Lugar especial

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N/A: Oi! Esse capítulo é na maior parte um flashback.

Boa leitura!



Camila


Flashback on

O caminho é íngreme, faz curvas fechadas montanha acima, levando mais alto do que eu já havia estado nos Cárpatos. Eu me agarro com força à mão de Lauren, ficando sem fôlego apesar de andarmos devagar. Aqui o terreno é mais rochoso e as árvores, mais esparsas. O ar é mais rarefeito, o que torna a subida ainda mais difícil.

Até Lauren, que foi criada nessas montanhas, parece respirar com um pouco mais de dificuldade. Está escurecendo e não falamos, concentradas demais em ver onde pisamos, e no silêncio posso ouvi-la inspirar e expirar num ritmo firme ao meu lado.

E então o silêncio daquele local solitário é rompido pelo som de alguém – alguma coisa – perto, porém escondido. Passos indo depressa na direção oposta, escorregando e deslizando montanha abaixo, de modo que lançam pedras no vale abaixo de nós.

Quem – ou o que – passou por nós parece grande – ou talvez seja mais de um...

Aperto com força os dedos de Lauren, fazendo-a parar, e pergunto num sussurro, com preocupação mal disfarçada:

– Lauren? Está ficando tarde... – Olho a distância, procurando formas ou sombras na direção daquele som agourento. – Você não acha que a gente deveria voltar amanhã?

Sei que não preciso lembrá-la de que há ursos e lobos nestas montanhas – e pessoas que destroem vampiros. Tenho certeza de que ela entende por que estou ficando nervosa.

O som de passos fica mais fraco, levado para longe por um vento crescente, mas não me tranquilizo – até que Lauren, que estava meio passo à frente, guiando-me por um caminho no qual me sinto completamente perdida, pergunta baixinho:

– Eu deixaria alguma coisa ruim acontecer a você, Camila? Deixaria que você ao menos tropeçasse?

É uma pergunta que sei que provavelmente sempre vai estar entre nós, tendo em vista como nosso compromisso começou – e quase acabou. Tendo em vista quem Lauren é.

Mesmo sabendo que a resposta sempre será não – que ela jamais deixaria nada de ruim me acontecer – também tenho certeza de que nunca vamos esquecer o que poderia ter acontecido na noite em que ela fez de mim a primeira prisioneira da guerra contra minha família.

Aquele momento em que a estaca – a estaca desaparecida – rolou pelo tapete, perto do fogo, sempre estará conosco.

Às vezes acho que Lauren questiona minha confiança nela mais para se certificar de que eu realmente acredito em seu amor do que para me certificar de que não tenho nada a temer quando estou com ela.

Enquanto tento encarar seus olhos verdes na escuridão que se aproxima, o vento sopra no vale de novo, chocando-se contra nossos corpos, e me desequilibro na encosta íngreme, mas, claro, ela está ali para me firmar, segurando meu braço com a mão livre.

Recupero o equilíbrio, mas ficamos imóveis por um segundo, cara a cara. Esqueço meus temores, porque quero desesperadamente que ela me beije. Sempre que estamos perto assim sozinhas e sinto o cheiro de sua pele e suas mãos em mim, também tenho vontade de sentir seus lábios nos meus.

Mas Lauren tem outros planos – um destino em mente.

– Venha – diz sorrindo como se soubesse que sua pergunta sobre confiança foi respondida; provavelmente pela expressão dos meus olhos, que são mais claros do que os dela e sem dúvida fáceis de ser interpretados à claridade da lua nascente. Tenho certeza de que ela podia ver o que eu estava pensando e, apesar de dizermos uma a outra com frequência como nos sentimos, ainda fico um pouco sem graça ao ver como meu amor por ela deve ser aparente em meus olhos. Ainda me parece estranho ficar tão exposta assim, ao passo que Lauren, treinada desde o nascimento para ser fechada, invulnerável, às vezes é difícil de entender, até mesmo para mim.

O casamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora