Capítulo 1

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☀️🎨

Hoseok

Praticar com os pés descalços era só mais uma das formas que usava para me conectar com a dança. Dependendo do quão alto a música está, da acústica da sala de prática ou até mesmo do tamanho das caixas de som, eu conseguia sentir toda a vibração correndo pelo piso e se conectando diretamente com meu corpo através dos pés livres de qualquer tênis ou sapato.

O chão podia estar frio, podia estar congelando e, ainda assim, minha maior vontade era sentir a música através do corpo inteiro e não só dos ouvidos, mas omma sempre relembrava que eu não podia praticar apenas descalço em épocas como o inverno. Na verdade, eu devia evitar qualquer tipo de friagem, mas nada se compara com a conexão que é feita com a dança e o corpo de um dançarino quando dançamos descalços. Eu amava sentir o ritmo e a batida das músicas pelo chão através de ondas sonoras se misturando com piso através de alguma lei e lógica da física que eu jamais poderia entender e explicar.

Também gostava do meu reflexo no espelho quando ficava sozinho no estúdio. Paredes comumente brancas ficavam sempre atrás e ao lado do meu corpo enquanto, de frente para ele, uma inteiramente coberta de espelho mostrava o meu eu. Minha aparência, minhas feições e meus passos, talvez o oposto total da monotonia das salas que costumo estar. Não pelo fato de serem fechadas, reclusas, de aparência tranquila e, de certa forma, sem graça, porque eu sempre me encaixei nestes mesmos adjetivos, mas sim porque quando a música soa e preenche todo o ambiente, o meu corpo, o meu rosto e a minha alma se avivam, explodem em cores e emoções, deixam-me vivo e isso atrai qualquer nota de felicidade que esteja ao meu redor.

Isso, ao menos, é o que diz meu irmão Jimin. Alguém que sempre fala muito sobre mim já que não posso fazê-lo por mim mesmo sem que alguém não habituado a minha condição, faça caras esquisitas quando começo a gesticular sem parar.

Porque esse sou eu. Alguém que vive de gestos enquanto escuta palavras.

Alguém que vive de expressão, mas não de sons tão claros.

Palavras.

Não posso dizê-las de forma normal (ou comum, como omma e Jimin dizem).

Isso porque sou mudo.

Desde... sempre.

— Ótimo trabalho, Hoseok! Você tem melhorado muito seus giros. Seus ensaios extras têm dado ótimos resultados, parabéns — o professor disse, vestindo seu casaco, pronto para ir embora. Já estava virando costume ficar um tempo a mais em sua aula para que ele verificasse os pontos que me pediam mais treino. De pouco em pouco eu ia mostrando aquilo que praticava e torcia para que ele reconhecesse meu esforço, afinal dançar era tudo que eu sabia fazer, eu precisava ser perfeito. — Mas não se esforce muito, rapaz. A semana de provas está chegando e você precisa relaxar o corpo para conseguir focar nas avaliações teóricas, tudo bem?

Sorri e concordei com a cabeça, colocando dedos na testa e no peito e levando-os para frente ao mesmo tempo.

"Obrigado", sinalizei.

— Seu irmão já está ali fora. Cheguem em casa em segurança, sim? Cuidado com o frio — pediu, já caminhando em direção a porta e saindo.

Não levou nem dez segundos para que um animado e sorridente Jimin ocupasse o mesmo espaço que eu. Seu capuz de pelos estava na metade da cabeça, deixando livre seu cabelo loiro e completamente bagunçado.

Paint Me | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora