Capítulo único

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Eu era uma garota perdida. Bem, talvez "perdida" não fosse a palavra certa, mas eu estava tentando descobrir o mundo, mesmo sem ter nenhuma noção para onde ir.

Há muito tempo vinha tentando reunir coragem para viajar sem rumo pelo mundo, mas o medo sempre falava mais alto. Medo de me perder, de ser assaltada, sequestrada, violentada, ou talvez até morta. Não, não é fácil viajar sozinha sendo mulher.

Enfim, reuni toda a coragem que tinha, juntando com meu espírito aventureiro trancado à sete chaves, e parti em busca de novos horizontes, em busca da liberdade. Contudo, mesmo já bem longe de casa e tendo viajado cinco países, lá estava eu na China, um dos maiores países do mundo, sem nem mesmo saber para onde ir.

É só seguir reto, dizia minha mente. Mas seguir reto para onde?

Tudo era tão diferente, o que fazia eu me sentir ainda mais perdida, sem saber o que fazer. Tudo o que eu sabia era que eu estava num simpático vilarejo chamado Yongmo. Não era muito grande, mas a paisagem era bem apreciativa. Os aldeões também eram simpáticos e gentis, diferente da frieza que muitas pessoas costumam dizer que os chineses têm.

Eu não sabia para onde ir, onde dormir, nem mesmo tinha como me comunicar com eles, pois desconhecia o idioma. Mas ao invés de me preocupar ainda mais, o que não ajudaria em nada, ajeitei minha mochila pesada nas costas e decidi andar um pouco e ver a paisagem mais de perto. Ainda estava cedo, o sol não estava tão forte, então decidi não dar margem à preocupação - por ora.

Continuei a caminhar pelo que parecia um campo ou uma relva com vários tipos de plantações, o que me fez entender que eu estava numa zona rural. Mais ao longe havia montanhas verdes que ultrapassavam a altura de algumas nuvens que cobriam os raios do sol no céu lindamente azul.

Decidi cessar os passos e me sentei na relva macia, admirando aquele belo lugar. Sem dúvida eu havia feito o certo em deixar o medo de lado e viajar pelo mundo - ainda que eu estivesse um pouco preocupada.

Respirei fundo e decidi desfrutar da bela paisagem, enquanto o vento gostoso soprava meu rosto e alguns fios do meu cabelo preso.

Contudo, por um momento, percebi que eu não estava sozinha. Um sujeito parou perto de mim e me olhou com certa curiosidade - um belo sujeito, por sinal.

Ele era estrangeiro igual a mim, mas usava vestes e chapéu como alguns camponeses do vilarejo.

- Olá. Me desculpe incomodar - disse ele com uma voz suave. - Posso me sentar?

Eu nada podia fazer a não ser assentir. Afinal, eu não era proprietária daquele lugar.

Cheguei um pouco mais para o lado para dar espaço a ele, aproveitando para tirar a mochila pesada que já estava fazendo minha coluna doer.

- Eu vi você chegar e notei que parecia um pouco perdida - disse o camponês num inglês americano perfeito com um sotaque que com certeza não era novaiorquino.

Olhei atentamente para o camponês.

Apesar do chapéu grande cobrir um pouco do seu rosto, percebia-se que sua beleza era tamanha. Seus olhos eram bem expressivos e profundos, seu nariz era afilado, mas o que mais me chamou atenção foi sua boca grande, porém bela. Aprendi que bocas grandes possuíam os mais belos sorrisos, e aquele homem parecia ser uma prova disso.

Contudo, eu teria de ser cautelosa, pois estava sozinha com um homem desconhecido que de uma hora para outra tinha mostrado interesse em ficar perto de mim. Mesmo que fosse um alívio encontrar alguém que pelo menos falasse inglês naquela região, ele ainda era um homem e eu uma mulher.

- Mais ou menos - eu disse. - Estou viajando pelo mundo, mas não sei para onde partir daqui.

Ele olhou para mim. Seu olhar era tão profundo.

O CamponêsOnde histórias criam vida. Descubra agora