stalkers e surpresas

2.9K 398 563
                                    

EU ESTAVA DENTRO do ônibus quando comecei a me sentir estranho.

Sabe aquela sensação de que alguém está te olhando? Mas não é só um olhar fixo, é um olhar que tira sua roupa e te apavora. Eu entendo que devo estar parecendo um pedaço de lixo com a cara roxa e esmurrada e sangrando, mas estou começando a ficar desconfortável. Tentei olhar ao redor e procurar quem era, mas o ônibus estava cheio, então nem adiantava.

Quando desci no meu ponto e comecei a andar, eu percebi alguém me seguindo.

Okay, isso nunca aconteceu antes, estou com medo, meu pai amado. Eu tenho um stalker? Caramba, gente, quem iria me stalkear, minha vida é tão sem graça eu não faço nada demais. E agora? Não posso ir para casa, vai que essa pessoa é um assassino e acaba matando a mim e a minha família? Pensa, Junhui, pensa.

Depois de muito ponderar, resolvi ir para uma pracinha perto de casa. Hora de confrontar o stalker, já estou todo estropiado mesmo, mais uns cortes não vão doer. Fé, amigos e amigas. Me sentei em um banco, coloquei minha mochila no chão, e tentei procurar, discretamente, quem estava me seguindo, mas não encontrei ninguém suspeito. De repente, então, alguém sentou do meu lado. Minhas pernas começaram a tremer e minhas mãos, a suar, eu fiquei nervoso na hora, meu coração batia rápido e pensei que fosse desmaiar.

— Precisamos conversar.

Me virei de uma vez para a pessoa do meu lado e franzi o cenho, Minghao estava ali, sentada, usando um sobretudo bege, seus cabelos ainda estavam presos e presumi que ela ainda estava com sua roupa de balé. Apertei a ponte do meu nariz e suspirei alto, relaxando mais no banco, meu stalker era Minghao, okay, tudo certo.

— Sobre o que, Minghao? E, puta vida, eu quase tive um infarto quando senti que estava sendo seguido. Credo, da próxima vez me cutuca ou sei lá.

Ela riu e eu a olhei de novo, nossos olhares se cruzaram e ficamos nos encarando. Eu senti toda angústia que ela tentava segurar dentro de si, eu senti que havia uma tempestade dentro dela. Eu não queria que Minghao se segurasse ou fingisse, pelo menos não para mim.

— Me perdoe. — Ela começou, desviando o olhar para o chão — Eu não devia ter falado aquilo do Seokmin. Eu... Fiquei com ciúmes, Junhui, com medo. Medo de que você me deixasse. Você se tornou uma pessoa muito importante pra mim, eu não aguentaria mais alguém me largando.

— Como assim? — Murmurei, me aproximando dela. Minghao fungou e foi só aí que percebi que chorava.

— Eu tenho duas mães, Jun. — Ela começou — E elas sempre me apoiaram e me ajudaram nessa fase da minha vida. Eu nunca tive problemas em casa, porém, quando eu estava fora dela, era outra coisa. Todos diziam que eu era uma pessoa esquisita, estranha e talvez até louca por atenção. Eles não respeitavam minha escolha, faziam comentários horríveis sobre mim e minhas mães. — Minghao fechou os olhos e lágrimas grossas rolaram por eles — Eles me batiam, Jun. E meus amigos que eu considerava mais próximos, me deixaram, não me ajudaram. E eu descobri que se me abrisse demais, ou que se agisse igual ao jeito que eu agia antes, pessoas iriam se afastar de mim. — Seus ombros tremeram e ela se encolheu — Por isso eu não me afasto de Mingyu, ele foi a primeira e única pessoa que se interessou por mim apesar das fofocas. Eu não sei o que faria se eu sentisse toda aquela tristeza de novo.

Meu coração doeu, Minghao era insegura, minha vontade era de abraçá-la e dizer que está tudo bem, e foi isso o que eu fiz.

— Eu não vou deixar você, Hao, nunca. — Eu murmurei enquanto afagava seus cabelos, senti suas mãos agarrarem minha roupa desesperadamente — Você não está sozinha.

— Eu não sou menina.

Eu me afastei e olhei seu rosto.

— É menino, então?

✘ clumsy.Onde histórias criam vida. Descubra agora