Capítulo 5: Maio de 1493

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Itália, maio de 1493.  

- Minha senhora, o casamento está já arranjado a um tempo. - A dama me falava com extrema alegria. - Teu pai sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para ti.

  - Sabe o que é melhor para mim? - Arremesso um vaso na parede e a moça se encolhe quando os cacos de porcelana voam para todo lado. - Eu não quero me casar com aquele bastardo Sforza, espero que meu pai arda no inferno. - Caminho bravejando de um lado para o outro no quarto. 

  - Algum problema aqui? - No meio de minha raiva não percebi que meu irmão tinha entrado no quarto. - Algo assombra seus pensamentos minha irmã?

  - Meu querido irmão, convença nosso pai a anular o matrimonio. - Aproximo-me dele enterrando meu rosto em seu peito. Ele tinha um cheiro bom e isso me acalmava. - Não quero passar a minha vida longe de ti e muito menos com aquele maldito Sforza.

  - É necessário irmã. - Ele alisa minha cabeça me acalmando mais. - Pelo bem de nosso pai e de nossa família temos que fazer alguns sacrifícios, eu mesmo fui obrigado a entrar para a vida na igreja, mesmo não gostando nem um pouco disso. - Ele sorri para mim levantando meu queixo para que eu venha a encarar seus olhos. - São um bando de velho gagas cultuando Deus, um tremendo tédio incensante. Você terá um marido para explorar financeiramente. - Ele da risada baixinho.

  - Mas... - Tento sorrir mas não consigo. Não quero sair de perto de minha família. - Eu não quero ter que ir, já passei tanto tempo longe dos meus...

  - Tudo dará certo minha cara irmã. - Ele sorrir para mim. - Não venha a se preocupar com nada, pois, qualquer coisa que lhe aflija, eu estarei lá o mais rápido possível para resolver. - Ele me dá um beijo na bochecha e sorrir novamente. - Temos que ir, se apronte, nosso pai nos aguarda.

  Consinto com a cabeça e sento na cadeira para que a minha dama possa arrumar meus cabelos. Ela penteia vagarosamente meus cachos enquanto olho meu rosto no espelho, passo a mão em meus olhos para que não percebam que posso ter chorado e então arrumada sigo do meu quarto em direção aos aposentos de meu pai.

  Caminho pelos corredores daquele local imenso passando por todos aqueles velhos e guardas, subo as escadas e paro diante da porta dos aposentos de meu pai, um dos guardas abre e entro. 

Meu pai estava sendo vestido por um de seus camareiros enquanto se olhava diante do espelho. Ele observa de canto minha chegada mas não pronuncia uma palavra sequer, continua ali observando suas roupas.

  - Mio padre! - Falo para ele. - Mandou chamar-me?

  - Sim mia figlia, queremos falar com você. - Ele afasta o camareiro e sinaliza para que se retire dos aposentos, o homem curva a cabeça e caminha de costas em direção a saída mantendo sua cabeça curvada na direção de meu pai até sair e fechar a porta. - Queremos ter certeza sobre a garantia do matrimonio que lhe foi arranjado. É algo extremamente importante para nós.

  - É de real necessidade padre? Se eu pudesse optar, não me casaria com este homem. Eu não o amo! - Falo segurando minha frustração e raiva. Principalmente por odiar meu pai falando na terceira pessoa e no plural. Desde que se tornou papa ele vem com essa historia de "não sou mais eu, somos nós pois deus habita em mim".

  - Amor? - Meu pai me olha e ri baixo dando as costas para mim olhando no espelho. - Amor nada tem com isso minha querida, poder é o que importa e sempre vai importar, precisamos de aliança com as principais famílias de Itália, você sabe muito bem que nossa família não é bem vista, mesmo após nós assumirmos este tão cobiçado cargo continuamos sendo observados com maus olhos. - Ele se vira para mim e toca em minha bochecha acariciando com o dedão. - E o que realmente importa mia figlia?

As Crônicas dos Amaldiçoados II, SucubusOnde histórias criam vida. Descubra agora