No ônibus, todos os lugares em que meus olhos focavam, sentia que tudo estava errado, sentia que aquilo não era meu, e o arrependimento gritava no meu coração, mas era o melhor, para mim, para eles e para ele.
- Moça, posso sentar ao seu lado
- Fique a vontade
Com a mochila, tentava esconder a macha na minha calça, e com um sorriso falso, tentava disfarçar o nervosismo.
- Para onde você está indo?
- Não sei
- Eu também não
Já estava me sentindo incomodada com aquele turbilhão de perguntas, então resolvi dormir. Acordei atordoada, a moça chata já não estava mais do meu lado, agradeci em pensamento, olhei na janela e não dava pra saber se já tinha passado do meu destino, porque eu literalmente não tinha destino.
- Motorista, onde estamos?
- Daqui a dez minutos é a nossa última parada, em Nevoares.
- Obrigada!
- Sentei no banco desconfortável, e tinha um papelzinho escrito “Gabriela”
- Joguei fora, mas me deu uma ideia, usarei esse nome aqui.
Cheguei, que rodoviária pequena, Nevoares deve ser um interior, perfeito. A cada instante tem alguém me olhando, olhando minha calça, me sinto retraída e com medo. Um taxi passa por mim, e eu agradeço, tento não olhar para o motorista, o pavor dos meus olhos o assustará.
- Me leve até a pousada mais próxima.
- Ok
A cada instante eu ficava mais perdida, aquela cidade parecia fantasma, não tinha ninguém na rua, apenas o motorista e eu, as lembranças do que aconteceu estavam me assustando, sentia cada vez mais culpa, e o arrependimento tomava conta de cada parte do meu ser, sem oportunidade de me perdoar.
- Chegamos
Ele falou gritando, deve ter achado que eu estava dormindo, mas só estava pensando no meu pesadelo real.
Entro naquela pousada, com a mochila na frente da minha flor vermelha murcha, a mulher nem olha para mim, que bom!
Naquele momento, dentro daquele quarto minúsculo e empoeirado, me sinto protegida, encontro o banheiro, e vou poder tirar aquela cor de mim, do meu corpo, mas apenas superficialmente.
Queria que o banho tivesse tirado aquele peso, aquela culpa, aquela perpetua tormenta. É a hora de pegar o celular, avisar a minha família, a minha mãe, minha pobre mãe, eu sinto muito mamãe. Meu celular não estava na bolsa, nem no bolso, nem no moletom, onde ele está? Gelei, será que deixei cair no taxi, na rodoviária ou no ônibus? E agora, meu celular não pode se perder, preciso dele, e das provas. Saio da pousada, espero um táxi que me leve de volta a rodoviária, já perdi a noção da hora, mas já deve Vaira a madrugada, vou caminhando sozinha, em busca da rodoviária, acho que não é muito longe, de carro foram dez minutos. Enquanto caminho, sinto o medo, da escuridão de uma cidade desconhecida, em que eu me transformei? Ontem eu era uma garota de dezesseis anos, indo animada para a escola, e hoje eu estou perdida na escuridão. Quando chego perto da rodoviária, que não tem mais nenhum ônibus, nenhum taxi, nenhuma pessoa.
- SAMANTA, ESPERA
Eu fiquei imóvel, alguém gritou meu nome!
- Samanta
Eu queria olhar, mas o medo era maior que eu, eu fui encontrada antes do previsto.
Fico imóvel, e alguém toca meu ombro, sinto todos os pelos do meu corpo ficarem em pé, e eu queria cair, correr, sumir ou explodir, finalmente consigo olhar para trás e vejo ela, a garota chata do ônibus, olha para sua mão e ela está com meu celular, não sei o que sentir, e fico em silencio.
- Precisamos conversar!
- O que você está fazendo com o meu celular?
- Eu roubei enquanto você dormia, e eu vi, eu vi tudo, tudo o que você gravou
- Me dê aqui!
- Não, você precisa se acalmar, eu quero te ajudar.
- Você me roubou, eu nem sei seu nome.
- Meu nome é “Coragem”, agora me deixa te ajudar
- Como você conseguiu gravar, você deveria estar na delegacia agora, ele é seu pai, nunca vi algo mais frio.
Eu comecei a soltar todas as lagrimas que estavam guardadas, ela me abraçou forte, , que estava juntando todas as partes do meu interior que foram quebradas.
Quando chegamos a delegacia, depois de dizer tudo ao delegado, pude organizar todos os acontecimentos, quando eu mostrei o vídeo, me senti a pessoa mais forte do mundo, meu pai me tirou tudo e ao mesmo tempo me deu a maior coragem do universo. Liguei para minha mãe, que estava desesperada com o tanta policia em casa, estava confusa, estava justificando com o alcoolismo, e eu cheguei a conclusão que a partir dali minha vida era sozinha, foi quando eu senti alguém me abraçando fortemente, olhei para o lado e vi que tinha alguém que me dará “coragem”, obrigada Gabriela.

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Rosas
Historia CortaSamanta é uma adolescente comum, até que um acontecimento muda seu destino.