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Era uma manhã nublada de sexta-feira, os fracos raios de sol entravam pela janela do dormitório e atravessavam as cortinas até brilharem no rosto de Hayley, mas sendo insuficiente para acordá-la. Suas roupas sujas se misturavam com as roupas limpas pelo chão, enquanto sua cabeceira mais parecia com um monte de tralhas de tão desorganizada.

Toda a bagunça do lado direito do quarto contrastava com a limpeza do lado esquerdo, domínio de Sam. Ela já estava de pé há mais ou menos uma hora, ajustava seu relógio de pulso observando a ex-namorada ,ou o que quer que elas tivessem sido, dormir. O sentimento de que olhar para Hayley enquanto ela dormia era esquisito parecia algo mais inconsciente, justificado pela desculpa de que era só a força do hábito.

Pensou em despertá-la, como fazia antes, mas se lembrou rapidamente da situação estranha que a amizade delas se encontrava. Sem pensar muito mais, colocou seu sobretudo e pegou seu guarda-chuva dentro de uma das caixas de mudança que seriam buscadas pelo padrasto. Jeff era um cara legal. Representava bem o papel de pai para Dave e Sam e fazia muito bem à Sarah, a mãe de Sam. Não era como se eles não brigassem. Claro que brigavam. Mas nem se comparava com as brigas que a Sarah tinha com Henry, pai de Sam.

Mal dava pra acreditar que aquela era a última manhã que ela daria bom dia pra Lizzy, da faxina; a última manhã que ela passaria pela cafeteria vazia e ainda meio escura, com cheiro de pão recém assado; a última manhã que ela olharia para o semblante calmo de Hayley, sonhando.

Mas não se engane, essa situação não a deprimia. ter seu próprio apartamento era tudo que ela sonhava desde seus 15 anos, mesmo que fosse pequeno e que a motivação da mudança fosse tensa. Um dos principais motivos de todo aquele aconchego na kitnet era o sentimento da presença de Luke. Com 21 anos ele também se mudou para um apartamento de um quarto só. Inclusive, era o lugar que ela passava a maioria dos fins de semana, porque seu irmão mais velho sabia que a briga dos pais era algo iminente quando tinham tempo livre juntos. Sam achava até que a planta dos dois apartamentos se parecia, mas era só seu inconsciente fazendo joguinhos.

Ela percorria o longo corredor dos dormitórios femininos, tentando fazer o mínimo de barulho com seu tamanco alto. Há pequenas coisas sobre a maneira que Sam se porta ao mundo que a possibilita chamar a atenção de todos, por mais que ela não fosse a pessoa mais bonita ou extrovertida que já existiu. Seu sorriso de canto de boca, assim como seu longo cabelo negro, contrastavam com sua pele levemente pálida e com o seu jeito altivo e ao mesmo tempo tímido de andar; suas roupas atuais e ao mesmo tempo confortáveis criavam uma energia positiva quando combinadas ao seu sorriso simpático que fazia seus olhos escuros se cerrarem. Em outras palavras, Samantha Young não era uma top model (inclusive, ela não teria altura suficiente para ser uma), mas era linda de sua própria maneira.

Quando chegou ao fim do corredor, percebeu que Lizzy estava conversando com Fabian, que trabalhava na cafeteria. Desceu as escadas, seguindo em direção ao balcão e já percebendo a tensão da conversa do outro lado do refeitório.

--Gente, que desanimo é esse? Sei que ainda são seis da manhã, mas hoje é sexta...- um silêncio se instalou entre os três por alguns instantes, até que Fabian ergueu a cabeça e se pronunciou.

--Vai querer o de sempre, Sam?

--Sim, Fabian... mas pode colocar espuma extra hoje?- ela disse constrangida, sabendo que tinha instalado um clima estranho.

Quando Fabian foi preparar o café, Lizzy deu um tapa leve no braço de Sam com as costas da mão.

--Menina! Você não ficou sabendo não? A irmã do Fabian desapareceu anteontem. foi numa festa na quarta e não voltou mais. Ele tava me contando que tão achando que essa onda de desaparecimentos tem alguma conexão...

Samantha Young~ A Lança de OuroWhere stories live. Discover now