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Taehyung entortou o nariz para o conjunto de apartamentos a sua frente. Mesmo um leigo em arquitetura como ele podia perceber que a construção de tijolos vermelhos só se mantinha em pé devido a rezas e remendos baratos.

Como alguém ainda se dispõe a pagar pra viver numa espelunca dessas?, pensou, mas logo deu de ombros e entrou no edifício. Só estava ali pra realizar um serviço, então não lhe importava a precariedade do lugar ou seus moradores – em sua maioria estudantes sem parentes ou conhecidos na capital e que não podiam pagar por um lugar melhor com seus trabalhos de meio período, solteiros, desempregados e maus elementos.

Subiu calmamente os cinco lances de escada, o cabelo lhe cobrindo os olhos e a nuca e a postura ereta e confiante desencorajando qualquer afronta de estranhos curiosos demais quanto ao conteúdo de sua mochila estufada. Tudo em seus modos intencionava não atrair a atenção indesejada dos moradores para a sua presença, mas felizmente as pessoas daquele lugar entendiam que para a própria segurança era melhor não saber sobre os assuntos que não lhe diziam respeito.

Deu duas batidas suaves na porta do apartamento 57 e enquanto aguardava a resposta do outro lado analisou as paredes. Bateu levemente com os nós dos dedos e fez uma careta.

Fina demais, pensou com reprovação. Deveria dar pra ouvir uma agulha caindo no apartamento vizinho!

– Quem é?

Taehyung encarou o olho do dono da voz que o analisava pelo olho mágico da porta e sorriu.

– É aqui o funeral de Kim Namjoon?

Sua resposta veio na forma do som de ao menos quatro tipos diferentes de fechaduras sendo destrancadas, abrindo somente uma parte da porta suficiente para ver o corpo do gigante de meia idade a sua frente que bloqueava qualquer visão do interior do apartamento. Taehyung levantou os olhos para o rosto hostil que lhe recebeu e acenou com um sorriso amigável – gostava de como esse simples gesto irritava os blocos de gelo inexpressivos com quem trabalhava.

– Você é o Bincend? – perguntou olhando-o de cima a baixo tentando encaixar a pessoa a sua frente na reputação que o precedia.

Taehyung controlou seu revirar de olhos, mas foi impossível conter o suspiro impaciente depois de uma pronúncia tão errada de seu pseudônimo.

– A pronúncia correta é Vincent, como o pintor.

O grunhido impaciente do outro indicava que ele não sabia quem era o pintor e nem ligava.

– Chame-o só de V, pai – respondeu Namjoon passando por baixo do braço do pai e puxando o mais novo para um abraço apertado suficiente para compensar os anos sem se ver. – Quando tempo! E pensar que depois de hoje vou ficar mais algum tempo sem te ver de novo.

O sorriso imenso de Taehyung tomava maior parte de seu rosto tamanha sua felicidade pelo reencontro com seu melhor amigo de infância, mas ao espiar por sobre o ombro do amigo o “trabalho" que lhe aguardava seu sorriso morreu e suas expressões se tornaram sombrias, como sempre aconteceria antes de lidar com aquilo.

– Não vai me apresentar ao seu outro amigo?

A alegria de Namjoon também se desfez e seu rosto endureceu para tratar do real motivo do reencontro. Os três homens encararam o cadáver jogado no meio da sala com expressões variadas no rosto, sendo o pai de Kim Namjoon o com as feições menos tensas e que quebrou o silêncio do ambiente.

– A altura e o peso dele batem perfeitamente com o Joon. O vagabundo não tem família, nem amigos ou trabalho para notarem sua falta.

– Tinham de matá-lo aqui? – perguntou secamente com a voz carregada reprovação ao notar o pequeno caos no minúsculo apartamento.

Mister StalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora