Capítulo 7 - Éden

1.4K 160 35
                                    

(Éden)


Na volta para casa, Lílian não ousou perguntar nada de imediato, mas sua curiosidade estava a matando por dentro.

Não queria ser invasiva, talvez não tivesse nenhuma liberdade com Christopher para fazer perguntas, mas era impossível não se questionar.

— Christopher...

— Quer saber sobre o Éden, não é? — ele interrogou, pois sabia da curiosidade dela.

— Sim.

— Não é uma coisa que possa ser contada a qualquer um — ele a olhou rapidamente só para vê-la insatisfeita — Mas, vou contar a você — Christopher começou então. —Você já sabe que os ceifadores um dia foram humanos, não é?

— Sim. Eu sei disso.

— E aí que surgiu o Éden. A alma de um humano é escolhida para ser ceifador pelo tamanho do seu pecado na vida passada. Eles então passam a sentir uma enorme dor, ter certeza de que perderam alguém do passado importante e de que seus crimes são dolorosos demais.

— Não podem se lembrar?

— Não. Só fica dor e angústia. Por isso muitos deles querem voltar e consertar o erro que cometeu. Alguns até conseguem se lembrar da vida passada e isso os deixa com mais vontade de voltar a se tornarem humanos.

— E o que é o Éden para eles?

— Uma forma de voltar.

Lílian mordeu os lábios tentando distinguir aquela história.

— Ainda está confuso. Eu quero perguntar como você tem a chave do Éden, mas...

— Quer saber? — Ele riu. — Eu já fui um anjo, lembra? E os anjos são os únicos que têm a chave do Éden, caso queiram entrar lá.

— Espera. Quer dizer que o Éden tem um significado diferente para os anjos?

— É. É como uma porta para o suicídio, se é que me entende. Mas para os ceifadores, aquele Éden é a chance de voltar limpo e começar de novo.

Lílian conseguiu imaginar como era doloroso para eles viverem uma vida assim, cercada de dor e não poder fazer nada em relação aquilo. Foi então que ela percebeu que em todo lugar existiam histórias tristes.

Pelo resto do caminho, naquela estrada abandonada, Lilian não disse mais nada, apenas imersa em pensamentos agressivos.

Quando chegaram em casa, Roger já estava lá.

— Oi, e aí como foi? — perguntou ele.

Lílian se jogou no sofá, exausta.

— Foi bem e quanto a você? — Christopher perguntou pegando uma bebida.

— Aquela mulher ou coisa que você me mandou ver... Aquela criatura mandou eu entregar isso pra você.

Ele entregou um pergaminho para Christopher.

— Ótimo. Vamos atrás dela amanhã. Ah, — ele tirou um colar do bolso, com uma agulha como pingente. — Para você. Um presente.

Roger olhou aquela coisa estranha, uma agulha em um cordão e verificou de cenho franzido.

— Para que isso? O que é isso?

— Eu já disse, um presente. Não se deixe levar pela simplicidade. Coisas pequenas têm valor . Use. — Christopher pegou a bebida e saiu.

Roger apenas colocou o colar no pescoço e não disse mais nada.

Depois foi até o sofá onde Lílian estava sentada e se sentou ao lado dela.

A Tocada - Entre anjos e demôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora