Antônia...

79 3 0
                                    

Mais um dia comum na vida dele, acordando cedo, sentindo o peso da rotina em seus ombros e sendo assolado pelas relações humanas e potenciais desastres psicológicos com suas experiências passadas... Mais um dia se passando e ele sentia medo de acabar se acostumando com as situações em que ele vivia, mas era inevitável se sentir mal, as coisas realmente não andavam bem, mas, ele sabia que tinha que continuar, se manter forte e determinado, porque precisava continuar todos os dias, mesmo não se sentindo completo, mesmo não se sentindo encaixando nas situações em que a vida lhe reservara.

E o dia dele começou, como qualquer outro dia, um dia cheio na faculdade, onde era difícil encontrar pessoas que estavam lá pela razão principal, que era garantir os direitos dos outros e dar justiça a quem merece, a maioria estava lá por necessidade de se auto-afirmar na sociedade e manter status sociais, fazendo o curso por puro egoísmo moral, e, mais uma vez, ele não se encaixava... Sentia-se distante das pessoas, a todo o momento ele se sentia distante, pensava mil e uma vezes antes de qualquer interação que não fosse superficial com as pessoas, ele sentia que fazia o que amava, mas aquele não era seu lugar... Ele tinha muitas dúvidas do seu próprio potencial e não fazia ideia do quanto ele era brilhante...

Mas a vida é assim, os contextos sociais te tornam cada vez menor e tentar ofuscar a grandeza de suas afirmações pessoais, tentam te diminuir e tentam tornar opaco a sua luz, mas estamos falando dele, não era qualquer pessoa, ele era grande, enorme, gigantesco... Ele era como um eletrocardiograma, sempre oscilando, indo dos pontos mais abissais de sua alma, as cristas mais absurdamente altas de seu coração, ele transitava perene sem medo, sem se acanhar, ele era realmente especial...

Os dias passavam rápido demais e suas obrigações com sua família lhe cobrara diversas necessidades emocionais que o mesmo não detinha, mas sempre acenava com a cabeça e se mostrava forte, retia qualquer problema para si e mantinha-se firme... Seus pais precisavam dele, precisava que ele fosse forte todos os dias para com as pessoas de sua família, e ele desempenhava a ambiguidade da expressão fácil com maestria, mas, seu travesseiro era o navio em seu mar de lágrimas quando o crepúsculo chegava. Seu coração era bom demais para segurar tanta carga emocional...

E os dias iam se passando até que chegava os finais de semana, os finais de semana sempre foram os melhores para ele, onde ele podia literalmente desligar e fingir que era uma outra pessoa, ele adorava tomar banhos longos de noite, com a luz apagada e com músicas tocando ao fundo, sentia que o mundo ali naquele momento, estava todo parado para ouvir ele cantar suas músicas... (Sorte que não estavam, convenhamos, ele cantava muito mal). As músicas soavam como sangue correndo em suas veias, era o potencial máximo de sua liberdade espiritual, pelo menos até o momento em que sua mãe bate na porta aos berros e o manda desligar o chuveiro, e ele pensa que o tempo passou rápido demais, e, contrariado, desliga o chuveiro...Sentia sua alma lavada, e seu corpo também.

Deitando-se na cama, com seu pijama e com uma das melhores sensações do mundo para ele, que era o toque da sua pele macia e limpa com o toque do lençol da sua cama, gelado e liso... Por mais que aquela sensação durasse por segundos, ele sentia um orgasmo intenso de serotonina e endorfina sendo liberada pela sua cabeça, e ele só conseguia pensar que aquele pequeno ritual começando pelo seu banho durante o dia, era o que fazia os dias valerem a pena, mas tinha a plena certeza de que não era o suficiente...

Ele então deitou-se, apagou as luzes... (Estranhamente para ele, tudo era melhor com as luzes apagadas). E enfim, pegou seu celular e começou a lidar com a realidade social, muito medíocre e fútil, até que se cansou das redes sociais e começou a ver videos no Youtube, especificamente naquele dia, ele assistia "Mr Bean" e dava risadas e sorrisos com aquele inglês bobo, e nisso, passou-se horas da noite, até o início da madrugada, quando ele sente o celular vibrar, era o aplicativo de mensagens, ele não dando muita atenção, pois, passava meses com o aplicativo e se recebia duas ou três mensagens por semana, era muito... Continuou a ignorar e voltou a ver os videos, até que novamente seu celular vibrou, e ele, impaciente como sempre, foi ver o que era... E mal ele sabia... Mas era ela... Sim... Ela... O momento mais esperado por todos que estão lendo esse texto... Ela... Era ela... A VIVO. (Vocês tem noção da cara de pau da Vivo agora ter Whatsapp e mandar mensagem dizendo que ele devia entrar em contato para não cancelarem a sua linha?) Ele viu, bloqueou o número e voltou a ver seus vídeos, e só pensava em como as operadoras de celular não deixavam as pessoas em paz... A madrugada adentrou e ele começava a sentir sono, se preparando para dormir, colocou seu celular para carregar e sem querer tinha colocado o mesmo no silencioso e foi dormir, acordou 1 hora depois com o led do seu celular piscando como um semáforo no meio de um apagão, desbloqueou a tela do celular e quase ficou cego pela claridade, desnorteado, ele demorou a recuperar a consciência do momento, e quando se recordou, era uma mensagem que tinha recebido, tão inocente, mas com tanta carga emocional... Era Antônia, simples, singela, despretensiosa e completamente confortante, ele logo se apegou a singularidade dela, era como se ele estivesse sentindo o seu corpo tocar os lençóis depois de um banho, só que a sensação não tinha fim, era constante...

Antônia...Where stories live. Discover now