A Vida Corre Como Carros de Fórmula 1 • Charles Leclerc

•1• Introdução

" Suzuka, 04 de Outubro de 2014

Querido Charles,

Sei que seu aniversário é daqui a alguns dias, mas como também sei que seu sonho sempre foi receber uma carta, como era antigamente, resolvi realizá-lo, mesmo que adiantado e sendo enviado do Japão. Gostaria de dizer que tenho orgulho do homem que está se tornando! Tenho certeza que sua carreira será muito promissora. Só lhe peço que não mude por nada e por ninguém, você é uma pessoa incrível e merece o melhor que o mundo possa oferecer. Boa sorte, meu afilhado. Feliz aniversário!

Um abraço,
Jules "

Acordo relembrando cada palavra escrita na carta que recebi de meu padrinho, Jules Bianchi. Ela é o último contato que tive com ele, já que infelizmente o mesmo sofreu um grave acidente no Grand Prix do Japão um dia depois de enviar o texto e exatos 11 dias antes de meu aniversário de 17 anos. Ele acabou falecendo meses depois.

Não por ele ser meu padrinho, mas posso dizer que era o melhor piloto de Fórmula 1 que já conheci, corria pela Marussia, mas tenho certeza que em mais algum tempo, estaria na Ferrari, nossa equipe do coração. Ele fora, junto com meu pai, um dos maiores apoiadores da minha carreira, desde o inicio nos karts. Se sou o piloto e homem que sou hoje, devo isso a eles.

Logo após minha reflexão, quando já estou completamente consciente e acordado, me levanto e tento me concentrar em arrumar minha mala, mas não consigo evitar em pensar também em meu pai, Hervé, que faleceu a cerca de 2 anos devido a uma doença. Ele era uma pessoa espetacular, fez tudo o que estava a seu alcance para realizar meus sonhos e de meus irmãos, Lorenzo e Arthur.

Me dedico tanto ao automobilismo não só porque é o que gosto de fazer, como também para agradecer por todo o apoio que me foi dado. Lembro-me sempre com muito carinho de todas as corridas que já participei, tendo ganhado ou não. Claro que tem aquelas que mais me marcaram, sendo que uma delas é a vitória na corrida de Baku pela Fórmula 2, já que ocorreu alguns dias após a morte de meu pai e, mesmo triste pela perda, fiquei feliz por conseguir honrar sua memória.

Desde nossas perdas, minha mãe, Pascale, é quem vem cuidando de minha carreira. Protetora como é, toda corrida me pede para tomar cuidado e deixa claro o quanto teme que eu sofra um possível acidente, assim como meu padrinho, principalmente pois sou muito exigente comigo mesmo e acabo me cobrando e culpando demais para um jovem de 21 anos. Sinceramente, eu não penso nisso enquanto estou no carro, esqueço de tudo o que é perigoso, pois acidentes acontecem e sempre acontecerão.

Tenho curtido muito a atual fase da minha vida, pois estou fazendo o que meu coração manda: estou correndo. É diferente, porém é o que amo fazer, ainda mais agora, com mais uma parte do meu sonho se tornando realidade, afinal, sou o mais novo piloto da Scuderia Ferrari.