Capítulo II

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A vida de Paulo nem sempre foi tão atribulada. Costumava ser um sujeito de respeito dentro da corporação, tinha uma família feliz, e amigos. Tudo isso virou de pernas para o ar assim que assumiu a investigação que o guiou até uma serie de assassinatos, onde mulheres e crianças eram queimadas vivas sob o argumento “O fogo purificador e destruidor”.

O nível de violência e monstruosidade dos casos o levou à depressão, que por sua vez ao alcoolismo. A bebida foi uma de suas desesperadas tentativas de apagar a imagem das vítimas de sua mente, mas a única coisa que conseguiu afastar foi todos aqueles que o amava.

Sua esposa grávida de quatro meses o deixou. Ela caminhou até o taxi carregando as próprias malas, e Paulo, não foi capaz de impedi-la. Essa lembrança martelava em sua mente, deixando-o ainda pior, levando-o a se envolver em tiroteios e torturas por toda cidade, tudo para tentar alcançar o culpado por aqueles crimes.

Seus novos métodos passaram a chamar a atenção da promotoria, que fez de tudo para tira-lo do caso, que posteriormente acabou conseguindo não só afasta-lo do caso, mas também da corporação.

Sem amparo, sem nada para preencher sua mente, se sentia cada vez mais solitário. Passou dias “assistindo” programas de leilão na televisão enquanto bebia até desmaiar na poltrona. Essa rotina se repetiu durante um ano, até que alguém bateu em sua porta.

Era Luiz quem batia, acompanhado de seu novo parceiro, cujo nome não foi introduzido para Paulo. Luiz era um velho amigo, cresceram juntos em um orfanato, cursaram direito e acabaram na mesma profissão, seguindo então como parceiros na luta contra o crime. Após dez anos de parceria, durante o processo de uma investigação, se envolveram em um confronto armado contra uma gangue de motoqueiros, acabando com cinco mortos, e com Paulo ferido. Algumas semanas depois, Luiz descobriu que tudo não passava de uma armação, pois Paulo era o responsável em encobrir as pegadas do então deputado Gomes, o verdadeiro culpado. Luiz não delatou o parceiro, mas também não o apoiou, se distanciando, agindo como se o homem sequer existia.  

Alguns anos se passaram, e lá estava Luiz batendo em sua porta. Infelizmente não era uma visita amigável, era algo totalmente profissional. Foi por ele que soube sobre o desaparecimento de Julia, prometendo então para sua filha, Barbara, que a traria para casa, iniciando assim uma investigação particular, embora mais tarde descobrisse que seria incapaz de cumprir com sua palavra.

Julia estava morta. As chamas que queimavam seu corpo começaram a se espalhar pelo cômodo, incendiando rapidamente pelo piso de madeira. Paulo juntou o celular que havia derrubado e telefonou para o corpo de bombeiros enquanto deixava o local.

Caminhando para fora do motel, foi até seu carro, onde se sentou na tentativa de relaxar. Tirou um pequeno cantil do bolso interno do seu casaco, deu uma golada, fez uma careta, e acendeu um cigarro. Infelizmente Paulo estava calejado, não tinha mais lágrimas para chorar, nem forças pra lamentar, a única coisa que o atormentava no momento era como revelaria para a filha o modo que sua mãe havia morrido.

Na pista contrária, a poucos metros do motel, pode notar um utilitário estacionado. Dentro dele, sentado no banco do motorista, estava um homem com a face iluminada por uma tela apoiada em seu colo.

Paulo observou o sujeito por alguns minutos, até que foi notado por ele. Nesse momento o estranho abrira um sorriso. Paulo então sacou a pistola, saltou de seu carro e mirou contra o motor.

- Você! Desce do carro com as mãos pra cima! 

A ignição foi dada, os faróis se ligaram ofuscando a visão de Paulo, que disparou algumas vezes acertando o para-brisa. O utilitário deu a ré, derrapou para a outra pista em uma manobra hábil, e iniciou sua fuga na direção contrária do investigador. Paulo retornou rapidamente para seu veículo e enfim partiu atrás do suspeito.

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