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Encontro

CAPÍTULO 1

Desde que fui demitida por corte de despesas, vinha participando de várias entrevistas, entretanto, quando ficavam sabendo que eu tinha uma filha pequena e que era solteira, a resposta era sempre um "sinto muito, a vaga já foi preenchida.", mas – eu amo um "mas" quando traz sentido de contrariedade e que resulta em notícia boa, como é o caso agora – estou empregada! Sim, uma porta se abriu quando eu já ameaçava pular uma janela.

Estamos vivendo do seguro desemprego, porém, restam apenas dois meses para terminar. Confesso que já estava desesperada, tenho algumas contas que estão atrasadas e deixei isso acontecer, pois, minha prioridade é, e sempre será, Melissa. Ela só tem a mim.

Quando contei para o pai de Mel que estava grávida, a primeira coisa que dissera foi para fazer um aborto. Morro de remorso até hoje por ter cogitado a ideia. Naquele dia, vaguei por horas pelas ruas da cidade, minha cabeça girando sobre o que fazer, até que, por acaso, parei em frente a uma loja de roupas para bebês. Dentro do estabelecimento, uma jovem estava sentada em uma grande poltrona e amamentava seu filho. Meu coração apertou ao presenciar aquela cena e, ali, diante daquela imagem, tomei minha decisão.

Assim que comuniquei que ficaria com o bebê, Juliano, o "genitor", disse que então eu criasse a criança sozinha. Suas palavras foram cuspidas com tamanha fúria que na mesma hora pedi proteção ao meu anjo da guarda. Depois desse dia, nunca mais nos vimos. Graças ao pai do céu! Porque também nunca quis e nem quero saber dele. Confesso que morro de medo de um dia encontrá-lo, ou que apareça e queira conhecer Mel. Nunca vou permitir!

Meus pais aceitaram minha decisão, não antes de eu ouvir um longo sermão de seu Afonso e dona Lélia, mas, no fim, me ajudaram e tudo deu certo. Não posso reclamar dos pais que tenho, eles me auxiliaram muito. Hoje moramos longe, estou em São Paulo e eles, no interior do Rio Grande do Sul. Na época, recebi uma proposta muito boa para trabalhar em uma multinacional, foi aí que resolvi mudar. Gosto tanto daqui que, mesmo quando fiquei desempregada, não quis voltar para o Sul. Não foi um período fácil, Mel tinha apenas dois anos e era apegada aos avós, assim como eles eram a ela. Contudo, ao chegar na famosa cidade que nunca dorme, fui abençoada com uma vizinha que me recebera de braços abertos. Dona Maria é como uma tia querida e se não fosse por toda sua ajuda, não posso imaginar o que seria de mim.

Agora vou trabalhar em um grande hotel, o melhor de toda a cidade. Não é na minha área, contudo, no momento não estou podendo escolher. De início, fiquei meio receosa quanto ao horário de trabalho, que será no período da noite, mas depois, analisando por outro ângulo, achei agradável e pertinente, já que Mel e eu teremos a tarde toda junto uma da outra. Vou poder buscá-la na escola, iremos ao parque e, quando voltarmos para casa, lhe darei banho, jantaremos e, ainda após tudo isso, me restarão alguns minutos até meu horário de entrada.

Estou ansiosa e animada, com o pensamento de que, desta vez, minha vida entrará em trilhos seguros para mim e minha filha. Necessito de estabilidade financeira, afinal ela depende unicamente de mim.

Não é algo com o que já tenha trabalhado, mas na atual situação, vale aceitar qualquer coisa. Quando me contataram, minha única preocupação foi Mel, por isso, assim que confirmei a vaga, fui falar com dona Maria, nossa vizinha. Expliquei toda a situação e perguntei se podia cuidar de minha filha, avisando que pagaria por isso. Ela aceitou sem hesitar, só que, de forma alguma, aceitaria o dinheiro. Tentei convencê-la, mas foi irredutível quanto a isso, então por fim, aceitei.

Passei as horas restantes tão ansiosa que mal dormi durante a madrugada. Rolei na cama e me levantei várias vezes para checar se estava tudo bem com Mel. Como consequência, agora, sinto uma incômoda sonolência enquanto corro com os afazeres para não me atrasar no meu primeiro dia de trabalho.

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⏰ Última atualização: Jun 20, 2019 ⏰

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