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W A Y S T O S A Y 

"Você gosta de mim?"

Era minha pergunta mais séria, e acho que a mais frequente.

— Talvez... — ele deu uma piscadela.

— Não considero isso uma resposta decente — resmunguei.

— Não considero isso um nó de gravata decente — Kyungsoo sorriu, puxando a faixa azul pendurada de qualquer jeito no meu pescoço.

— Tenho você pra fazer isso por mim. — Devolvi o sorriso.

— Então, agora eu sou sua babá? — Seus dedos ágeis já haviam feito um laço mais que perfeito — Eu não tenho muito jeito com crianças, você sabe. Elas também não me acham uma pessoa muito interessante.

— Não é verdade! Hahee adora você — arregalei os olhos.

— Ela passou uns quinze minutos comigo, não podemos concluir nada com esse tempo. Acho que ela só curtiu os meus óculos. — O garoto ajeitou as lentes no rosto no mesmo instante.

Sua atenção se voltou para o outro lado do auditório, Soo havia substituído o sorriso morno por um semblante totalmente tenso.

— O quê? — Direcionei meu olhar para o mesmo ponto que ele.

A mulher discreta nos encarava, completamente séria.

— Então, ela resolveu aparecer... — Soo estava inquieto agora. — Estamos tentando melhorar as coisas. — Comentou, tentando me explicar o motivo da aparição da mãe depois de... "tudo".

Toquei seu ombro, fazendo com que seu olhar voltasse a ser meu.

— Espero que dê certo dessa vez. — Sorri com sinceridade, mas ele continuava apreensivo.

— Eu também... — Suspirou — Mas ela não vai mudar de um dia pro outro...

Senti uma pontada no estômago.

— Olha, eu não quero ser...

Fui observado atentamente.

"Um problema", era o que eu ia dizer. Era gritante o quanto a Sra. Do me considerava uma pedra no caminho dela, no caminho do filho. Era nítido que eu parecia um grande peso na vida de Soo.

E, eu era?

Às vezes ficava me perguntando o que eu tinha de tão interessante pra mantê-lo por perto. Porque, fala sério: Do Kyungsoo era incrível.

Eu me lembro da primeira vez que o vi, num dia feio de inverno. Lembro cada detalhe de sua aparição. Caminhou sério por entre todas as pessoas do corredor e foi até mim, como se tivesse muitas outras coisas pra fazer e precisasse falar com certa urgência:

—Você é o cara das fotos? — Perguntou como se fosse um detetive interrogando um suspeito, num daqueles filmes de suspense dos anos noventa.

— Sou. — Respondi, parecendo um daqueles caras suspeitos, assustados, que não são culpados nos mesmos filmes dos anos noventa.

— Ótimo. — Kyungsoo tinha uma voz firme que me fazia ter a impressão de estar falando com alguém muito mais velho, mas tínhamos apenas alguns dias de diferença na idade — Lee acha que seu trabalho vai ficar muito bom no nosso editorial. Pode levá-las pra gente mais tarde?

— Huhun. — Concordei, mesmo não achando meus cliques tão especiais assim.

Além disso, ele parecia extremamente profissional. Era o editor chefe do jornal da escola — com o absurdo talento que tinha com as palavras, não poderia ser menos do que isso —, mas falava como um veterano do The Korea Herald. Me impressionei com o " Lee", maneira totalmente informal como o garoto havia chamado nosso professor de literatura do primeiro ano, fazendo com que ele parecesse um de nossos colegas. Por último, eu seria um sínico se dissesse que não reparei no quanto ele era bonito: tinha um tom de pele adorável que poderia dar a ele bochechas vermelhas no inverno e um tom quente no verão; tinha olhos grandes e intrigantes, com os quais eu me acostumaria a ter por perto, me olhando, enquanto eu fingia dormir; tinha os lábios mais adoráveis do mundo, que formavam um coração perfeito quando ele sorria.

WAYS TO SAY - KAISOOWhere stories live. Discover now