Cassandra

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Puta que o pariu! Como eu pude esquecer a porra da chave? Na verdade, eu tenho quase certeza que, em algum momento da vida, eu a perdi. Meus neurônios estão em combustão e para piorar o alarme de incêndio está tocando como se o prédio estivesse pegando fogo. Acorda, Cassandra! O prédio deve estar pegando fogo!

- Sherlock, eu acho que essa é uma boa hora para você me dizer que sabe onde está a chave. Capaz do síndico arrombar a porta para nos evacuar, o que significa que te verão seminua.

Por milissegundos, meu coração ficou mais quentinho ao saber que Victor pouco se importava em ser encontrado algemado na cama, mas sim com a minha dignidade e integridade moral. Se não fosse as circunstâncias, teria lhe tascado um grande beijo.

- Espera só um instante - digo, saindo de cima dele.

- Onde você vai? - o ouço perguntar, mas ignoro.

Pego a sua camisa que eu estava usando do chão e a coloco novamente, a caminho da sala. Avisto as pastas dos processos que Victor é responsável na mesa de centro e logo encontro o que estava procurando.

- Por que você demorou tanto? - pergunta, sentado na cama, já de bermuda.

- Eu não demorei nem cinco minutos, Victor - respondo, mexendo nos clipes até eles ficarem em linha reta.

- O que você vai fazer?

- Ora o que vou fazer... vou arrombar essa fechadura da algema - me sento ao seu lado, puxando suas mãos presas para meu colo.

- Desde quando...

- Cala a boca e me deixa concentrar! - brigo, mexendo as pontas dos clipes na fechadura - Já não basta esse alarme infernal.

- Não é querendo te apressar, mas...

- Pronto! - exclamo, ao abrir uma das pulseiras do pulso, e volto a atenção para a outra.

- Vamos, Sherlock! Deixa essa para depois. O prédio deve estar sendo evacuado e por conta do meu tornozelo, vamos nos atrasar mais ainda.

- Certo.

Antes de sairmos do quarto, Victor pega um casaco qualquer e joga na minha direção, ao mesmo tempo que pega uma camisa para si. Por conta do tornozelo machucado, demoramos um pouco para descer os sete andares pela escada de incêndio. Por ser já um pouco tarde da noite, vários moradores se encontram de pijama no ponto de encontro estabelecido para caso de incêndio.

Com a chegada do outono, a temperatura está um pouco baixa e, juntamente com os ventos de Melbourne, me fazem estremecer de frio. Com o braço livre pela muleta, Victor o passa por cima do meu ombro. Por ironia do destino, no seu pulso ainda está presente a algema, captando o olhar de uma senhora que se encontra próxima de nós. Ela deve ter por volta dos seus 60 anos, os cabelos estão enrolados em bobs e no rosto ainda há alguns resquícios de uma máscara noturna. Seu olhar de julgamento passeia entre as algemas, minhas pernas nuas e Victor.

- Assustador, né? - faço a pergunta em sua direção, captando sua atenção e a do meu namorado.

- O quê?!

- A possibilidade de incêndio em um dos apartamentos. Foi no seu andar?

- Graças a Deus que não - ela faz o sinal da cruz.

- Que bom então. Também não foi no nosso. Uma pena que atrapalhou nossa noite no melhor momento.

Indico as algemas com a cabeça, enquanto movo as sobrancelhas. O rosto da mulher fica rubro e seus olhos se arregalam. Ela murmura algo sobre procurar seu marido.

A Louca Problemática do Nosso AniversárioOnde histórias criam vida. Descubra agora