Capítulo 9

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  Nada como um bom banho de banheira e massagem nos pés, melhor ainda saber que ao sair da água terei um tratamento de spa para meu cabelo e unhas. A água, agora vermelha sangue, parece lavar de mim todo os sentimentos ruins que mantive devido o ataque daquele homem maldito, principalmente por terem matado Hecate, minha pobre Hecate. Alem de Luisa ela foi uma das que ficou comigo por umas boas décadas, triste vê-la partir assim. Estalo os dedos chamando minhas sucubus e duas delas me atendem.

  - Sim senhorita Nina? - Ambas se para com as mãos paradas a frente do corpo, prontas para meu próximo comando.

  - Quem é a responsável na ausência de Hecate? Ela nomeou alguém como auxiliar de sua tarefa? - Pergunto saindo da banheira e caminhando em direção ao espelho onde paro para me observar.

  - Milena nos comandava no caso de ausência da senhorita Hecate. - Elas respondem em coro. Bonitinho a forma que falavam, foi engraçado quando transformei duas irmãs gêmeas, mais curioso ainda que ambas se mostraram compatíveis e formaram uma ligação entre elas. 

  - Tragam-na aqui! - Dou a ordem, elas confirmavam com a cabeça e somem em uma sombra.

  Sigo caminhando até onde deixei a toalha e ando me secando até a sala de estar da cobertura. duas mulheres e um homem me esperavam, ambos humanos, eram a manicure, cabeleireira e o massagista. Com certeza a noite promete. Vou até a cadeira que prepararam para mim e sento, sem nem precisar dizer nada uma delas pena meus pés e começa a lixar as unhas enquanto a outra começa a secar meu cabelo e o massagista apertava minhas mãos, sensação maravilhosa.

  - Mandou me chamar senhorita Nina? - Abro os olhos quando ouço a voz me chamando e vejo uma mulher negra com cabelos cacheados, seus olhos azuis me encaravam com uma especie de admiração e temor. 

  - Milena, correto? - Pergunto e solto um gemido baixinho quando o massagista aperta um ponto na palma de minha mão. - Assim fica difícil me concentrar, mas não para não querido.

  - Sim senhorita Nina, sou a assessora de Hecate, cuido da documentação envolvendo as imigrantes que vem para a senhorita testar a compatibilidade e a analise de novos transformados. - Ela encarava os humanos enquanto falava.

  - Não se preocupe com eles! - Falo acenando com a mão livre para que continue a falar. - Do que mais você era responsável amore?

  - Cuidava também das finanças e dos gastos envolvendo subornos, compra de juízes para esconder homicídios, reparos a locais atacados e qualquer coisa que necessitasse de uma atenção financeira. - Ela fala formalmente e quase sem nenhuma pausa.

  - Certo... - Tiro a mão esquerda de perto do massagista. - A outra agora querido. - Ele da a volta na cadeira e continua a massagem. - Então Hecate era a responsável pela distribuição das tarefas e territórios entre as sucubus, reconhecimento de criaturas em nosso terreno, diplomacia com possíveis caimitas e principalmente, comandar as sucubus desse país servindo diretamente a mim. - Sorrio pra ela. - Selecione uma assessora para cumprir com suas antigas funções, você assumirá as de Hecate, envie para meu e-mail um relatório sobre a sucubus selecionada com o ano de nascimento, de transformação e também uma descrição sobre seus últimos feitos e problemas ao qual se envolveu desde que foi transformada . - Dou uma pausa para verificar a atenção dela, percebo que estava focada no que era dito então continuo. - Assim que receber o relatório irei analisar a pessoa escolhida por você e caso aprove o que eu ler pedirei para que ela me procure. - Observo ela ficar com um olhar curioso. - Sim sei que não fiz isso quando ela a escolheu, entretanto, novos tempos pedem novas medidas. 

  - Não questionarei suas ordens senhorita Nina, o que disser acatarei. - Ela falava prontamente, gostei da garota.

  - Ótimo! - A cabeleireira termina de secar meu cabelo e a manicure começa agora a fazer as minhas unhas das mãos enquanto o massagista vai para meus pés. - Consegue fazer isso em quanto tempo?

  - Mando para a senhora hoje mesmo tudo. - Ela fala e continua na mesma posição, parece uma estatua a garota.

  - Obrigado Milena, a proposito. - Abro um portal numa sombras atrás de mim e um Shadow sai trazendo um cofre. - Achei isso na sede dos malditos religiosos, achei que me levariam para as catacumbas do vaticano mas nem para isso serviram. - Suspiro e volto a olhar para os humanos, sempre bom ter alguns desses seres trabalhando para mim, mais fácil agir e manter uma naturalidade para o mundo exterior com humanos ao meu redor. Claro que manter a boca deles fechada não é barato, mas o medo é sempre um bom motivador para lembrar os que falam demais que eles só tem uma vida. - Pode abrir esse cofre para mim e checar o que tem dentro?

  Milena se aproxima do cofre e observa sua fechadura, era um sistema de combinação que formava uma senha, ela conjura uma especie de agulha de sombra e encaixa na fresta da porta e começa a mover os dedos, consigo perceber que ela estava modelando a sombra que segurava espalhando como uma raiz fina por todo o mecanismo e ao enrijecer de vez o metal estala e a trava se rompe por dentro abrindo a porta.

  - Você é muito inteligente! - Olho esticando o pescoço tentando ver o cofre.

  Ela pega dentro um pequeno livro e o trás para mim entregando em minhas mãos, na verdade parecia mais um diário do que um livro, passo as folhas observando as informações ali contidas. Pareciam algumas historias, na verdade exatas 7 histórias. Passo uma a uma mas a terceira me chama a atenção.

  - Leviathan! - Volto o livro do inicio e checo nome por nome. - Esse livro contem a historia dos 7 príncipes do inferno, estão todos aqui. - Volto do inicio e vou lendo nome por nome. - Mammon, Belzebu, Belphegor, Azazel, Leviathan, Asmodeu e Lúcifer. - O livro conta um pouco sobre cada um, mas por que esse livro estava com eles justo agora? - Algo nisso não me cheira bem, parece meio estranho estar ali, como se estivesse esperando para que eu encontrasse.

  - Gostaria que eu investigasse a ordem e o que andavam fazendo nos últimos tempos senhorita Nina? - Milena abre um portal na sombra abaixo do cofre e ele é engolido pelo chão.

  - Quero sim, fico agradecida. - Continuo lendo o livro atentamente começando a primeira pagina, a historia de Mammon o principado representado pelo pecado da ganancia. - Podem se retirar. - Os humanos se levantam e começam a sair do quarto, Milena atravessa um portal na parede e some também.

  O livro é um manuscrito escrito a muito tempo, analisando o desgaste das folhas e o quanto a tinta esta desbotada eu diria que é do século XVI. Olho a capa, é feita de couro de carneiro e já esta rachada em alguns pontos devido o ressecamento do material. Não encontro o nome do autor e nem nada que indique por quem foi escrito, o texto está todo em latim, termino a investigação e começo a ler.

  Não existem vestígios de um Deus chamado Mammom, porém, existem relatos de um anjo caído muito apegado ao materialismo, tendo inclusive construído um palácio de ouro para Lúcifer. Segundo relatos, sua aparência varia muito. Porém podemos descrevê-lo como um homem de posses, porém, deformado, que sempre carrega uma sacola com moedas de ouro nas costas, que induz os seres humanos em troca de suas almas, por isso referem-se a ele como O devorador de almas, e até mesmo como Anticristo. Segundo a historia, Mammom não tomou parte nem do lado divino, e muito menos do lado obscuro, entretanto acabou sendo subjugado por Lúcifer e trazido para seu lado.

  Com essas informações consigo entender o que cada principado representa e principalmente, onde atacar cada um. Agora eu tenho a chance de conseguir o sangue de cada um dos principados e melhor ainda, com isso conseguirei derrotar o Leviathan, quem sabe o próprio Lúcifer. Fico animada com isso, mas na verdade uma única coisa me motiva imensamente, ter poder o suficiente para fazer aquela maldita da Arabella engolir aquele sorriso de merda que ela me deu ao me humilhar.

  Ainda não consigo compreender a magnitude do poder daquela mulher. A morte. O quão forte ela pode ser? Qual o limite de seu poder? Vicent terá muito trabalho para conseguir tomar a arma daquela ali na força. Pego um cigarro e acendo fumando levantando da cadeira e seguindo para o terraço. Coloco o livro apoiado numa mesa e me apoio com os cotovelos na murada observando as luzes do Vaticano. Sorrio ao lembrar do tempo que passei dentro daquelas paredes, uma menina ingenua e tola, uma garota que aos 13 anos conheceu o quão imenso era o mundo, e o quão problemático ele podia ser. expiro a fumaça pela boca observando ela se dissipar no ar e deixando minha mente viajar para outra epoca.

As Crônicas dos Amaldiçoados II, SucubusOnde histórias criam vida. Descubra agora