Enquanto a porta do carro de seu pai, Jorge, é fechada. Marcos fita sua nova casa. Marcos acabara de se mudar para a nova cidade com sua família, se é assim que pode chamar. Seus pais, Lilian e Jorge Oliveira, ambos médicos pediatras que se conheceram na faculdade, Conseguiram novos empregos no hospital particular da cidade. Marcos detestou a ideia de se mudar mesmo nunca gostando de sua vida na antiga casa em Minas Gerais. Era um lugar tranquilo, longe da correria da cidade grande, dos choros de crianças, latidos de cães, ou até mesmo buzinas de veículos. Marcos sempre odiou aquele lugar, mas já estava acostumado a viver lá. Estudar na escola da perto de sua casa, voltar para casa, Marcos repetia esse ciclo todos os dias, com exceção é claro dos finais de semana que ficara em casa o dia inteiro trancado em seu quarto tentando não ouvir as discussões de seus pais. Talvez viver numa cidade mais movimentada seja melhor apesar de todos esses problemas.
Marcos nunca teve nenhum amigo, preferia de cuidar de seus animais de estimação. Nunca se interessou muito pelas pessoas, ele quase as desprezava. Observava seus comportamentos desprezíveis nos noticiários. Pensando em como os seres humanos são nojentos e repulsivos. "Deveríamos todos morrer." Pensava algumas vezes em que estivera trancado em seu quarto.
Marcos entra em sua nova casa logo atrás de seus pais, que parecem estar bem empolgados com a nova cidade, o novo emprego, e, até mesmo os novos vizinhos.
- Mal vejo a hora de receber visitas de boas vindas de nossos vizinhos. - começou Lilian
- Espero que tenha alguma lagoa para que eu possa pescar. - Continuou Jorge enquanto fita suas bagagens próximas à parede da qual tinham varas de pescar e iscas.
Jorge adorava pescar.
Marcos, ainda sem dizer uma palavra, tomou a frente e subiu as escadas para procurar seu novo quarto.
Chegando ao seu quarto, ainda ouvindo a conversa de seus pais sobre "como estão empolgados com a nova vizinhança" ele imediatamente se sentou em sua cama, que havia sido posta de qualquer jeito no quarto pela equipe de mudanças, pensando em como seria a nova escola já que agora ele morava em uma cidade maior.
- Talvez as pessoas daqui sejam diferentes... - sussurrou pra si mesmo - talvez...
No jantar, ainda com a casa iluminada por velas, sentou-se à mesa, na cadeira de frente para sua mãe. Seu pai estava atendendo alguém na porta de entrada.
"O entregador de pizzas" pensou.
Sua mãe, como sempre estava no hospital a trabalho, quase nunca cozinhava nada. E quando tentava era um total desastre.
- Pronto! - gritou Jorge - está quentinha.
Marcos lentamente pegou seu pedaço da pizza portuguesa que seus pais haviam pedido sem ao menos o perguntarem se quero um sabor diferente. Marcos nunca se sentiu membro de verdade da família já que seus pais viviam trabalhando e quando estavam em casa Marcos parecia ter tomado a "poção da invisibilidade".
Nunca fora paparicado, nunca foi elogiado por receber notas boas na escola, nem mesmo, recebera broncas por notas ruins. Na verdade, Os pais de Marcos nunca nem se quer olharam seus boletins escolares.