Respira Mel, apenas respire!
― Vá direto para o seu quarto, vou ligar para o seu pai para saber sobre o Isaque, e depois conversaremos.
― Mas, pai...
― Mas nada, dona Isabela.
― Eu quero saber do meu irmão! ― Minha filha pode ter doze anos, mas se comporta como se ainda tivesse cinco. Um bico na boca, ainda com o cinto de segurança e os braços cruzados. Nossa, só falta prender a respiração. ― Essa porra aconteceu por causa dele, ele precisava de mim e eu fiz meu papel de irmã mais velha!
― Olha essa boca, garota! Já disse que você é muito nova para ser uma cópia do seu pai.
Isabela é terrível. Amo minha filha e daria minha vida por ela se for necessário. Contudo, não sou cego. Isabela é geniosa, tem traços fortes do Juca e, infelizmente, uma coisa ou outra da mãe biológica. Mas me sinto muito orgulhoso, porque minha menina tem muito de mim, mesmo que os genes não sejam os mesmos. E senhor, eu ia esquecendo, ela é tão briguenta ou mais que Caio.
― Papa, por favor!
― Quarto, Isabela. E o seu, não dos seus irmãos!
― Aaaaaahhhhh!!!
Ela sai batendo a porta do carro, parece até que nunca usou uma geladeira.
― Dai-me paciência, meu bom Deus, para criar essa menina para ser gente.
Continuo olhando para o teto do carro esperando um milagre da paciência me inundar. Não acontece.
― Alô, amor? ― Atendo o telefone com a foto do meu marido, sua cara mais safada pós-sexo. ― Como está o meu neném? Isaque reclamou de algo, falta de ar? ― Eu estava firme com a Bela, mas isso não quer dizer que realmente estava tranquilo quanto ao meu filho caçula. Isaque teve a saúde muito fragilizada e colhia, infelizmente, as consequências disso. ― Fala!
― Acalma o coração, meu príncipe. Ele está bem.
As palavras do meu marido tiveram o poder do milagre que estava pedindo.
― Oh céus, que notícia boa. ― Minha cabeça pende para o volante. ― Ele vai poder vir para casa?
― Vai sim, amor. Ele esteve tranquilo todo o caminho e sempre dizendo que estava bem, que não tinha porque eu estar querendo matar as pessoas na rua e nos outros carros.
Rio com sua fala. Meu filho é tão inteligente, não é porque é meu filho que falo, mas ele é. Tanto tempo com estadias demoradas nos hospitais, que sua maior distração quando os irmãos não estavam presentes, era descobrir coisas novas através da internet. Uma coisa trabalhosa para os pais, pois por Deus, como isso é um terreno fértil para predadores. Programas de controle de pais nem sempre são tão eficazes.
― Ei, pequeno príncipe, eu posso ouvir suas fugadas.
― Desculpa, amor. ― Falo enxugando algumas lágrimas. ― Mas foram tantas vezes com medo de perdê-lo, que, por mais que minha mente saiba que é algo bobo, meu coração não aceita.
― Eu sei. Quer falar com ele?
― Por favor.
Em poucos segundos escuto aquela vozinha arranhada por culpa de um resfriado.
― Oi, mama, eu tô bem. Não chora. ― Rio. Meu filho nunca vai me chamar de pai?
― Oi, minha pequena promessa. ― Escuto sua gargalhada. Isaque foi o nome escolhido. Ele tinha menos de um ano quando começamos o processo de adoção, então como ainda não havia acostumado com o nome, e também por conta de uma promessa que fiz em prol de sua saúde, seu nome passou para ser este, Isaque. ― Que susto que você nos deu. Está bem mesmo? Contou direitinho para o médico? Realmente não está sentindo dor ou falta de ar? ― Ouço mais uma vez a gargalhada gostosa.
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O Que A Vida Me Ensinou (Capítulo Bônus)
RomanceHá, à primeira vista, a impressão de que a história tratará sobre um tema batido e comum. Porém, em "O que a Vida me Ensinou" o que a autora, sabiamente, nos propõe é perceber a salvação da vida de um homem, a partir do estranhamento que outro lhe c...