Capítulo 1

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Acordei atrasada. Esta aí algo que faz parte do meu cotidiano, tudo porque me acostumei com a música do despertador. Levantei num pulo e corri para o banheiro e como sempre minha irmã estava ocupando o cômodo dando banho em minha sobrinha.

- Vai demorar muito? – bati bem forte na porta.

- Só mais alguns minutos – ela rebateu.

- Eu estou atrasada!

- Quem mandou sair em plena quinta-feira à noite?

- Menos conversa e mais ação, vai reclamar de sua infelicidade com Deus, ele ouve problemas, Isadora Pimentel não – ironizei.

Com o silêncio que ela fez, percebi que seria mais uma manhã com muita pirraça. Voltei para o meu quarto peguei minha roupa e desci um lance de escadas no apartamento. Minha salvação era Marcos, meu melhor amigo, o amigo mais gato que alguém podia ter. Bati à porta e ele atendeu ainda com o cabelo em processo de arrumação.

- Bom dia vaquinha, você está horrível – fez o sinal da cruz.

- Muito obrigada! Preciso tomar banho, estou atrasada e a cada segundo a situação piora.

- Vai logo – ele me deixou passar e me deu leve palmadas no bumbum.

Tive que correr, tomar o banho mais rápido da minha história. Enquanto trocava de roupa, me perguntava onde estava a vida de luxo, carro do ano, acordar linda e se vestir bem na minha profissão. Tudo fachada! Isso só acontecia com as repórteres de fofoca das novelas e filmes.

Sai da casa de Marcos correndo, passei em casa, peguei minha bolsa, a agenda e tentei arrumar meu cabelo que parecia ter vida própria pela manhã e nunca se importava com a minha opinião. Me olhei no espelho e tava legal, na realidade, apresentável. Tinha vestido uma calça jeans escura, uma camisa preta, um casaquinho vermelho e o salto da mesma cor. Os cabelos loiros estavam na altura dos ombros, mas naquela manhã bem ao estilo jumba de leão.

Apertei o botão do elevador diversas vezes e nada. Desci as escadas e me irritei por minha mãe morar no oitavo andar. Se tinha uma coisa que me animava nos últimos dias era saber que casaria dali a três semanas e como já tinha meu apartamento comprado – graças a Deus no segundo andar – ficaria livre daquela família louca.

Levei mais alguns minutos no ponto de ônibus, onde passava todas as linhas, menos a que eu precisava. Meu celular tocou e por ser da redação, sabia que lá vinha mais uma bomba.

- Isa? – reconheci a voz de minha chefa.

- Keila? – rebati só para ter certeza.

- Você é minha salvação, me diga que se atrasou?!

Até minha chefa já fazia piada com meus atrasos, mas precisava mentir.

- Na verdade estou no ônibus, mas aconteceu alguma coisa?

- Uma exposição abre daqui a pouco e como você mora próximo preciso que corra para o Museu Brasileiro da Escultura. Estarei te mandando os detalhes do evento e o que deve ser abordado. Uma equipe encontra com você lá.

- Está certo, estou me mandando pra lá – desliguei.

Essa era a minha nada mole vida... Com 23 anos, prestes a começar o quinto semestre, estagiando em uma das redações dos portais de notícias de São Paulo. Com um namorado, noivo, na verdade estava prestes a me casar e conquistando aos poucos meu espaço.

Minha única animação naquela cobertura foi por ser a exposição "Mônica 50 anos", e devo dizer que sou louca por Maurício de Souza, tenho quase todos os quadrinhos bem guardados, então o assunto me empolgou. Nunca tinha chegado tão perto dele, mas super educado respondeu as minhas perguntas e eu lá paralisada, quase babando. E podem me julgar, mas consegui uma selfie com ele após cumprir o meu trabalho porque não sou de ferro e não deixo passar nenhuma oportunidade.

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⏰ Última atualização: Aug 01, 2019 ⏰

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