[concluída]
Quando uma morte é capaz de chocar uma cidade inteira, e desestruturar uma família aparentemente normal, a polícia precisa agir para descobrir o que realmente aconteceu na madrugada de 25 de setembro com Elizabeth Williams; e conseguir m...
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| UM DIA ANTES DE ELIZABETH WILLIAMS MORRER |
LAVEI O ROSTO COM ÁGUA GELADA pela terceira ou quarta vez aquela manhã, minhas mãos estavam trêmulas e a respiração ofegante, meu coração estava acelerado e doía cada vez que eu o sentia pulsar dentro do peito. Enxuguei o rosto na toalha felpuda e abri a porta do banheiro dando de cara com a porta do quarto de Elise. Eu queria bater na porta e chamá-la para ver um filme ou sair mas sabia que ela negaria então não me dei ao trabalho.
Elise e eu nunca tivemos uma boa relação de irmãs, devido ao favoritismo de papai que me favorecia e a prejudicava. Admito que durante toda a vida tive privilégios que foram negados a ela, isso inclui amor e atenção. Nunca entendi porquê papai tem essa preferência em relação a uma das filhas, sendo que deveria amar-nos igualmente. De qualquer forma, todo o peso dessa injustiça recaiu sobre a nossa relação, o que a fez se afastar de mim.
Me olhei no espelho sujo do meu quarto, passando os olhos por cada extremidade do meu corpo, tocando as pintinhas no rosto e sorrindo. A porta se abriu num baque estranhamente alto, virei o rosto e encontrei Daniel ofegante e vermelho parado à porta, ele parecia irritado.
–– Oi meu amor, – sorri e andei até ele –– o que aconteceu?
Ele fechou a porta atrás de si com uma agressividade um tanto natural para mim, Daniel é um bom garoto e um ótimo namorado, mas tem um temperamento ruim e consegue ser péssimo quando se esforça. Ele acabou com a distância entre nós e segurou a minha mão entre as suas, ignorando a minha pergunta, traçando linhas imaginárias por toda a extensão do meu braço.
–– Lizzy, você sabe que eu odeio mentiras não sabe? – franzi o cenho confusa com o tema da conversa, mas assenti. –– E também sabe que eu odeio ser enganado não é?
–– Sim, claro que sei. O que está acontecendo? – ele continuava passando os dedos sobre a minha pele e não estava olhando em meus olhos, com a mão livre eu tentei tocar seu rosto mas ele me impediu.
Seu olhar frio me assustou tanto, ele jamais havia sido tão rude comigo. Sua mão parou de passear pelo meu braço e subiu para o pescoço, ele pressionou aquela área por longos dois minutos e eu não consegui reagir.
–– Por que fez isso comigo, Lizzy? – agora ele estava com os olhos marejados, e parecia realmente triste. Eu estava tão confusa, céus, não conseguia entender nada.
–– O que aconteceu, Dan? – ele baixou o olhar por um tempo e depois sorriu amargamente.
–– Você me traiu. – as palavras foram cuspidas de dentro para fora com uma força assustadora.
–– Deus, onde você estava? Por que está me acusando injustamente? – perguntei e ele riu, mas a alegria aparente não atingia os olhos, as orbes estavam obscuras e me causavam calafrios.
–– Você estava na casa do James semana passada, Elizabeth. Estava com ele quando me disse que iria na casa de uma amiga, você mentiu. Mentiu porque não me ama, mentiu porque me trai.
–– Você não entendeu nada. – sussurrei para ele, segurando seu braço quando ele ameaçou se afastar. –– Eu fui visitar Catarina como disse, mas ele me ligou e disse que precisava de ajuda, Dan. É meu amigo, nosso amigo. Como pode duvidar de mim?
–– Você é uma sonsa, fingida. Acha que me engana?
–– Eu não trai você! – esbravejei, os olhos queimando, as lágrimas ameaçando cair e o coração apertado.
Ele se moveu em minha direção outra vez segurando meu pescoço, era a segunda vez em tão pouco tempo que ele me agredia. O que está havendo aqui?
–– Você me traiu, Elizabeth. Eu sei que traiu, e vai me pagar por isso, ouviu? Vocês dois, vão pagar caro por isso. – ele estava totalmente descontrolado, os olhos vermelhos e arregalados, a mão forte apertando meu pescoço e me impedindo de respirar.
–– Você não pode fazer nada comigo! Vou até a polícia, vou prestar queixa contra você e contar tudo o que aconteceu aqui. Acabou! Ouviu? Acabou, eu quero que você suma da minha vida! – gritei alto o suficiente para que toda a cidade ouvisse, Daniel parecia assustado agora.
–– Se for na polícia, eu mato você. – a porta se abriu e Elise entrou no quarto assustada, intercalou o olhar entre Daniel e eu, e suspirou.
–– Vá embora, Daniel. – mandou, sem sequer olhar em seus olhos.
Ele me olhou uma última vez, bateu o braço propositalmente na cômoda e derrubou uma fotografia que havíamos tirado no verão passado, o barulho do vidro se despedaçando fazia um ótimo contraste com o que estava acontecendo com o meu coração agora, chega a ser cômico.
–– Você está bem? – perguntou a certa distância, com cautela. Eu sorri e assenti.
–– Obrigada, irmã. – ela balançou a cabeça positivamente e saiu do quarto me deixando sozinha e assustada.
[...]
Daniel voltou horas depois, me pedindo perdão.
Conversei com ele na sala, com uma distância significativa entre nós, pela primeira vez eu estava com medo do meu namorado. Ou ex, eu não sei. Dan nunca havia demonstrado ser alguém agressivo, e seu pequeno surto mais cedo me pegou de surpresa e me assustou bastante.
Agora ele parecia mais calmo, mas eu estava com os nervos a flor da pele e tudo que saía de sua boca se misturavam a confusão na minha cabeça, morrendo ali mesmo.
–– Tudo bem, Dan. Nós podemos falar sobre isso depois, ok? Eu preciso pensar, e ter você aqui não ajuda. – seus olhos estavam escuros e seu olhar era pesado sobre mim, apesar de não parecer calmo ele concordou sem protestar e se dirigiu até a saída.
–– Não esqueça que eu amo você, Liz. – foi o que ele disse antes de sair, meus olhos foram cobertos por lágrimas que reprimi rapidamente.
Respirei fundo e andei até a cozinha, olhando papai cozinhar e conversar com Elise. Tentei ser o mais discreta possível ao observar a cena incomum e sorri para eles, era assim que deveria ter sido desde o início.
–– Lizzy, não quer me ajudar a terminar o jantar? Sua irmã não sabe nem cortar uma cebola direito. – papai disse quando eu entrei na cozinha e eu sorri.
–– Sim, papai.
–– Claro que não sei cozinhar, você ensinou tudo pra Lizzy e esqueceu que eu existo. – Elise soltou e um silêncio cruel tomou a cozinha, sendo quebrado logo em seguida pelo som da sua risada. –– Não façam essas caras, eu não me importo mais.
Papai sorriu e continuou a preparar o jantar, falando animadamente sobre um jogo que passaria hoje, e não notou quando Elise saiu da cozinha. O sorriso que estava em seu rosto aos poucos morrendo ao passo em que ela se distanciava de nós.