Paredes Brancas

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Eu olhava para além dos embaçados vidros da janela, observava o vento chocar-se contra as copas das árvores as balançando fazendo com que algumas folhas caíssem a medida que as mais fortes continuavam presas aos seus galhos escuros. Por mais que eu estivesse naquela cama a dias ainda sim me sentia cansada, cansada das paredes brancas e sem graça daquele quarto de hospital, cansada daquela cama dura com travesseiros que pareciam ser a causa da minha torcicolo, cansada até mesmo de ver sempre as mesmas pessoas.

Por que eu estou aqui? Bom... Eu já nem sei quais são os motivos que me trouxeram para essa cama, injustiças do destino talvez? Talvez quando o universo jogou sua moeda celestial tenha escolhido dar a mim tais infortúnios.

— Bom dia Anna! — Jackie entrou no meu quarto com seu enorme sorriso e a bandeja do café da manhã.

Não consegui respondê-la apenas virei minha cabeça até que ela estivesse afundada no travesseiro em uma tentativa infantil de me sufocar.

— Já estou vendo que seu humor não mudou muito desde ontem. — Pude ouvi-la puxar o apoio de madeira da bandeja.

— Eu quero ir embora... — Disse de forma abafada.

— Eu sei que quer, mas vai ter de esperar até estar forte o suficiente. Até lá, sente-se para tomar seu café da manhã. — Senti Jackie dar alguns sutis tapas na minha bunda.

Revirando os olhos internamente e me sentei a vendo puxar o apoio para a cama. Na bandeja verde havia um prato com algumas torradas, um suco de laranja, um copinho plástico com gelatina de morango e outro copinho com alguns comprimidos dentro.

— Eu já me sinto forte o suficiente Jackie! Não aguento mais esse lugar. — Reclamei pegando uma das torradas que se ficassem um pouco mais duras quebrariam os meus dentes.

— O Dr. Clarke que vai determinar isso depois do teste de esforço. — Disse colocando um termômetro embaixo do meu braço.

Estou presa a esse lugar a cerca de 38 dias desde que o Hunter inventou de querer parar, quem é Hunter? Hunter era um ex namorado meu e agora é o apelido carinhoso que eu e minha irmã Jessica demos a um dos meus pulmões, bom nem sei se posso chamá-lo assim agora já que ele acabou se tornando mais câncer do que pulmão. Eu provavelmente vou ter que continuar alguns dias em regime fechado e por mais estranho que possa parecer, as visitas diárias da minha irmã são as únicas coisas que tem me animado.

— Lado bom é que a sua febre cessou. — Jackie tirou o termômetro do meu braço pegando meu copo de suco e o copinho com os comprimidos. — Não vai me enganar dessa vez Anna, quero ver você engoli-los.

— Não confia mais em mim enfermeira Jackie? — Perguntei cerrando os olhos.

— Não desde que achei os comprimidos embaixo da cama. Agora tome todos.

Revirando os olhos peguei o suco e os comprimidos tomando todos os três em um gole só virando-me para Jackie e abrindo a boca mostrando que havia engolido todos e não escondido embaixo da língua ou algo do tipo.

— Isso aí! Bate aqui! — Ela estendeu a mão pra mim até que eu lhe desse um hifive desaminado. — Por que não dá uma volta pelo hospital? Vai te animar um pouco.

— Eu queria dar uma volta fora do hospital.

— Anna, eu não sei o jeito fácil de te explicar isso então vou ser direta. — Ela me olhou de forma séria juntando suas mãos próximas ao peito. — Se você sair desse hospital com seu sistema imunológico fraco como estava quando você chegou, tem grandes chances de pegar uma infecção só de respirar lá fora, e os seus pulmões não iriam aguentar uma nova infecção, você não conseguiria respirar, íamos ter que te entubar além de que se o seu pulmão novo chegasse e você estivesse com uma infecção isso te desqualificaria para o transplante e eu acho que você não quer isso não é? Não depois de tudo que passamos.

Quando Eu PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora