capítulo um.

6.4K 302 155
                                    

Corria apressada pelos corredores da faculdade. O Conservatório de Boston (The Boston Conservatory*) já havia presenciado essa cena muitas e muitas vezes, já que em dois anos em que eu estou aqui, eu só estava atrasada. Sempre e em qualquer horário.

A aula de canto começaria em 2 minutos e a professora Melanie com toda a certeza já não aguentava mais me repreender por chegar atrasada. Na verdade, não sei como ela ainda não tinha desistido.

Chego suada e ofegante na porta da sala, recebendo apenas um olhar de reprovação de sua parte. É, acho que agora ela desistiu. Sento - me ao lado de Joalin, minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Ela quase ri de meu estado, perguntando em seguida.

J: Deus do céu, Any, de onde você saiu? Da guerra?

A: Não, amiga, da minha cama atrasada mesmo. Não tomei nem café, peço desculpas pela barriga barulhenta.

J: Qual a dificuldade de colocar um despertador?

A: Nenhuma, eu esqueço. E quando eu lembro de colocar, não funciona comigo. Logo, a dificuldade está nele.

J: Ai ai, Any, não sei como a Melanie ainda não te expulsou da sala dela.

A: Olha, vontade não parece faltar viu. Mas eu acho que acabo compensando - a durante a aula.

J: Então de graças a Deus por ter virado com a bunda pra lua e ter uma voz tão bonita, minha filha. É ela que salva sua pele todos os dias.

Rimos, recebendo outro olhar feio da professora. Me encolho, abrindo meu caderno pra anotar a parte teórica da aula, que dura apenas mais 15 minutos. Guardo as coisas, tirando da bolsa um gravador e a partitura da música.

Não éramos muitos, éramos apenas em 6 alunos e por isso Melanie conseguia corrigir todos. Quando chega minha vez de cantar e ser avaliada, a mulher esguia me olha com um ar desafiador.

Faço os exercícios vocais para preparar a voz e começo a cantar. Minha música se tratava de Halo, da Beyoncé e eu estava nervosa porque a música tinha uma melodia alta e difícil. Canto a canção, quando termino, a mulher ainda permanece com a postura rígida. Como sempre.

M: Seu tempo estava correto e a afinação também. Errou algumas palavras mas soube contornar bem. Treine melhor a respiração para as próximas aulas e poderá cantar todas as frases com mais facilidade. Você tem talento, Any. Continue se esforçando e tente não chegar atrasada.

Assinto, abaixando a cabeça envergonhada. Melanie era uma verdadeira inspiração para mim, decepcioná - la, seja qual for a forma, causava sempre uma tristeza em mim.

Joalin me olha com os dedinhos erguidos e eu sorrio para ela, erguendo os meus também. Saímos juntas da sala. Tínhamos aula de dança agora e nessa sim, eu ficava nervosa.

Eu não tinha nenhuma segurança sobre minha dança e isso acabava me atrapalhando. Josh, meu outro melhor amigo, era o melhor dançarino que tínhamos na escola e sempre me dizia que eu ia muito bem, mas eu nunca conseguia acreditar cem por cento em suas palavras.

Chegamos na sala deixando nossas coisas no canto. Encontro Josh se alongando em frente ao espelho e lhe abraço por trás. Ele para, me lançando um sorriso largo e me abraçando de volta.

J: E aí, cachinhos. Pronta pra arrasar hoje?

A: Você sabe que não, Josh. Acho que nunca vou me sentir pronta pra essa maldita aula.

J: Quem pensa que nem gosta de dançar. te disse que você dança incrivelmente bem, Any. Devia acreditar em si mesma e em seu melhor amigo.

Antes que eu possa responder Joalin volta do banheiro e se junta a nós, ouvindo o final da conversa.

JL: Tentando convencê - la, Josh? Parece ficar cada dia mais difícil.

JB: Pois é, Jô. Any se recusa a acreditar que dança bem.

JL: Any, confiar nos amigos é essencial, sabe.

A: Ih, podem parar de drama. A confiança em vocês existe, falta combinar com a minha.

Dou risada, sendo acompanhada por eles que balançam a cabeça em negação. Eu era bem teimosa e acreditar no que diziam não era meu forte. Nunca foi.

Um barulho forte da porta abrindo nos assusta e nos faz olhar para a entrada do estúdio. Noah Loukamaa Urrea entra na sala, com um olhar pretensioso e a postura arrogante. Reviro os olhos, vendo meus dois melhores amigos lhe sorrir abertamente. Afinal, uma era irmã e outro, melhor amigo. A única pessoa que não ia com a cara de Noah, era eu. Mas eu tinha meus motivos.

N: E , gente.

Abraça a irmã, forte, beijando sua cabeça e bagunçando seus cabelos. Joalin resmunga o empurrando para longe. Quando o menino chega em Josh, começa a melação.

N: Bom dia, amor da minha vida. Como você está?

J: Bom dia, amor. Estou melhor agora.

Os dois riem, bobos, se abraçando forte em seguida. Não entendia essa mania deles de se abraçarem tanto. Eles tinham se visto ontem e parecia que não se viam a meses.

Noah olha para mim, o sorriso sacana vacilando por alguns segundos, que logo recupera - se.

N: Hm, olha quem temos aqui.

Seu corpo vem para cima do meu, abraçando - me. Abraço para que Joalin e Josh impliquem mais tarde. Sua voz é um sussurro em meu ouvido.

N: Saudades, linda.

O beijo casto deixado no lóbulo de minha orelha é o suficiente para que eu o afaste de mim. Ele sorri, sabendo o que causa, e se distancia depois.

Josh, Joalin e ele conversam enquanto estou quieta no canto da sala, alongando para a aula. Quando a professora Francisca entra na sala para a aula, eles se separam e Noah vem para meu lado. Rolo os olhos. A tortura sempre, sempre estava presente nas aulas de dança do Conservatório de Boston e não, não era pelos movimentos difícil e pelo esforço exigido.

Meu incômodo tinha nome, sobrenome e era irmão da minha melhor amiga.

Noah Loukamaa Urrea.

Eu Me ProíboOnde histórias criam vida. Descubra agora