capítulo único.

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Os habilidosos dígitos do pianista percorreram as teclas brancas com maestria, fazendo com que a melodia ecoasse pelo anfiteatro de forma límpida e majestosa. Naquele momento, sentia-se um herege com o pensamento de que era Deus, comandando todas as notas e teclas como se fossem humanos, estendendo sustenidos ao seu bel prazer, tornando-se o único, o maior, o melhor entre os melhores.
Por um minuto, todos o aplaudiram. Finalmente, aquele era o reconhecimento que merecia, e as palmas uníssonas invadiram os campos de sua audição com um choque de prazer. Levantou-se, de olhos fechados e sorriu.
Ao abrir os olhos, estava sozinho, como sempre. Apenas Ele estava lá. Ele era sua única salva de palmas.

Ele fitou-o com seus olhos negros como a abóbada celeste à meia-noite, sorriu com seus lábios finos e aplaudiu por mais alguns segundos. Levantando-se de seu assento, Ele fitou todo o conjunto que formava o pianista por alguns instantes e decidiu subir ao palco, ainda o encarando com os olhos analíticos.
Ele era como Abraxas. Carregava em si o mal e o bem, em perfeito equilíbrio e harmonia, de tal forma que o sorriso torto que sempre era visto em sua fronte era tão etéreo que até lhe soava deveras perverso. A personalidade era tão correta e incorruptível que algumas vezes Ele parecia um falsário.
Ele chamava-se Moonbin. Ele era o violinista mais experiente de toda a Orquestra, e, inexplicavelmente, o único amigo que Park Minhyuk teve em toda a sua vida.

— Quase perfeito, Park. – Moon sibilou, com a cândida voz despudorada que possuía. – Quase. Continua sendo racional e honrado demais. Ouse enquanto estiver tocando.

Park deixou o ar escapar pelos pulmões tesos e relaxou toda a musculatura do corpo, voltando a se sentar na frente do piano.
— Eu vou mais uma vez. – Sussurrou.
— Não.
— Eu vou. Não me impeça. – O Park disparou, arregaçando as mangas da camisa úmida com o próprio suor, proveniente de tanto esforço.
Voltou a tocar com todo o furor que possuía, dispensando a partitura e qualquer outro apoio.
— Por que, Park? – Moon sussurrou, rente ao ouvido do pianista, sentado ao seu lado. – Por que sempre deseja provar algo para alguém?

...

Naquela manhã de Outono, caminhando pelos bosques de coloração alaranjada e aspecto melancólico do colégio interno, Park Minhyuk sentia-se incompleto. As mãos, envoltas por delicadas faixas de seda, indicavam que, novamente, havia tocado demais. Os dedos estavam doloridos e as mãos habilidosas, calejadas.
A serena brisa da manhã e o melódico cantar dos pássaros o causava leves dores de cabeça. Não sabia dizer se tinha se embebedado ou não. Seu coração pedia por algo, por uma rajada de ar quente, por uma dose a mais de adrenalina nas veias, por alguma coisa.

E então, Ele surgiu.
Majestoso, com seu anárquico semblante nobre, o corpo pudico envolto por um mistério erótico, uma peça rara que havia encantado Park Minhyuk somente ao olhar. Andava sem qualquer pesar e preocupação pelo mesmo bosque, sequer parecendo uma figura humana. Parecia transcendental, uma mistura entre o terreno, o divino e o demoníaco.

Park questionou-se uma, duas, três vezes. Era essa a lufada de ar quente da qual necessitava? Era esse homem a adrenalina da qual seu corpo precisava?

...

Os choques de prazer percorreram todo o corpo do Park, que se desmanchou dentro do homem, apertando a derme quente e suada. Encarou-o nos olhos com uma intensidade que nunca existira antes, sentindo o prazer, a textura, aproveitando a exclusividade daquele momento.
Sentiu os lábios finos do outro nos seus, e os cabelos castanhos sendo puxados para trás. Abriu os olhos e enxergou-o, naquela atmosfera voluptuosamente divina.

— Você é especial, Park. – O Moon recitou, trazendo o corpo para frente, ainda sentado em seu colo. Ousou pousar o indicador sobre os lábios do pianista, sorriu e deitou-se ao seu lado, com o abdômen sujo. Parecia não ligar muito para tal detalhe. Envolveu-se nas confortáveis peles e cobriu Minhyuk também, deitando em seu peitoral logo em seguida. – Eu não quero dormir agora. Eu quero conversar.
— Sobre...?
— Você. – O Moon voltou a deitar-se sobre o corpo do mais novo, e encarou-o, acariciando as maçãs do rosto definidas do outro. – Por que não divide um desejo seu comigo? O maior que você tiver?
— Irá soar deveras infantil.
— Eu não ligo. – Replicou Moon, automaticamente.
— Eu quero ser o maior.
— Em quê?
— O maior e melhor pianista.

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2019 ⏰

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demian ;; binhyukOnde histórias criam vida. Descubra agora