II

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W A Y S    T O   S A Y

Quando acordei, Kyungsoo estava debruçado em sua máquina de escrever.

Visão mais que comum pra mim, e eu adorava.

As costas arqueadas, a calça xadrez do pijama, o chá de maçã perfumando o quarto, a respiração preguiçosa dele. Eu sempre fiquei imóvel por alguns minutos nessas cenas porque eram perfeitas, mas ele sempre percebia muito rápido que eu já estava desperto.

— Ashh. Não fique me olhando — disse, sem nem mesmo precisar me ver, com uma voz só um pouquinho mais alta que as batidas dos dedos nas teclas.

— Desculpe. É um péssimo hábito, eu sei.

Ele riu.

— Não é "péssimo". Só me deixa sem graça.

Eu me espreguicei e espalhei meu corpo pelo colchão, tomando também o lado da cama que era dele e encarando a janela. O Sol ainda estava tímido, não deveria ser mais que seis da manhã.

— Aah! Então, você pode ficar vigiando o meu sono, mas eu não posso vigiar você na sua atividade favorita? Injusto — resmunguei.

Soo me deu uma espiada, os óculos que teimavam em escorregar até a ponta do nariz foram imediatamente ajustados e ele estalou o pescoço — isso sim, um péssimo hábito — antes de retirar a folha de papel recém escrita da máquina e guardar em uma pasta de couro.

— É pra ter certeza de que você não vai ter pesadelos. — Abandonou a escrivaninha — Mas as vezes não adianta muito... — Sentou ao meu lado — Como foi dessa vez?

— Não me lembro.

Eu tinha poucos flashs do que eu pensava ter sido um sonho ruim, e não eram suficientes para narrá-lo. Isso era extremamente comum, e eu preferia assim. Antigamente eles eram claros, e eu pensava neles por dias, porque na verdade eram lembranças. Digo sempre que, magicamente, eles começaram a desaparecer quando soo apareceu e, diferente da reclamação dele sobre eu o espiar enquanto escrevia, a minha sobre ele me olhar dormindo era totalmente mentirosa.

Toda vez que passávamos a noite juntos, eu pegava no sono com os olhos dele sobre mim, tendo que dividir meu namorado com algum romance empoeirado de biblioteca. Nunca era o contrário, porque eu sempre me cansava primeiro. Mas, às vezes, no meio da noite, quando eu despertava por alguns segundos, lá estava ele, cochilando, com o livro pousado no colo, ou melhor:

De frente pra mim, com a cabeça no meu travesseiro, como se tivesse acabado de me dar um beijo de boa noite.

— Melhor assim.

— É — concordei.

— De todo modo, você teve um sono agitado. Eu até levei um soco, sabia?

Me virei para ele, incrédulo.

— Como é?? — Eu o encarei.

— Tô falando sério. Foi bem no meu rosto, você estava com raiva, acho. Espero que eu não seja o culpado...

Fez uma das almofadas voarem pra cima de mim.

— Eu não fiz isso.

— Tá marcado, Kai. Olha bem pra cá. — Kyungsoo apontou para o queixo, tentando me fazer enxergar um hematoma que não existia.

— Mentira! — Cheguei mais perto — Não tem nada aí.

— Bom — ele passou a mão na área perto dos lábios —, tá doendo.

WAYS TO SAY - KAISOOWhere stories live. Discover now