"Você não sabe, Tia? O Tord não tem mãe!" - Capítulo Único

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Quando Tord chegou no colégio, achou que seria apenas mais um dia comum e, realmente, começou tudo normal.

Cumprimentou os seus amigos Edd e Matt – também havia Tom – e foi com eles para a sala do 4° ano do fundamental. Não havia nada indicando que seria um dia atípico, o que pegou o menino realmente desprevenido quando a professora falou que, como o dia das mães era o próximo, todas as crianças deveriam fazer um desenho junto de uma mensagem carinhosa para suas mamães.

Tord já sabia que a sua família não era muito comum, não era todo mundo que tinha dois pais, ainda sim... a situação lhe deixou particularmente desconfortável. Mas ficou quieto. Não era nada demais.

Como seu pai, Patryk, dizia esse era "mais um feriado para enaltecer o capitalismo selvagem da sociedade", seja lá o que isso significasse. Mas, do jeito que ele sempre falava, com certeza não era algo bom. Então não participar era o correto a se fazer, certo?

Todas as outras crianças na grande mesa retangular mesa haviam pegue diversos lápis de cor e aos poucos desenhos encheram diversos papéis em branco. Menos o seu, que continuou branco como... bem, como papel!

Havia alguma coisa de desconcertante em ver todos entretidos na atividade e não participar. Tord estava começando a ficar um pouco triste, segurando o lápis de cor vermelho e com a cabeça abaixada, quando a professora se aproximou e tocou o ombro do menino:

— Tord, o que aconteceu?

O garoto levantou o queixo e olhou na direção da adulta, então, de repente, sentindo uma vontade súbita de chorar, mas precisou se conter pois não teve sequer a oportunidade de responder a pergunta, porque uma outra criança se intrometeu:

— Você não sabe, tia? O Tord não tem mãe!

Era uma menina loira com o cabelo preso em maria-chiquinha dos dois lados da cabeça, ela usava um vestido rosa de tecido liso. A folha de papel dela era uma bagunça de cores uma por cima da outra, não dava para distinguir muito bem o que era o que, se alguma coisa fazia algum sentido.

Algumas outras crianças, as que estavam mais perto, pararam seus desenhos por causa da menina loira, que parecia ter falado alto demais de propósito. Tord olhou para ela, do outro lado da mesa, com as sobrancelhas franzidas e sem entender muito bem.

Certo, não tinha mesmo uma mãe, mas-

— A família dele é toda esquisita, ele tem dois pais... E a minha mãe disse que isso é errado.

Se antes Tord se sentia triste, agora estava com raiva.

A professora chegou a repreender a menina, mas ela revirou os olhos, empinou o nariz e deu um sorriso detestável, olhando na sua direção. Algumas crianças ao redor estavam cochichando e Tord segurava o lápis de cor vermelha com mais força que antes.

Também não deu muita atenção para Matt, que estava logo ao lado e cutucou seu braço, falando algo, provavelmente para que deixasse aquilo para lá. Mas não escutou ele.

Apenas subiu em cima da mesa mais rápido que qualquer um poderia prever e foi para cima da menina, com o lápis vermelho em mãos.

E, enquanto escutava os gritos dela e das outras crianças, inclusive a professora se desesperando com a situação, a única coisa que Tord pensou foi se conseguiria acertar ela no olho.

♤♡◇♧

Infelizmente não conseguiu.

Daquela distância não conseguia escutar muito bem o que os adultos estavam discutindo, mas enquanto a mulher estava fora de si, Patryk parecia calmo demais. Tord havia acabado de sair da diretoria e Paul ocupava o banco ao seu lado, quieto, também olhando para a discussão acalorada alguns metros mais distantes, no corredor.

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