Diferente, único.

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Camisa escura do Joy Division, cigarro apagado pendendo entre os lábios e os dedos dedilhando qualquer melodia despreocupadamente desordeira. Aquele era Jeongguk.

Seu turno no café do centro da cidade de Manchester tinha acabado a vinte minutos, estavam prestes a fechar o estabelecimento. Jeongguk trabalhava em troca do baixo salário, poucas gorjetas e uma xicara de café todos os dias de semana e aos sábados. O pouco que ganhava lhe era suficiente para pagar o flat de quarto e cozinha compartilhados, como de comum na cidade.

— Aceita o café, Jeongguk? — Lucy, a atendente e gerente do café o questionou de trás do balcão. O sotaque britânico forte e os cabelos loiros encaracolados caindo pela testa branquinha.

— Oh — Jeon pareceu acordar das divagações e retirou o cigarro apagado dos lábios com o dedo médio e o indicador — Hoje não, Lucy, obrigado.

Levantou-se com cuidado do pequeno banco de madeira e levou o violão surrado até a capa, guardando-o com cuidado.

Seu violão era uma das poucas coisas com a qual tinha um extremo cuidado, música era tudo para si, e criar a própria era seu sonho.

Era um rapaz britânico bonito, de descendência coreana, forte e com cabelos castanhos escuros escorrendo pelas sobrancelhas, os piercings em uma das orelhas e a mania de usar apenas camisas escuras de suas bandas favoritas.

— Tem certeza? Estou fechando o bar — A loira questionou enquanto terminava de limpar a máquina de café expresso, olhando-o por cima do ombro.

— Sim, certeza. Lucy? — Ajeitou as mãos nos bolsos da frente da calça larga escura, escutou um baixíssimo e desconcentrado "hm" em resposta — Posso deixar meu violão no café por hoje?

— Tem um encontro hoje à noite? — Respondeu bem-humorada. Jeongguk riu nasalmente e negou com a cabeça olhando para os sapatos sujos, como se a garota pudesse enxergar as bochechas rubras.

— Não, um show na verdade.

— Oh, pode, deixe-o aí — A moça retirou o pequeno avental de sobre a camisa curta e listrada sob o jeans apertado, buscou a própria bolsa e as chaves do lugar — Espero que se divirta, sim? — Disse assim que ambos saíram do lugar, fechando a porta de vidro principal e acenando para Jeongguk com a chave entre os dedos e os cabelos bagunçados e cheios que estavam tão na moda.

Era 1986 e ao ver de Jeongguk toda a moda daquela década era engraçada, e no mínimo extravagante demais para si. Gostava da simplicidade, dos seus jeans largos e dobrados perto dos tornozelos, gostava de suas camisas de banda surradas e seus tênis sujos.

Acenou de volta, acanhado, com um sorriso de lado. Era tímido, de fato, e não se dava muito bem com todo mundo.

Sabia que o show não era longe, por isso não se preocupou em pôr as mãos dentro dos bolsos da frente e um cigarro aceso entre os lábios entreabertos.

Andou por minutos incontáveis, mas sua mente não se preocupou em divagar como sempre, pensando sobre quaisquer assuntos irrelevantes e com quais discos novos gastaria as economias da semana.

Por sorte conseguira um ingresso para um show como aquele, The Smiths era relativamente conhecido e ainda fazia grandes concertos, mas por desejo do destino conseguira ir num dos menores, numa casa de apresentações pequena e muito mais aconchegante. Não gostava do amontoado de pessoas em demasia. Não gostava da sensação de claustrofobia mas faria aquilo pela música.

Afinal, seu desejo mais obscuro e interno era de estar lá, acima de um palco.

Seus olhos brilharam assim que toda a banda tomou seus devidos lugares no palco. Morrissey usava as roupas largas e o cabelo num topete como de costume, um blazer largo xadrez sobre uma camisa de um rosa extremamente vivo.

Entre Cigarros e The Smiths |  JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora