- Mas, minha amada, eu te amo!
- Não diga isso! Eu não acredito! - dizia ela, atrás de uma janela, olhando para ele de cima.
Ele, por consequência, olhava para cima, imaginava-a consigo, os dois juntos em um abraço, superando aquela falta de confiança, de crédito.
- Pois não diga que não me acreditas, isso machuca como se uma rocha se afundasse sobre meu peito! - gritou ele, triste.
Magoado seu coração seguia, uma torrente de lágrimas internas; o sangue roxo correndo a toda velocidade, pulsava-o nas veias, suava as mãos fechadas agarradas a um caule de rosa vermelha.
- Não consigo, não, senhor. Não consigo. Não acredito nas profundezas das suas palavras, no que há por trás das máscaras de beleza, nas máscaras da verdade que profundas devem ser falsas - dessa vez disse mais resignada, a moça, pronta para fazer-se entendida como a própria verdade sobre o sentimento alheio.
A noite brilhava sobre seus olhos, como o reflexo de estrelas, um satélite que refletia toda a luz de todas as estrelas, brilhando não própria, mas reflexiva. Sugava toda a beleza do sol escondido atrás do mundo e ninguém percebia.
Já o moço tinha vergonha de se ajoelhar e alguém ver, mesmo na rua vazia, como se implorasse por amor, ou por qualquer outra coisa. Ajoelhar-se-ia, se pudesse provar o que realmente sentia, mas ela parecia não querer acreditar de jeito nenhum. O que ele poderia fazer a partir daquele ponto, senão sair dali?
- Cruzes! - exclamou ele, por fim. - Seja-me mais impossível. Seu coração não amolece um único músculo por mim. Permanece afiado, desconfiado, destratando-me, como a luz destrata do escuro, abusa dele, suga todas as energias dele e assim evapora com seu negrume. A escuridão do escuro então perece sobre sua luminosidade agressiva. Corrompe-me, suga-me a alma sob um pretexto de não ser valiosa. Vá, então, pois me faça isso.
- Pois era a mais odiosa verdade. Não me aguentarias. Sou luz profana, se é que me dizes. Amoleço a escuridão com a agressividade de um fogo de destruição. Sou nada mais que isso. Pois se me quer, queira-me. Mas duvido. Não o alcançarias. Seria melhor se, escondendo-me a percepção de um amor imaginário, fosse embora. Pois mereces coisa melhor; não a mim, luz que omite escuridão, que embriaga os instintos perversos da noite. Fuja de mim.
- Pois então eu fujo. Tu tens razão. Não vos mereço, princesa de discórdia e ilusão, que me corrompe com a agressão dos meus instintos perversos. Tomaste-me em teus braços e me chamara ilusório, talvez iludido. Pois vou-me. Tu tens razão. Mereço algo mais que uma omissória luz antagonista à escuridão que toma conta da noite do mundo. Vou-me embora. Tens razão. Mando-me por becos escuros!
Levantou do joelho em que havia se apoiado para clamar o amor de alguém. Quem sabe não encontraria alguém que o entregaria amor sem precisar ajoelhar-se?
Andara em dois passos arrastados, em seguida em passos leves até dobrar a esquina do fim da rua, de coluna ereta e postura de almirante. Então curvou-se novamente e seguiu com pesar, já fora de vista.
A moça começou a chorar e a pedir que voltasse com o poder da mente, assim que ele sumiu. Talvez adiantasse. Mas não seria muito mais fácil apenas pedir que não fosse ao invés de torcer para que voltasse? Será que ele voltaria mesmo, ou será que ela tinha razão?