227 Rostos

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  A coisa que eu mais gosto nesta altura é observar tudo o que passei até hoje, é lindo olhar para trás e ver como a vida passou por mim. Ver como eu  fui capaz de guardar parte dela no meu bolso e deixar outra voar com o vento, isso sim é algo questionável...

  Já passaram milhares de rostos pela minha vida e cada dia há um novo mas eu nunca sei quem vai estar lá quando eu voltar a abrir os meus olhos. Estranho não é? Ver como da noite para o dia mentalidades mudam e as pessoas desaparecem sem explicação.

  O verão aproxima-se e isso revela diversas facetas das pessoas que normalmente convivemos, alguns estão tristes por ai, outros desesperados para que chegue o último dia e se livrem uns dos outros e ainda existem alguns que estão meio-meio, tal como eu.

  Amo o verão, as sensações que ele nos trás são incríveis! Ter a oportunidade de ir à praia seja noite ou dia, comer gelados, passar o dia a ver filmes com o calorzinho do costume, sair a noite e de dia, chegar a casa cansado depois de um dia incrível,... apesar de muitos não apreciarem esta época do ano, ela é indispensável.

  Contudo este ano tem sido diferente dos restantes, a quantidade de rostos novos é infinita, são caras novas, vícios novos, lugares novos, momentos novos,... demasiada coisa nova acumulada em 9 meses.

 Mas o que são 9 meses ao lado de anos? 

  Desde que o mundo decidiu girar de uma forma absurda que eu penso se realmente posso confiar nas pessoas que convivo no meu dia-a-dia. O meu coração e a minha mente dizem não pois receiam que tudo volte a girar e volte a piorar mas algo mais mudou... Não são apenas os rostos novos e a insegurança.. Eu mudei.

  Não são nove meses, são duzentos e vinte e sete dias. Duzentos e vinte e sete dias a conviver com desconhecidos que apenas vêm uma máscara criada propositada para esta fase da minha vida. O secundário tem sido um verdadeiro tudo ou nada. Num dia é um tudo aquilo que eu sempre quis para a minha vida, no outro ele desaba e eu não suporto uma atitude que seja...

  Estes altos e baixos fizeram a máscara se tornar parte de mim e agora já nem eu mesma me reconheço, ver como me mudei assusta-me pois isso só me dá garantias que o futuro é imprevisível.. Não sinto as coisas como sentia, literalmente tudo mudou, nada se manteve da mesma forma, seja amizades, atitudes minhas, pensamentos, sentimentos, ...

  Por vezes sinto que tive um acidente e pequenos momentos que faziam parte de mim desaparecem enquanto outros permanecem aqui mas diferentes... Já não imagino os momentos de uma forma nítida, lembro-me de pequenas coisas mas quando tento associar e juntar tudo num só para encaixar cada parte dessa memória parece que a minha mente escurece... Algo perdido nas minhas memórias impossibilita-me de reconstruir-las, só sobro eu e partes soltas de algo que em tempos foi uma história como aquela dos filmes que todos conhecem e falam. 

  O meu subconsciente tem razão, não há motivos plausíveis para lutar contra algo que está partido, não há razões para andar descalça sobre vidros partidos, mais vale calçar umas luvas e apanhar esses vidros. Por isso sim, todos os meus dias tenho feito algo novo para recolher aqueles vidros teimosos espalhados pelo chão da minha mente  que insistem em ficar lá soltos e sem rumo. Podia deixar-los lá? Podia claro, bastava ignorar e continuar a minha vida, mas as coisas não são assim. 

  Apesar de eu estar aqui a reclamar de todos os "problemas" que estes vidros me proporcionam, sem eles eu ia sentir a falta de arranjar uma nova forma para os limpar e a ausência deles ia-me matar dia após dia...

  Prefiro arriscar-me a cortar-me de novo e eles saírem ilesos do que viver sem eles. Prefiro a presença deles mesmo que não estejam como novos em uma das janelas dentro de mim. Prefiro recordar a sua vida do que proclamar a sua morte.

My Biggest Disappointment-Part 2 (PT)Onde histórias criam vida. Descubra agora