Condição

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— Pi! Eu não posso acreditar que você fez isso! — O pequeno cachorro pulava nas pernas do mais novo, dentro da casa do seu veterano.

— Ele tem o nome que você escolheu. Se chama Carrot. Talvez você não possa ser o melhor dono, mas quem sabe o sócio do dono? — O garoto riu de como o homem poderia utilizar seus aprendizados universitários até mesmo no seu dia a dia.

— Com certeza! Oh, eu não sei nem o que dizer. Posso vir vê-lo de vez em quando, então? — Poderia soar um tanto oferecido, mas desde quando sócios poderiam ser barrados de suas propriedades?

— Você terá que assumir as responsabilidades se não vier...

Depois de mais de um mês, quando foi divulgado que seu nong havia ganhado o concurso pelo novo design do site de economia, Saint pensou como podia agradar o garoto. A verdade era que, independente do que pensasse, tudo que vinha à sua cabeça eram os momentos que o calouro havia feito com o pequeno animal e os eventos que sucederam a isso. Por essa razão, adotou-o.

— Desculpe por não poder te trazer aqui antes. Estava um pouco bagunçado com a volta da minha mãe para a casa dos meus avós. — O mais novo correu para o outro e, no calor do momento, tentou o abraçar.

O que tinha tudo para ser um momento perfeito para ambos, foi levemente estragado quando o joelho do garoto coincidiu com a canela do outro, assustando-o. Quando Perth estava prestes a soltá-lo, o veterano puxou novamente o corpo alheio. A dor não impediu o mais velho de devolver o que havia recebido. O cheiro de roupa limpa que emanava do calouro, fez o mais velho perceber o quão confortável era estar ao lado do menino.

O cachorro pulava em volta dos dois, latindo. Ao se soltarem, o garoto se sentia envergonhado. Por isso, sua primeira reação foi abaixar-se para brincar com o que resmungava em volta deles. Se o outro não tivesse saído em direção aos outros cômodos do apartamento, o rubor do mais novo poderia ter incendiado o local.

Era errado ele desejar mais?

— Eu tenho algo para te mostrar. — O menino, após soltar o pequeno cão que tinha o adorado, seguiu seu Pi até o quarto, fechando automaticamente a porta atrás de si. E esse era um costume que trazia de casa.

— O que é? — Ajoelhado no tapete do quarto e mexendo na sua mochila, o homem encontrou mais um de seus bilhetes. Por algum tempo, ele até já havia se esquecido disso, visto que fazia tanto tempo que nenhum aparecia.

"Duvide que as estrelas sejam fogo, duvide que o sol se mova, duvide que a verdade seja mentira, mas nunca duvide que eu te amo." Eu imagino que não há nada que preciso declarar aqui. Mas caso eu esteja errado, quero deixar claro que te amo.

- Cartas para Julieta

O papel parecia amarelado, o que fez o mais velho pensar que já estava ali há mais do que ele poderia imaginar. Quer dizer então que não era um bilhete novo. Ou seja, eles haviam realmente cessado? A pessoa tinha cansado de brincar? Ou apenas não gostava mais dele?

O mais novo percebeu que o outro possuía algo nas mãos. Seus olhos voltaram-se para o papel que já tinha impressão de antiguidade. O coração do garoto batia mais rápido cada vez que seu Pi havia recebido um bilhete novo. Nem ele poderia identificar em qual momento havia ficado tão preocupado com esse tipo de coisa.

Enquanto limpava a garganta, o mais velho fazia questão de procurar o que realmente queria. Ele já havia perdido muito tempo teorizando sobre a procedência desses pequenos pedaços de papéis, criando ilusões em sua cabeça. Ele jamais houvera sido uma pessoa que se preocupava com coisas sem importância. Por isso, ele se questionava quando isso havia tomado uma proporção maior em sua cabeça.

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