Capítulo I

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A cor alaranjada do sol no fim da tarde, sempre ficava mais bonita quando eu me deitava sob a grama do jardim que há um tempo atrás eu e minha avó criamos.
Anos atrás meu quintal não passava de mato, arbustos e árvores de galhos secos, era uma lástima. Minha mãe nunca foi boa com coisas de casa, o negócio dela era a empresa de advogacia onde ela era sócia do meu pai. Então até os meus seis anos, meu quintal não passava de uma porção de ervas daninhas. Mary "Poppins", nossa governanta e minha babá – diga-se de passagem –, se ocupava com a casa na maior parte do tempo e nas horas livres ela me dava aulas de reforço ou fazia suéteres horrorosos pra mim.

Foi só então quando recebemos a Nona aqui no verão, é que ela teve a ideia genuína de transformar aquela lástima em um pedacinho do céu. Ela jamais contaria a verdade, porém, estava fazendo aquilo para me manter ocupada, de forma com que ficasse longe enquanto meus pais discutiam. As discussões aumentaram na noite misteriosa em que fui dormir e acordei com os pés sujos de lama, e com alguns fios brancos. Aquela foi a primeira de muitas noites confusas e recheado de drama.

E também foi a primeira de muitas vezes que pintei o cabelo. No início era a minha mãe quem sempre tingia, mas depois Mary se encarregava disso. A cor era sempre a mesma, amendoada. Mas quando eu completei 8 anos, os fios brancos não tinham ido embora, muito pelo contrário a tinta parecia não funcionar já que eu tinha de repetir o processos três vezes ao mês, então minha mãe deixou de lutar e meus cabelos finalmente assumiram sua cor: branco.

Mas voltando à época em que plantamos todas aquelas flores nos fundos da casa...

— Oh céus, sua mãe mora aqui a tanto tempo e reformou a casa três vezes, mas jamais deu um jeito nesse lugar.– ela olhava para as ervas daninhas com muito desgosto, como se alguém houvesse pisado em seu coração. — Anne, o que você acha de transformarmos essa bagunça toda em um belo jardim?– com meu sorriso estampado, ela deduziu facilmente que era um sim!

Nona era mestre em saber o que se passava por minha cabeça, esse era o motivo de minha mãe ficar sempre alerta quando ela nos visitava. Ela sempre fazia o que podia para nos divertir, "você deve criar boas lembranças e não ficar sozinha e trancafiada nesta casa o dia inteiro. Crianças devem ser crianças", era o que ela dizia.

— Ótimo, vamos chamar alguém para aparar toda essa grama, poldar esses arbustos e então começamos a plantar a flores e tudo mas que você quiser.– eu acenei com a cabeça, no tempo era tudo o que eu mais queria. Um espaço só meu.

— E as árvores Nona?

— Compramos alguns adubos, colocamos junto às raízes, regamos por um tempo e voilà! Um jardim novinho em folha.– ela disse como se fosse a fada madrinha da Cinderela. Na verdade, eu nem sabia o que era um adubo. Trabalhamos durante semanas no jardim, e quando finalmente tudo ficou pronto, já era início de primavera e as flores estavam perfeitas. Não lembro de ter feito qualquer outra coisa que tenha me dado tanto orgulho.


E hoje eu estou aqui lembrando o quanto foi empolgante e maravilhoso ter feito isso. Mas também me traz muitas saudades da Nona, eu a amo muito. Atualmente, ela vive em Verona com minha tia Amélia. Ela aprecia muito a Itália e tenho quase certeza que é por um senhor chamado Frederi, na última vez em que nos falamos ela estava encantada por esse senhor, que por um acaso é dono de um dos maiores vinhedos daquela região. Nessas horas eu penso que minha avó fica velha mas não perde a vontade de viver.

Ao contrário de mim, que vivo à procura de algo que me tire desse limbo eterno. Ninguém suporta viver da mesma maneira por muito tempo, e a verdade que as pessoas não confessam é que, todos querem algo em que possam se agarrar.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2021 ⏰

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