que ainda não veio me tirar dessa tortura? Por que não veio me salvar? Por que ele me abandonou? Eu confiei nele toda minha vida, e agora pensar nele me trás dor. Não só no coração, mas no corpo. Sempre que eles vinham me fazer maldades, eles colocavam alguma gravação dele falando, fazendo com que meu corpo reagisse mal a sua voz. Se eu ouvisse a porta do quarto abrir, me recolhia. Ouvia a voz dele e começava a chorar.  Sentia dores nas intimidades e enterrava as unhas nos dedos.

Por que eu tenho que passar por isso? O que eu fiz pra merecer toda essa dor?

Ouvi um ruído. Gemi baixinho, me encolhendo no canto do quarto mais longe da porta. Um deles entrou. Pela estatura, sabia ser o que se denomina de Quatro.

-Pronta, vadia? - a voz de Justin soou do aparelho que ele carregava. Como fizeram ser a voz dele? Não tenho ideia, mas me machucava, e muito.

Ouvi meus próprios soluços. Meus dedos se enterraram em meus cabelos. Gritei que não, que não estava, não queria, que me deixasse em paz. Mas, mesmo assim, ele brutalmente pegou meu braço e me jogou deitada no chão.

Eu sabia que homens precisavam se aliviar. Todos eles produzem diariamente sua cota e precisam expeli-la. Mas por que eles tem que ser tão brutais comigo? Não podiam ser mais carinhosos?

Apesar de que, de um tempo pra cá, só o Quatro e o Três têm vindo. O Dois só entra pra me dar comida e de vez em quando me tocar, mas nada que machuque tanto quanto os dois primeiros. O Um parou de vir.

Senti os trapos que eles me deram para vestir sendo arrancados de mim. D'us, por favor, se ainda existe, me ajuda! Eu não aguento mais!

Alguém bateu à porta. A abriu. Quatro virou  para ver o que era.

-Quatro. - disse o outro homem, com a voz do meu amado/odiado Justin também. - O chefe disse que precisa da gente pra carregar as encomendas.

-Agora?

-Agora.

Quatro bufou irritado e saiu dali.

Oh, D'us, muito obrigada! Juro que quando sair daqui, irei à igreja todo santo domingo Lhe agradecer!

Olhei a janela, sem me mover dali. Minhas costas doíam com o baque. Passei a mão no cabelo; eu já havia arrancado tufos demais. Não sei como não engravidei - aqueles dois não cansam facilmente. O pior é que eu tenho que obedecer, tenho que fazer o que me mandarem - eles têm outra pessoa com eles, e eu não sei quem é. Mas não posso deixar que seja machucada por minha culpa.

A porta abriu de novo. Me encolhi, já começando a chorar baixinho. Tão rápido?

Olhei. Não era o mesmo.

-Selena. - a voz de Justin soou. - Vim trazer seu almoço.

Era o Dois. Dois era meu favorito - ele no máximo me pedia um selinho ou um toque simples. As vezes conversava comigo enquanto eu comia - ele quem sempre me trazia o almoço, jantar, café, e as vezes alguns lanches, dependendo da ordem que recebesse. Ele não era meu amigo, entretanto também não era inimigo.

Tentei me sentar e gemi por conta das costas. Ele deixou a bandeija no chão e me ajudou a sentar. Arfei.

-Quanto está doendo? - ele me perguntava isso as vezes. Que nem quando a Hazel, de A Culpa É Das Estrelas, foi ao hospital e ela deu o número nove. Ele perguntou se eu já havia lido, e quando disse que sim, Dois começou a perguntar isso.

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