Iɴғᴇʟɪᴢᴍᴇɴᴛᴇ Aᴄᴏɴᴛᴇᴄᴇ

Capítulo 3: Refuge

Dercy, 12 de Novembro de 1988

Pratos quebrando. Se despedaçando e partindo em centenas de pedaços sobre o chão de madeira avermelhada. Gritos, pedidos desesperados de socorro. Meus pais brigam mais uma vez, porém, parece ser mais sério que de costume. Ele bate nela, tapas e mais tapas, puxões em seus longos cabelos escuros. Dói, eu sei que dói por sua expressão... expressão de dor, de medo. Quero ajudá-la, mas o medo me impede. Estou escondida em meu pequeno esconderijo, um armário velho que está situado na cozinha e uso para brincar ou muitas das vezes me esconder, como agora.
Ele a empurrou, fazendo a mesma cair e machucar a cabeça na mesa. Cacos de vidro se espalham ao redor, o som da colisão é alto o suficiente para me assustar. Sua cabeça sangra e vai escorrendo até atingir o chão, quase se camuflando na velha madeira. O homem senta encima da frágil mulher, coloca suas grandes mãos em seu pescoço e aperta. Posso o ver apertando. A mesma tenta com o restante de suas forças retirar as mãos do homem de si. Ela se debate, arregala os olhos e tenta gritar, mas está fraca, muito fraca. Aos poucos seu corpo vai parando de se movimentar, parando de lutar por sua vida.
Ele para. Se levanta rapidamente e põe as mãos na cabeça, sujando-se com o sangue da pobre mulher. Sua expressão é de desespero. Estou observando tudo por uma pequena abertura.
Sai correndo rapidamente, saindo do meu ponto de vista. Lágrimas escorrem por meu rosto, mas sinto apenas um vazio. Silêncio. Tudo o que posso escutar é minha própria respiração juntamente com meus soluços. Minutos depois começo a ouvir sirenes, cada vez mais próximas de mim. De repente me alcançam e sou capaz de ouvir vozes, muitas vozes. Pessoas invadem meu campo de visão e vão até o corpo de minha mãe. São policiais. Perco o controle sobre mim e começo a chorar desesperadamente, chamando a atenção de todos presentes. Eles procuram e me acham. Tudo o que lembro após isso é um rapaz me puxando para fora e me levando para longe... longe da minha mãe, da minha casa, de tudo.